sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A Voz do Silêncio - Segundo Fragmento

A Voz do Silêncio
Helena Blavatsky


Segundo Fragmento – Os Dois Caminhos

E AGORA, ó Mestre da compaixão, ensina tu o caminho aos outros homens. Olha, todos aqueles que, batendo para que os admitam, esperam na ignorância e na escuridão ver abrir-se a porta da suave Lei!

A voz dos candidatos:

Não quererás tu, Mestre da tua própria misericórdia, revelar a doutrina do coração 50? Recusar-te-ás a conduzir os teus servos até ao Caminho da libertação?

Diz o mestre:

Os caminhos são dois; as grandes perfeições três; seis as virtudes que transformam o corpo na árvore da sabedoria 51.

Quem se aproximará delas? Quem primeiro entrará para elas?

Quem primeiro ouvirá a doutrina dos dois caminhos em um, a verdade sem véu a respeito do Coração Secreto 52? A lei que, rejeitando o aprender, ensina a sabedoria, revela uma história de dor.

Ai de nós, ai de nós, que todos os homens possuam Alaya, sejam unos com a grande Al ma, e que, possuindo-a, Alaya de tão pouco lhes sirva!

Repara como, qual a lua se reflete nas ondas tranqüilas, Alaya é refletida pelos peque nos e pelos grandes, espelhado nos átomos ínfimos, e contudo não consegue chegar ao coração de todos. Ai de nós, que tão poucos sejam os homens que se aproveitem do dom, do dom sem preço, de aprender a verdade, a verdadeira percepção das coisas existentes, o conhecimento do não-existente!

Diz o aluno:

Ó Mestre, que farei eu para atingir a sabedoria? Ó Sábio, que farei para conseguir a perfeição?

Procura os caminhos. Mas, ó Lanu, sê puro de coração antes que comeces a tua jornada. Antes que dês o primeiro passo, aprende a separar o real do falso, o transitório do eterno. Aprende sobretudo a separar a ciência da cabeça da sabedoria da Alma, a doutrina dos “olhos” da doutrina do “coração”.

Sim, a ignorância é como uma vasilha fechada e sem ar; a Alma uma ave dentro dela. Não canta, nem pode mexer uma pena; mas jaz num torpor e morre de não poder respirar.

Mas mesmo a ignorância é melhor do que a ciência de cabeça sem a sabedoria de Alma para a iluminar e guiar.

As sementes da sabedoria não podem germinar e crescer no espaço sem ar. Para viver e comer experiência, o espírito precisa espaço e profundidade e pontos que o guiem para a Alma de Diamante 53. Não procures esses pontos no reino de Maya; mas ergue-te acima das ilusões, busca o eterno e imutável Sat 54, desconfiando das falsas sugestões de fantasia.

Porque a mente é como um espelho; cobre-se de pó ao mesmo tempo que reflete 55. Precisa que as brisas leves da sabedoria de Alma limpem o pó das nossas ilusões. Procura, ó principiante, fundir a tua mente e a tua Alma.

Afasta-te da ignorância e da ilusão também. Vira o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles mentem. Mas dentro do teu corpo - escrínio das tuas sensações - procura no impessoal o Homem Eterno 56 e, tendo-o procurado, olha para dentro; tu és Buda 57.

Rejeita o aplauso, ó crente; o aplauso conduz à ilusão de si próprio. O teu corpo não é Personalidade, a tua Personalidade é, em si, sem corpo, e o elogio ou a censura não a atingem.

O contentamento de si próprio, ó discípulo, é uma torre altíssima, à qual um insensato orgulhoso subiu. Ali se senta em orgulhosa solidão, invisível a todos, salvo a si próprio.

A falsa ciência é rejeitada pelos sábios, e espalhada aos ventos pela Boa Lei. A sua roda gira para todos, tanto para os humildes como para os orgulhosos. A doutrina dos olhos é para a multidão; o doutrina do coração para os eleitos. Os primeiros repetem, orgulhosos: “Vede, eu sei”; os últimos, aqueles que humildemente fizeram a sua colheita, confessam em voz baixa: “Assim ouvi” 58.

