sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

A Voz do Silêncio - Primeiro Fragmento

A Voz do Silêncio
Helena Blavatsky


Primeiro Fragmento - A Voz do Silêncio

Estas instruções são para aqueles que não conhecem os perigos dos Iddhi 1 inferiores.

Aquele que quiser ouvir a voz de Nada 2, o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana 3.

Tendo-se tornado indiferente aos objetos da percepção, deve o aluno procurar o Raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele que acorda a ilusão.

A Mente é a grande assassina do Real.

Que o discípulo mate o assassino.

Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um - o som interior que mata o exterior.

Então, e só então, abandonará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro.

Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne tornados cegos a toda a ilusão.

Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) tem de se tornar surda aos rugi dos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro.

Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao Falador Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro ao espírito do escultor.

Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se.

E então ao ouvido interior falará

A Voz do Silêncio

e dirá:

Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida; se a tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e de matéria; se a tua Alma chora dentro do seu castelo de ilusão; se a tua Alma se esforça por quebrar o fio de prata que a liga ao Mestre 4; sabe, ó discípulo, que a tua Alma é da terra.

Quando ao tumulto do mundo a tua Alma 5 que desabrocha dá ouvidos; quando à voz clamorosa da grande ilusão 6 a tua Alma responde; quando se assusta ao ver as lágrimas quentes da dor, quando a ensurdecem os gemidos da angústia, quando a Alma se retira, como a tartaruga tímida, para dentro da concha da personalidade, sabe, ó discípulo, que do seu Deus silencioso a tua Alma é um sacrário indigno.

Quando, já mais forte, a tua Alma vai saindo do seu retiro seguro; quando, deixando o sacrário protetor, estende o seu fio de prata e avança; quando, ao contemplar a sua imagem nas ondas do espaço, ela murmura, “Isto sou eu” - declara, ó discípulo, que a tua Alma está presa nas teias da ilusão 7.

Esta terra, discípulo, é a sala da tristeza, onde existem, pelo caminho das duras provações, armadilhas para prender o teu Eu na ilusão chamada “a grande heresia” 8.

Esta terra, ó discípulo ignaro, não é senão a triste entrada para aquele crepúsculo que precede o vale da verdadeira luz - essa luz que nenhum vento pode apagar, e que arde sem óleo nem pavio.

Diz a grande Lei: “Para te tornares o conhecedor da Personalidade Total 9, tens primeiro de conhecer a Personalidade”.

Para chegares ao conhecimento dessa Personalidade, tens de abandonar a personalidade à não-personalidade, o ser ao não-ser, e poderás então repousar entre as asas da Grande Ave.

Sim, suave é o descanso entre as asas daquilo que não nasce, nem morre, mas é o AUM 10 através de eras eternas 11.

Cavalga a Ave da Vida, se queres saber 12. Abandona a tua vida, se queres viver 13.

Três salas, ó cansado peregrino, conduzem ao fim dos trabalhos.

Três salas, ó conquista dor de Mara, te trarão através de três estados 14 até ao quarto 15, e daí até aos sete mundos 16, os mundos do descanso eterno.

Se queres saber os seus nomes, escuta-os e aprende-os.

O nome da primeira sala é Ignorância - Avidya.

É a sala em que viste a luz, em que vives e hás de morrer 17.

O nome da segunda sala é a Sala da Aprendizagem 18.

Nela a tua Alma encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma serpente enrolada 19.

O nome da terceira sala é Sabedoria, para além da qual se estende o mar sem praias de Akshara, a fonte indestrutível da onisciência 20 .

Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que o teu espírito não tome os fogos da luxúria que ali ardem pela luz do sol da vida.

Se queres atravessar seguramente a segunda, não pares a aspirar o perfume das suas flores embriagantes.

Se queres ver-te livre das peias cármicas, não procures o teu Guru nessas regiões mayávicas.

Os sábios não se demoram nas regiões de prazer dos sentidos.

Os sábios não dão ouvidos às vozes musicais da ilusão.

Procura aquele, que te dará o ser 21, na Sala da Sabedoria, a sala que está para além, onde todas as sombras são desconhecidas e onde a luz da verdade brilha como uma glória imorredoura.

Aquilo que é incriado está dentro de ti, discípulo, assim como está naquela sala.

Se queres possuí-lo, e unir as duas coisas, tens de despir os teus negros trajes de ilusão.

Abafa a voz da carne, não deixes que qual quer imagem dos sentidos se entreponha entre a sua luz e a tua, para que assim as duas se fundam em uma.

E, tendo aprendido a tua Ajnana 22, abandona a Sala da Aprendizagem.

Essa sala é perigosa pela sua beleza pérfida, e só é precisa para a tua provação.

Acautela-te Lanu, não vá a tua Alma, entontecida pelo brilho ilusório, demorar-se e enredar-se na sua luz enganadora.

Esta luz brilha na jóia do grande enganador (Mara) 23.

Enfeitiça os sentidos, cega o espírito e deixa o descuidado naufragado e sozinho.

A borboleta atraída para a chama da tua lâmpada noturna está condenada a ficar mor ta no azeite.

A alma incauta, que não pode defrontar-se com o demônio escarninho da ilusão, voltará ao mundo escrava de Mara.

Olha as hostes das Almas.

Vê como elas pairam sobre o mar tempestuoso da vida humana, e como, exaustas, sangrando, de asas quebradas, caem, uma após outra, nas ondas encapeladas.

Batidas pelos ventos ferozes, perseguidas pelos vendavais, são arrastadas para os sorvedouros e somem-se pelo primeiro grande vértice que encontram.

Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao vale da felicidade, fecha, discípulo, os teus sentidos à grande e cruel heresia da separação, que te afasta dos outros.

Que aquilo que em ti é de origem divina não se separe, engolfando-se no mar de Maya 24, do Pai Universal (a Alma), mas que o Poder de Fogo 25 se retire para a câmara interior, a câmara do coração 26, e o domicílio da Mãe do Mundo 27.

Então do coração esse poder subirá até à sexta região, à região média, ao lugar entre os teus olhos, quando se toma a respiração da Alma-Única, a voz que enche tudo, a voz do seu Mestre.

É só então que te podes tornar um “que anda nos céus” 28, que pisa os ventos por cima das ondas, cujo passo não toca nas águas.

Antes que ponhas o pé sobre o degrau superior da escada, da escada dos sons místicos, tens de ouvir de sete maneiras a voz do teu Deus interior 29.

A primeira é como a voz suave do rouxinol cantando à sua companheira uma canção de despedida.

A segunda vem como o som de um címbalo de prata dos Dhyanis, acordando as es trelas lucilantes.

A terceira é como o lamento melodioso de um espírito do oceano prisioneiro na sua concha.

E a esta segue-se o canto da vina 30.

A quinta, como o som de uma flauta de bambu, grita aos teus ouvidos.

Muda depois para um clamor de trompa.

A última vibra como o rumor surdo de uma nuvem de trovoada.

A sétima absorve todos os outros sons. Eles morrem, e não tornam a ouvir-se.

Quando os seis 31 estão mortos e postos aos pés do mestre, então se entrega o aluno no Único 32, se torna esse Único e nele vive.

Antes que possas entrar para esse caminho, tens de destruir o teu corpo lunar 33, e limpar o teu corpo mental 34, assim como o teu coração.

As águas puras da vida eterna, límpidas e cristalinas, não podem misturar-se com as torrentes lamacentas da tempestade de monção.

O orvalho do céu brilhando ao primeiro raio do sol no coração do lótus, quando cai na terra torna-se uma, gota de lama; vede como a pérola se tornou uma porção de lodo.

Luta com os teus pensamentos desonestos antes que eles te dominem. Trata-os como eles te querem tratar, porque, se os poupas, criarão raízes e crescerão, e repara, esses pensamentos dominarte-ão até que te matem. Acautela-te, discípulo, não deixes aproximar-se mesmo a sua sombra. Porque ela crescerá, aumentará em tamanho e poder, e então essa coisa escura observará o teu ser antes que te apercebas da presença do monstro hediondo e negro.

Antes que o poder místico 35 te possa fazer um Deus, Lanu, deves ter adquirido a faculdade de matar, quando quiseres, a tua forma lunar.

A pessoa da matéria e a Pessoa do Espírito nunca se podem encontrar.

Uma delas tem de desaparecer; não há lugar para ambas.

Antes que a mente da tua Alma possa compreender, deve a flor da personalidade ser esmagada em botão, e o verme dos sentidos destruído até não poder ressurgir.

Não podes caminhar no Caminho enquanto não te tornares, tu próprio, esse Caminho 36.