“A Grande Joeira” é o nome da Doutrina do Coração, ó discípulo.

A roda da Boa Lei gira rapidamente. Noite e dia mói. Afasta o joio do trigo dourado, e a casca da farinha. A mão do Carma guia a roda; as rotações marcam o bater do coração cármico.

O verdadeiro conhecimento é a farinha, a falsa ciência é a casca. Se queres comer o pão da sabedoria, tens de amassar a tua farinha com a água límpida de Amrita 59. Mas, se amas sas cascas com o orvalho de Maya, só podes criar alimento para as pombas negras da mor te, as aves da nascença, da decadência e da tristeza.

Se te disserem que para te tornares Arhan tens de deixar de amar todas as coisas - dize-lhes que mentem.

Se te disserem que para te libertares tens de odiar a tua mãe e desprezar o teu filho; de renegar o teu pai e chamar-lhe dono de casa 60; de renunciar toda a compaixão pelos homens e pelos animais - dize-lhes que as suas palavras são falsas.

Assim ensinam os Tirthikas 61, os descrentes.

Se te ensinarem que o pecado nasce da ação e a felicidade da inação absoluta, dize-lhes que se enganam. A não-permanência da ação humana, a libertação da mente da sua escravidão pela cessação do pecado e das culpas não são coisas para os Eus Devas 62. Assim reza a doutrina do coração.

O Dharma 63 dos olhos é a corporização do externo e do não-existente.

O Dharma do coração é a corporização de Bodhi 64, o eterno e o permanente.

A lâmpada brilha bastante quando estão limpos pavio e óleo. Para limpá-los é preciso quem os limpe. A chama não sente o processo de limpeza. “Os ramos de uma árvore são sacudidos pelo vento; o tronco fica imóvel”.

Tanto a ação como a inação podem caber em ti; o teu corpo agitado, a tua mente tranqüila, a tua Alma límpida como um lago de montanha.

Queres tu tornar-te um iogue do círculo do tempo? Então, ó Lanu:

Não creias que sentando-te em florestas escuras, em orgulhosa reclusão, longe dos homens; não creias que a vida alimentada a plantas e raízes, saciada a sede com a neve da. grande Cordilheira - não creias, ó devoto, que isto te levará à meta da libertação final.

Não julgues que o partir dos ossos, o rasgar da carne e dos músculos, te unirá à tua Personalidade silenciosa 65. Não julgues que quando estão vencidos os pecados da tua for ma grosseira, ó vítima das tuas sombras 66, o teu dever está cumprido para com a natureza e com os homens.

Os bem-aventurados não quiseram fazer assim. O Leão da Lei, o Senhor da Misericórdia 67, percebendo a verdadeira causa da dor humana, imediatamente abandonou o repouso suave mas egoísta das solidões sossegadas. De Aranyaka 68 tornou-se o Mestre da humanidade. Depois de Julai 69 ter entrado para o Nirvana, ele pregou em montanhas e planícies, fez sermões nas cidades, aos Devas, aos homens e aos Deuses 70.

Semeia boas ações e colherás o seu fruto. A inação num ato de misericórdia passa a ser a ação num pecado mortal.

Assim diz o Sábio:

Por que queres abster-te da ação? Não é assim que a tua Alma conseguirá a sua liberdade. Para chegar ao Nirvana é preciso chegar ao conhecimento de Si próprio, e o conhecimento de Si próprio é filho de ações caridosas.

Tem paciência, candidato, como quem não teme falhar, nem procura triunfar. Fixa o olhar da tua Alma na estrela cujo raio és 71, a estrela chamejante que brilha nas profundezas sem luz do ser eterno, nos campos sem limite do desconhecido.

Tem perseverança, como aquele que tem de sofrer eternamente. As tuas sombras vivem e desaparecem 72; aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti conhece (porque é o conhecimento) não é da vida transitória; é o Homem que foi, que é, e que há de ser, para quem a hora nunca soará.

Se queres colher a suave paz e o descanso, discípulo, semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores da nascença.

Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem por fim o tecido glorioso das três vestes do Caminho 73.

Essas vestes são: Nirmanakaya, Sambhogakaya, e Dharmakaya, traje sublime.

A veste Shangna, 74 é certo, pode comprar a luz eterna. A veste Shangna, por si só, dá o Nirvana da destruição; pára o renascer, mas, ó Lanu, também mata a compaixão. Os Budas perfeitos, que vestem a glória do Dharmakaya, já não podem contribuir para a salvação humana. Ai de nós! Devem as personalidades ser sacrificadas a uma só? Deve a humanidade ser sacrificada ao bem de indivíduos?

Aprende, ó principiante, que este é o caminho aberto, o caminho para a felicidade egoísta, evitado pelos Bodhisattvas do Coração Secreto, os Budas da Compaixão.

Viver para servir a humanidade é o primeiro passo. Praticar as seis virtudes gloriosas 75 é o segundo.

Vestir a veste humilde do Nirmanakaya é rejeitar para si a felicidade eterna, para poder auxiliar a salvação humana. Chegar à felicidade do Nirvana, mas renunciar a ela, é o passo supremo, final - o mais alto no caminho da renúncia.

Aprende, ó discípulo, que é este o caminho secreto, escolhido pelos Budas da perfeição, que sacrificaram a sua Personalidade a personalidades mais fracas.

Mas, se a doutrina do coração é alta de mais para ti, se precisas te auxiliar a ti próprio e receias oferecer auxílio aos outros - então, tu de coração tímido, acautela-te a tempo; contenta-te com a doutrina ocular da Lei. Continua esperando. Porque se o Caminho Secreto não é atingível hoje, amanhã 76 estará ao teu alcance, Aprende que não há es forço, por pequeno que seja quer no bom sentido, quer no mau - que possa perder-se e desaparecer no mundo das causas. Mesmo o fumo dado ao vento não é sem rastro. “Uma palavra brusca dita em vidas passadas não se perde, mas renasce sempre” 77. A pimenteira não produz rosas, nem a estrela de prata do jasmim se torna espinho ou cardo.

Podes criar hoje tuas oportunidades de amanhã. Na Grande Jornada 78, as causas semeadas cada hora produzem cada qual a sua colheita de efeitos, porque uma justiça inalterável rege o mundo. Com o vasto alcance de ação infalível ela traz aos mortais vida de alegria ou de angústia, a prole cármica dos nossos pensamentos e ações anteriores.

Aceita, pois, tanto quanto o mérito te reserva, ó de coração paciente. Anima-te e contenta-te com a sorte. Tal é o teu Carma, o Carma do ciclo dos teus nascimentos, o destino daqueles que, na sua dor e tristeza, nascem a ti ligados, riem e choram de vida a vida, presos às tuas ações anteriores.

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Age tu por eles hoje, e eles agirão por ti amanhã.

É do botão da renúncia da sua própria personalidade que nasce o fruto doce da libertação final.

Condenado a perecer é aquele que por me do de Mara deixa de auxiliar os homens, receando agir em proveito próprio. O peregrino que quer refrescar os seus membros lassos em águas correntes, mas não mergulha por medo à corrente, arrisca-se a morrer de calor. A inação baseada no medo egoísta não pode dar senão mau fruto.

O devoto egoísta vive inutilmente. Vive em vão o homem que não realiza na vida a obra para que nasceu.

Segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a tua raça e os do teu sangue, para com o amigo e o inimigo, e fecha a tua mente tanto aos prazeres como à dor. Esgota a lei da retribuição cármica. Adquire siddhis 79para o teu nascimento futuro.

Se não podes ser o sol, sê então o humilde planeta. Sim, se te é impossível brilhar como o sol do meio-dia sobre o monte nevado da pureza eterna, então escolhe, ó neófito, uma carreira mais humilde.

Aponta o caminho - por vagamente que o faças, e perdido entre a multidão - como a estrela da tarde àqueles que caminham pela escuridão.