Que a tua Alma dê ouvidos a todo o grito de dor como a flor de lótus abre o seu seio para beber o sol matutino.

Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor antes que a tenhas limpado dos olhos de quem sofre.

Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração e aí fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.

Estas lágrimas, ó tu de coração tão compassivo, são os rios que irrigam os campos da caridade imortal. É neste terreno que cresce a flor noturna de Buda 37, mais difícil de achar, mais rara de ver, do que a flor da árvore Vogay. É a semente da libertação do renascer. Ela isola o Arhat tanto da luta como da lu xúria, leva-o através dos campos do ser para a paz e a felicidade que só se conhecem na terra do silêncio e do não-ser.

Mata o desejo; mas se o matares, cuida bem em que ele não renasça da morte.

Mata o amor da vida; mas se matares Tanha 38, que isso não seja pela ânsia da vida eterna, mas para substituir o evanescente pelo eterno.

Não desejes nada. Não te indignes contra o Carma, nem contra as leis imutáveis da natureza. Mas luta apenas com o pessoal, o transitório, o evanescente e o que tem de perecer.

Auxilia a natureza e trabalha com ela; e a natureza ter-te-á por um dos seus criadores, obedecendo-te.

E ela abrirá de par em par diante de ti as portas das suas câmaras secretas, desnudará ao teu ornar os tesouros ocultos nas profundezas do seu seio virgem. Impoluída pela mão da matéria, ela revela os seus tesouros apenas aos olhos do Espírito - os olhos que nunca se fecham, os olhos para os quais não há véu em todos os seus remos.

Então ela te mostrará o meio e a senda, a primeira porta, e a segunda, e a terceira, até à própria sétima porta. E então a meta, para além da qual estão, banhadas pelo sol do Espírito, glórias indizíveis, que só o olhar da Alma pode ver.

Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz, como o riso e soluço do chacal depois do sol se por; os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão consigo, como um escravo cativo.

Mata os teus desejos, Lanu; torna os teus vícios impotentes, até dares o primeiro passo na jornada solene.

Estrangula os teus pecados, torna-os mudos para sempre, antes que ergas um pé para subir a escada.

Faze calar os teus pensamentos e concentra toda a tua atenção sobre o teu Mestre, que tu por enquanto não vês, mas sentes.

Funde num só sentido todos os teus sentidos, se queres tomar-te seguro contra o inimigo. É só por aquele sentido que está oculto no vácuo do teu cérebro, que o caminho íngreme que conduz ao teu Mestre se pode revelar aos olhos indecisos da tua, Alma.

Longa e fatigante é a senda ante ti, ó discípulo. Um único pensamento a respeito do passado que abandonaste puxar-te-á para baixo, e terás novamente de começar a ascensão.

Mata em ti toda a recordação de experiências passadas. Não te voltes para trás ou estás perdido.

Não creias que a luxúria pode alguma vez ser morta se é satisfeita ou saciada, porque isso é uma abominação inspirada por Mara.

É alimentando o vício que ele se expande e torna forte, como o verme que se alimenta no seio da flor.

A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste paterna, antes que o para sita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.

A árvore dourada dá flores de jóia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.

O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido.

A luz do único Mestre, a única, eterna, luz dourada do Espírito, derrama os seus raios fulgurantes sobre o discípulo desde o princípio. Os seus raios atravessam as nuvens espessas e pesadas da matéria.

Ora aqui, ora ali, esses raios iluminam-na, como os raios do sol iluminam a terra através das espessas folhas da floresta. Mas, ó discípulo, a não ser que a carne seja passiva, a cabeça lúcida, a Alma firme e pura como um diamante que cintila, o fulgor não chegará à câmara, a sua luz do sol não aquecerá o coração, nem os sons místicos das alturas akashicas 39 chegarão ao ouvido, por atento que ele esteja, no estágio inicial.

A não ser que ouças, não poderás ver.

A não ser que vejas, não poderás ouvir. Ouvir e ver, eis o segundo estágio.

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Quando o discípulo vê e ouve, e quando cheira e gosta, com os olhos fechados, os ouvidos fechados, tapados o nariz e a, boca; quando os quatro sentidos se fundem e estão prontos a tornar-se o quinto, aquele do tato interior - então passou ele para o quarto estágio.

E no quinto, á matador dos teus pensamentos, todos estes têm de ser outra vez mortos até não ser possível reanimarem-se 40.

Retira a tua mente de todos os objetos externos, de todas as vistas externas. Retira as imagens internas, para que não lancem uma sombra negra sobre a luz da tua Alma.

Estás agora em Dharana 41, o sexto estágio.

Quando tiveres passado para o sétimo, ó bem-aventurado, não mais verás os Três sagrados 42, porque te terás, tu próprio, tornado esses Três. Tu próprio e a mente, como gêmeos sobre uma linha, a estrela que é o teu guia brilha por cima, nas alturas 43. Os Três que moram na glória e na felicidade inefáveis, agora perderam os seus nomes no mundo de Maya. Tornaram-se uma só estrela, o fogo que arde mas não queima, o fogo que é o Upadhi 44 da chama.

E isto, ó iogue do sucesso, é aquilo a que os homens chamam Dhyana 45, o verdadeiro precursor do Samadhi 46.

E agora a tua personalidade está perdida na Personalidade, tu para contigo próprio imerso naquela Personalidade de onde primeiro irradiaste.

Onde está a tua individualidade, Lanu, onde está o próprio Lanu? É a fagulha perdida no meio do fogo, a gota dentro do oceano, o raio de luz sempre presente tornado o Todo e o fulgor eterno.

E agora, Lanu, tu és o agente e a testemunha, o que irradia e a irradiação, a luz no som, e o som na luz.

Conheces, ó bem-aventurado, os cinco impedimentos. Tu és o seu conquistador, o mestre do sexto, libertador dos quatro modos da verdade 47 - A luz que cai sobre eles brilha de ti, à tu que foste discípulo, mas agora és professor.

E destes modos da verdade:

Não atravessaste tu o conhecimento de toda a dor - primeira verdade?

Não venceste tu o rei dos Maras em Tsi, a porta da reunião 48 - segunda verdade?

Não destruíste tu o pecado à terceira por ta, atingindo a terceira verdade?

Não entraste tu para Tau, o caminho que leva ao conhecimento 49 a quarta verdade?

E agora, descansa sob a árvore de Bodhi, que é a perfeição de todo o conhecimento, porque, sabe-o, és possuidor de Samadhi - o estado da visão infalível.

Vê! tornaste-te a luz, tornaste-te o som, és o teu Mestre e o teu Deus. Tu próprio és o objeto da tua busca: a voz sem falha, que ressoa através de eternidades, isenta de mudança, isenta de pecado, os sete sons em um,

A Voz do Silêncio.

Om Tat Sat.


sábado, 21 de dezembro de 2019

Jesus Cristo segundo São João - Capítulo 07

4. JESUS É A LUZ DO MUNDO (7,1-10,42)


Falta de fé dos parentes de Jesus - 1Depois disto, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. 2Estava próxima a festa judaica das Tendas. 3Disseram-lhe então os seus irmãos: «Vai para a Judeia, a fim de os teus discípulos verem as obras que fazes. 4Pois ninguém faz nada às escondidas, se pretende tornar-se conhecido. Se fazes coisas destas, mostra-te ao mundo.» 5Com efeito, nem sequer os seus irmãos criam nele.

6E Jesus disse-lhes: «Para mim ainda não chegou o momento oportuno; mas, para vós, qualquer oportunidade é boa. 7O mundo não pode odiar-vos; a mim, porém, odeia-me, porque sou testemunha de que as suas obras são más. 8Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa, porque o tempo que me está marcado ainda não se completou.» 9Depois de dizer isto, continuou na Galileia.

10Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo. 11Por isso, durante a festa, os judeus procuravam-no e perguntavam: «Onde é que Ele está?»

12E havia entre o povo grande murmuração a seu respeito. Uns diziam: «É um homem de bem». Outros, porém, afirmavam: «Não; o que Ele anda é a desencaminhar o povo!» 13No entanto, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.


Jesus ensina no templo - 14Já a festa ia a meio, quando Jesus subiu ao templo e se pôs a ensinar. 15Os judeus assombravam-se e diziam: «Como é que este é letrado, se não estudou?» 16Então, Jesus respondeu-lhes, dizendo: «A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. 17Se alguém está disposto a fazer a vontade dele, é capaz de ajuizar se a doutrina procede de Deus, ou se Eu falo por minha conta. 18Quem fala por sua conta procura a sua glória pessoal; mas, quem procura a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro e nele não há impostura. 19Porventura Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós cumpre a Lei. Porque me quereis matar?»