Olha Migmar 80, quando nos seus véus carmesins o seu olhar se derrama sobre a Terra que dorme. Olha a aura de fogo da mão de Lhagpa 81 estendida com amorosa proteção por sobre as cabeças dos seus ascetas. Ambos são agora servos de Nyima 82, ficando, na sua ausência, como sentinelas silenciosas na noite. Foram, contudo, em kalpas passados, Nyimas brilhantes, e talvez em dias futuros se tornem outra vez dois sóis. Tais são as descidas e subidas da lei cármica na natureza.

Sê, ó Lanu, como eles. Dá luz e conforto ao peregrino cansado, e procura aquele que sabe ainda menos do que tu; que na sua desolação miserável está faminto do pão da sabedoria e do pão que alimenta a sombra, sem Mestre, esperança ou consolação, e fá-lo ou vir a Lei.

Dize-lhe, ó candidato, que aquele que faz do orgulho e do egotismo servos da devoção; que aquele que, tenaz da sua existência, em todo o caso depõe a sua paciência e submissão à Lei como uma flor aos pés de Shakya-Thub-pa 83, se torna um Srotapatti 84 neste nascimento. Os Siddhis da perfeição podem ainda estar longe, muito longe; mas está dado o primeiro passo, ele entrou para o rio, e pode adquirir a visão da águia das montanhas, o ouvido da tímida corça.

Dize-lhe, ó aspirante, que a verdadeira devoção pode tornar a dar-lhe o conhecimento, aquele conhecimento que era seu nas suas vidas anteriores. A visão dévica e o ouvido dévico não se podem obter em uma breve vida.

Sê humilde, se queres adquirir a sabedoria: sê mais humilde ainda, quando a tiveres adquirido.

Sê como o oceano, que recebe todos os rios e riachos. A calma imensa do oceano não se perturba; recebe-os e não os sente.

Domina o teu ser interior com o teu ser divino. Domina o divino com o eterno.

Sim, grande é aquele que mata o desejo: maior ainda é aquele em quem a divina Personalidade matou o próprio conhecimento do desejo.

Põe-te de guarda ao inferior, para que não macule o superior.

O caminho para a libertação final está dentro da tua personalidade. Esse caminho começa e acaba fora da personalidade 85.

Sem elogios de todos os homens e humilde é a mãe de todos os rios na vista orgulhosa de Tirthika 86; vazia a forma humana, ainda que cheia das águas suaves de Amrita ao olhar dos insensatos. E, contudo, a origem dos rios sagrados é a terra sagrada 87, e aquele que possui a. sabedoria é respeitado por todos os homens.

Arhans e Sábios da visão ilimitada 88 são raros como a flor da árvore Udumbara. Os Arhans nascem à meia-noite, com a planta sagrada de nove e sete caules 89, a flor sagrada que desabrocha e floresce na escuridão, saída do orvalho puro e do leito gelado das alturas nevadas, alturas que nenhum pé pecador pisou.

Nenhum Arhan, ó Lanu, se torna um naquela vida em que pela primeira vez a Alma começa a ansiar pela libertação final. E, contudo, ó ansioso, a nenhum guerreiro oferecendo-se voluntariamente para a terrível luta entre o vivo e o morto 90, a nenhum recruta pode ser recusado o direito de entrar no caminho que conduz ao campo de batalha.

Porque ou vence ou cai.

Sim, se vence, o Nirvana será seu. Antes de abandonar a sua sombra, de enjeitar a sua veste mortal, essa causa abundante de angústia e de dor ilimitável, os homens honrarão nele um Buda grande e sagrado.

E se cai, mesmo assim não cai em vão; os inimigos que abateu na última batalha não tornarão a viver na sua próxima encarnação.

Mas, se queres chegar ao Nirvana, ou rejeitar esse prêmio 91, não deixes o fruto da ação e da inação ser o teu motivo, ó de coração indômito.

Aprende que ao Bodhisattva que troca a libertação pela renúncia para vestir as angústias da vida secreta 92, chama-se três vezes venerado, ó candidato à dor através dos ciclos.

O Caminho é um, discípulo, mas, no fim, duplo. Marcados estão os seus estágios por quatro e sete portas. A uma extremidade a felicidade imediata, à outra, felicidade renunciada. Ambos são a recompensa do mérito: a escolha a ti pertence.