20Respondeu aquela gente: «Tu tens o demónio. Quem é que te quer matar?» 21Jesus replicou-lhes: «Eu realizei uma única obra e todos estão assombrados. 22Porque Moisés vos deu a lei da circuncisão - não é que ela venha de Moisés, mas dos Patriarcas - circuncidais um homem mesmo ao sábado. 23Se um homem recebe a circuncisão ao sábado, para não ser violada a Lei de Moisés, podereis indignar-vos comigo por ter curado completamente um homem ao sábado? 24Não julgueis pelas aparências; julgai com um juízo recto.»


Discussões acerca de Jesus; as suas revelações - 25Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam, para o matar? 26Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias? 27Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.»

28Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava: «Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. 29Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou.»

30Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado. 31Porém, dentre o povo, muitos creram nele e comentavam: «Quando vier o Messias, será que há-de realizar mais sinais miraculosos do que este?» 32Tal comentário do povo a respeito dele chegou aos ouvidos dos fariseus. Então, os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para prenderem Jesus.

33Entretanto, Jesus começou a dizer: «Já pouco tempo vou ficar convosco, pois irei para aquele que me enviou. 34Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver.»

35Os judeus, por isso, disseram entre si: «Para onde tenciona Ele ir, que não o possamos encontrar? Tenciona ir até aos que estão dispersos entre os gregos para pregar aos gregos? 36Que significam estas palavras que Ele disse: ‘Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver’?»

37No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! 38Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.»

39Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.

40Então, entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.» 41Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?! 42Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?» 43Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa.

44Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: «Porque é que não o trouxestes?» 46Os guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!» 47Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seduzidos? 48Porventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus? 49Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!»

50Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: 51«Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?» 52Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.»

53E cada um foi para sua casa.



Continua...

sábado, 14 de dezembro de 2019

Corpus Hermeticum XII

CORPUS HERMETICUM
De Hermes Trismegisto


XII - SOBRE O INTELECTO COMUM (HERMES A TAT)

1 - O intelecto, ó Tat, é tirado da própria substância de Deus, quanto a saber de que natureza é a essência, Deus é o único a conhecê-la exatamente. O intelecto, então, não é tirado da substancialidade de Deus mas advém a partir desta fonte, como a luz advém a partir do Sol. Nos homens este, intelecto é Deus: também alguns entre os homens são deuses e sua humanidade é muito próxima da divindade e com efeito o Bom Gênio (Agatodemon) nomeou os deuses como "homens imortais" e os homens "deuses mortais"; nos animais sem razão o intelecto é o instinto natural.
2 Onde há alma existe intelecto da mesma forma que onde há vida, há também alma. Mas nos animais irracionais, a alma é simplesmente vida pura, sem intelecto. Pois o intelecto presta seus benefícios somente às almas dos seres humanos: os faz em vista do bem. Nos animais sem razão, coopera com o instinto natural presente em cada um deles, enquanto na alma dos humanos age de encontro ao bem. Pois toda alma assim que entra num corpo é pervertida rapidamente pela pena e pelo prazer: pois a pena e o prazer são como os humores do corpo composto e que borbulham dentro de si e nos quais a alma afunda se macula.
3 Quando as almas se deixam comandar pelo intelecto, este faz aparecer a sua luz e se opõe às suas prevenções. Da mesma forma que um bom médico faz sofrer o corpo que encontra atingido pela moléstia queimando ou cortando a parte doente, também o intelecto faz sofrer a alma retirando-a do prazer, que é o princípio de onde deriva toda moléstia da alma. Ora a grande moléstia da alma é a negação de Deus, depois a opinião errônea de onde decorrem todos os males mas nada de bom. Assim o intelecto lutando contra esta moléstia confere o bem à alma como o médico dá ao corpo a saúde.
4 Por outro lado, quando as almas humanas não obtêm o intelecto por guia, sofrem a mesma condição que as almas dos seres sem razão. O intelecto coopera com elas, deixa livre curso às concupiscências, e as almas deixam-se levar pela violência de seus apetites para essas concupiscências que tendem ao irracional, e, como os animais sem razão, não deixam de se abandonar aos movimentos irracionais da cólera e da concupiscência e jamais encontram saciedade nos seus vícios: pois os movimentos irracionais da cólera e da concupiscência são os vícios maiores. E é a essas almas que Deus impôs o governo da lei para puni-las e convencê-las do pecado.
5 - Então, ó pai, a doutrina da fatalidade, que me expusestes recentemente, corre o risco de ser invertida. Pois se foi fixado absolutamente pelo destino que um tal ou qual seja adúltero ou sacrílego, ou cometa qualquer outro crime, será castigado ainda que tenha cometido o ato estritamente sob coerção da fatalidade? - Tudo é obra da fatalidade meu filho, e sem ela, nada pode acontecer no que se refere às coisas do corpo, nada de bom nem de mau. É a fatalidade que decretou também, que aquele que fez o bem sofra as conseqüências e por esta razão, agiu com o objetivo de provar, o que ele prova é porque agiu.
6 Mas eis o suficiente e até demasiado para o momento; este não é o instante de discorrer sobre o vício e a fatalidade. Nós falamos dele noutro momento, agora é sobre o intelecto que discorremos: qual é a potência do intelecto, quais diferenças que contém em si, nos humanos de uma forma, nos animais irracionais de outra forma, e de novo, que, se nos outros viventes não produz seus bons efeitos, mas é dissemelhante em todos segundo seja irascível ou concupiscente (e entre esses viventes é preciso tomar uns por humanos em possessão do verbo e outros por humanos privados do verbo), todos os humanos por outro lado são submetidos à fatalidade, ao nascimento e à mudança: eis o princípio e o fim da fatalidade.
7 Todos os humanos, portanto, sofrem as coisas fixadas pelo destino, mas os humanos em possessão do verbo, dos quais dizemos que neles o intelecto comanda, não as sofrem da mesma maneira que os outros: como são livres do mal, não é enquanto malvados que sofrem seu destino.
- Que queres dizer com isto, ó pai? O adúltero não é mau, o assassino não é mau, e da mesma forma todos os outros? - O ser humano em possessão do verbo, meu filho, não sofrerá por ter cometido adultério, mas sofrerá como se o tivesse cometido; não é por ter matado, mas como se tivesse matado. Pois, se não é possível escapar à condição da transformação, menos ainda à do nascimento; ao vício, contrariamente, quem possui o intelecto, pode se furtar. 8 É porque, meu filho, sempre ouvi o Bom Gênio dizer - e se ele o tivesse escrito e publicado, teria prestado um grande serviço ao gênero humano; pois somente ele, meu filho, enquanto Deus primogênito, contemplou verdadeiramente todo o conjunto dos seres e por esta razão proferiu palavras divinas: eu o ouvi dizer um dia que "tudo é um, e sobretudo os seres inteligíveis; que nós vivemos pela potência, pela energia e pelo Aíòn e que o intelecto deste, que é também seu eu, é bom. Nessas condições; não possui dimensão entre os inteligíveis; conseqüentemente então, se manda nas coisas e é o eu de Deus, o intelecto possui a potência de fazer tudo o que quer:
9 reflete e aplica esta doutrina à questão que me havias proposto, isto é, sobre a fatalidade e o intelecto.
Se afastas todos os argumentos capciosos encontrarás, meu filho, o intelecto dominando as coisas, isto é, o eu de Deus, sobre a fatalidade, sobre a lei, e todo o resto; e que nada lhe é impossível, nem mesmo o estabelecimento da alma humana acima da fatalidade, nem, se esta é negligente o submetê-la ao julgo da fatalidade. Eis bem relatadas as proposições do Bom Gênio.
- Estas são palavras divinas, verdadeiras e úteis, ó pai.
10 Mas esclarece-me ainda sobre este ponto. Disseste que nos animais irracionais, o intelecto age à maneira do instinto, pois coopera com seus impulsos. Ora os impulsos dos animais irracionais são, pelo menos o suponho, paixões. Se o intelecto coopera com os impulsos e se esses impulsos são paixões, o intelecto também é uma paixão pois tem contato com as paixões?

- Bem exposto, meu filho. Eis uma excelente questão e é justo que eu a responda.
11 Todos os incorpóreos alojados em um corpo são passíveis, meu filho, e a bem dizer, são paixões. Efetivamente todo motor é incorpóreo, todo móvel é corpo; ora os incorpóreos também estão em movimento, movidos pelo intelecto e o movimento é uma paixão; de modo que um e outro são sujeitos, o motor e o móvel, pois um comanda, o outro, por ser comandado. Mas quando o intelecto é separado do corpo, separa-se também da paixão. Talvez seja melhor dizer que nada é impassível, mas que o inverso é que se verifica. A paixão difere do passível. Com efeito, uma é ativa, e outra passiva. Ora os corpos também são ativos por si mesmo. Ou são imóveis ou movidos. Num caso ou no outro existe a paixão. Quanto aos incorpóreos, sempre sofrem a ação e por isso são passíveis. Não te enganes com essas designações: ação e paixão, tudo é um. Mas não existe mal algum em se servir do termo mais favorável.
12 - Explicastes da maneira mais clara, ó pai. - Considera ainda isto, meu filho, Deus gratificou o ser humano, único entre os animais mortais, com esses dois dons: o intelecto e o verbo, que têm o mesmo valor que a imortalidade (O ser humano possui também o verbo proferido). Ora se o ser humano emprega esses dons para os fins que convém, não diferirá em nada dos imortais; uma vez liberto do corpo, será guiado por um e pelo outro para o coro dos deuses e dos bem-aventurados.
13 Os outros animais, ó pai, não se utilizam da palavra? - Não, criança, possuem apenas a voz. Ora, a palavra difere absolutamente da voz. A palavra é comum à todos os humanos, ao passo que cada espécie de animal tem sua própria voz. - Mas entre os humanos também, ó pai, a palavra não difere segundo cada raça? - Difere indubitavelmente, meu filho, mas a humanidade é apenas uma: desta forma a palavra também é uma, traduz-se de língua, e descobre-se que é a mesma no Egito, na Pérsia bem como na Grécia.
Parece-me que desconheces toda a virtude e grandeza do verbo. O Bom Gênio, deus bem- aventurado, disse: "A alma está no corpo, o intelecto na alma, o verbo no intelecto, Deus é portanto o pai de todos."
14 O verbo é portanto a imagem e o intelecto de Deus (o corpo é a imagem da idéia, a idéia e imagem da alma). O que há de mais sutil na matéria é o ar, no ar a alma, na alma o intelecto, no intelecto-Deus. Deus envolve e penetra tudo, o intelecto envolve a alma, a alma envolve o ar, o ar envolve a matéria.
A necessidade, a providência e a natureza são os instrumentos da ordem e do belo ordenamento da matéria. Entre os inteligíveis, cada um é uma essência, a sua essência é a identidade; contrariamente, entre os corpos do Todo, cada um deles é pluraridade: de fato, como os corpos compostos possuem sua identidade na transformação de um em outro, conservam indestrutível a identidade: 15 Do outro ponto de vista, em todos os corpos compostos em geral, existe um número próprio a cada um deles. Pois, sem número, é impossível a produção de combinação; composição e dissolução: essas são as unidades que engendram o número, que o aumentam e que de novo, quando se dissolve, o recebem nelas mesmas, embora a matéria permaneça única. Ora este mundo inteiro, esse grande deus, imagem do maior deus, unido a ele e conservando com ele a ordem e a vontade do Pai, é a totalidade da vida: não há nada nele através de toda eterna duração do giro cíclico desejado pelo Pai, nem em sua universidade nem em suas partes, que não esteja viva. Nunca existiram coisas mortas, não existem, nem virão a existir no mundo. É vivo que o Pai quis fosse, o mundo, tanto tempo faz que guarda a coesão: logo, o mundo é necessariamente deus.
16 Como poderia então, meu filho, nesse que é deus, nesse que é a imagem de Todo, nesse que é o pleroma da vida, existir coisa morta? Pois a morte é corrupção e a corrupção é destruição. Como supor que se corrompe uma parte desse que é incorruptível ou que seja destruída qualquer coisa de Deus?
- Os viventes que estão no mundo não morrem, meu pai, ainda que sejam partes do mundo? - Cala-te, minha criança, pois te deixas induzir em erro pela denominação do fenômeno. Pois os viventes não morrem, meu filho, mas, sendo corpos compostos se dissolvem: ora esta dissolução não é morte, mas dissolução de uma mistura. E se eles se dissolvem, não é para serem destruídos, mas para serem renovados. Qual é com efeito a energia da vida? Não é o movimento? O que existe no mundo que seja imóvel meu filho? Nada, meu filho.
17 - Mas a terra não te parece imóvel, ó pai? - Não, filho; contrariamente, de todos os seres, ela é a única sujeita a uma série de movimentos e ao mesmo tempo estável. Como não seria ridículo supor imóvel a esta nutriz de todos os seres, aquela que faz nascer e gera as coisas? Sem movimento é impossível àquele que faz nascer, fazer nascer seja lá o que for. É realmente ridículo perguntar, como fazes, se a quarta parte do mundo pode ser inerte, pois ser imóvel para um corpo não abriga outro sentido que ser inerte.
18 Saiba então, criança, que tudo o que está no mundo, tudo sem exceção, está em movimento, seja por diminuir, seja por creseer. Ora o que está em movimento também está em vida, mas não há necessidade que todo ser vivente conserve sua identidade. Pois sem dúvida, considerado na totalidade de seu conjunto o mundo é imutável, minha criança, mas as partes desse mundo são todas mutáveis, sem que nada por isso pereça ou seja destruído: são esses termos apenas que turbam os nossos espíritos. Pois não é o fato de nascer que é a vida, mas a consciência, e a transformação não é a morte, mas esquecimento. Se é desta forma, então todos esses elementos são imortais, a matéria, a vida, o sopro, o intelecto, de que se compõe cada vivente.
19 Todo vivente é portanto imortal pelo intelecto. Mas o mais imortal de todos é o ser humano, pois é capaz de receber Deus e de entrar em união com Deus. É com este único vivente que Deus se comunica, durante a noite em meio aos sonhos, durante o dia através de presságios, e lhe prediz o futuro por toda uma variedade de meios, pelos pássaros, pelas entranhas das vítimas, pela inspiração, pelo carvalho. De modo que o ser humano também se esforça em conhecer o passado, o presente e o futuro.
20 E veja isto, ainda, criança, que cada um dos animais freqüenta apenas uma parte do universo, os animais aquáticos, a água; os animais terrestres, a terra; os voláteis, o ar; o ser humano contrariamente tem relação com todas as partes igualmente, a terra, a água, o ar, o fogo e mesmo o céu, ele o vê e entra em contato com o mesmo através da sensação. Deus envolve a tudo e penetra em tudo porque é energia e potência. E não existe nada de difícil em conceber Deus, meu filho.
21 E se queres contemplá-lo, vê o belo arranjo do mundo e a bela ordem desse arranjo. Vê a necessidade de tudo o que se oferece à nossa vista e a providência que regula as coisas do passado e as que se produzem hoje. Vê como a matéria é plena de vida. Vê esse deus imenso em movimento com todos os seres que contém, bons e belos, os deuses, os daimons, os humanos. - Mas tudo isto, ó pai, é energia. - Admitamos que existam apenas energias, criança, por quem estas energias são colocadas em ato? Por um outro deus? Não vês que como são partes do mundo o céu, a água, a terra e o ar, da mesma forma são membros de Deus a vida, a imortalidade, a necessidade, a providência, a natureza, a alma, e o intelecto, e que é a permanência de todas essas coisas que se chama Bem? E que não existe absolutamente nada, nem nas coisas atuais, nem passadas, onde Deus não esteja presente?
22 - Deus é na matéria, ó pai? - Supõe meu filho que a matéria exista separada de Deus, que lugar vais destinar-lhe, ó meu filho? E que acreditas que ela seja além de uma massa confusa, enquanto não é utilizada? E se é utilizada, por quem o é? Pois as energias que operam, nós o dissemos, são partes de Deus. Por quem então são vivificados todos os seres viventes? Por quem são imortalizados os seres imortais? Quem produz as mudanças nos seres mutáveis? Quando falas da matéria, ou do corpo, ou da substância, sabes que essas são energias de Deus, energia da matéria, a materialidade; energia dos corpos, a corporalidade; energia da substância, a substancialidade; e Deus é isto, o Todo. 23 No Todo nada há que Deus não seja. Logo nenhum destes predicados pode ser atribuído a Deus: grandeza, lugar, qualidade, forma, tempo; pois Deus é tudo; e o Todo penetra as coisas e as envolve. Adora esse Verbo e presta-lhe culto. E só existe um modo de cultuar a Deus: não ser mau.

Continua...

sábado, 7 de dezembro de 2019

Reflexão Casual LXXX‏‏V‏I‏I‏I



"Somos extensão do cosmo aqui na terra, podendo ou não está em unidade com o universo, pois pelo despertar da consciência é que transcendemos ao criador em harmonia com toda a criação."

Paulinopax