O um toma-se os dois, o Aberto e o Secreto 93. O primeiro leva à meta, o segundo à imolação de si próprio.

Quando ao permanente o mutável se sacrifica, o prêmio é teu; volta a gota ao lugar de onde veio, O Caminho Aberto conduz à mudança imutável - Nirvana, o estado glorioso de absoluto, a felicidade para além da concepção humana.

Assim, o primeiro caminho é a Libertação.

Porém, o segundo caminho é a Renúncia; por isso é chamado o Caminho da Dor.

O Caminho Secreto conduz o Arhan a uma angústia mental inexprimível; dor pelos mortos que estão vivos 94, e compaixão inútil pelos homens da tristeza cármica; o fruto do Car ma não ousam os Sábios fazer parar.

Porque está escrito: “Ensina a evitar todas as causas; à maré do efeito, como à grande onda, deixarás seguir o seu curso”.

O Caminho Aberto, mal chegaste ao seu fim, levar-te-á a rejeitar o corpo bodhisattvico, e far-teá entrar para o estado três vezes glorioso de Dharmakaya 95, que é o eterno esquecimento dos homens e do mundo.

A estrada secreta também conduz à felicidade paranirvânica - mas ao termo de kalpas inúmeros; Nirvanas ganhos e perdidos por uma piedade e compaixão ilimitadas pelo mundo de mortais iludidos.

Mas diz-se: “O último será o maior”. Samyak Sambuda, o Mestre da perfeição, abandonou a sua Personalidade para salvação do mundo, parando no limiar do Nirvana, o estado de pureza.

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Tens agora o conhecimento a respeito dos dois Caminhos. Chegará o momento em que terás de escolher, ó de Alma ansiosa, quando tiveres chegado ao fim e passado as sete portas. A tua mente está lúcida. Já não estás preso a pensamentos ilusórios, porque aprendeste tudo. Sem véu está ante ti a Verdade, e fita-te gravemente. Diz ela:

“Doces são os frutos do descanso e da libertação por causa da Personalidade; porém, mais doces ainda os frutos do dever longo e amargo; sim, da renúncia por amor aos outros, aos homens que sofrem”.

Aquele que se converte em Pratyeka-Buda só presta obediência à sua Personalidade.

O Bodhisattva que ganhou a batalha, que tem o prêmio na mão, mas exclama, na sua divina compaixão:

“Por amor aos outros abandono esta grande recompensa” - realiza a renúncia maior.

Ele é um Salvador do Mundo.

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Repara! A meta da felicidade e o longo Caminho da dor estão no extremo fim. Podes escolher um ou outro, ó aspirante à tristeza, através dos ciclos que hão de vir!

Om vairapani hum.


sábado, 18 de janeiro de 2020

Jesus Cristo segundo São João - Capítulo 08

JOÃO 8


A mulher adúltera - 1Jesus foi para o Monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar. 3Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio 4e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. 5Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?»

6Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra.

7Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» 8E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. 9Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles.

10Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» 11Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»


Jesus Cristo, luz do mundo - 12Jesus falou-lhes novamente: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.» 13Disseram-lhe, então, os fariseus: «Tu dás testemunho a favor de ti mesmo: o teu testemunho não é válido.» 14Jesus respondeu-lhes: «Ainda que Eu dê testemunho a favor de mim próprio, o meu testemunho é válido, porque sei donde vim e para onde vou. Vós é que não sabeis donde venho nem para onde vou. 15Vós julgais segundo critérios humanos; Eu não julgo ninguém. 16Mas, mesmo que Eu julgue, o meu julgamento é verdadeiro, porque não estou só, mas Eu e o Pai que me enviou. 17Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é válido; 18sou Eu a dar testemunho a favor de mim, e também dá testemunho a meu favor o Pai que me enviou.» 19Perguntaram-lhe, então: «Onde está o teu Pai?» Jesus respondeu: «Não me conheceis a mim, nem ao meu Pai. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.»

20Jesus pronunciou estas palavras junto das caixas das ofertas, quando estava a ensinar no templo. E ninguém o prendeu, porque ainda não tinha chegado a sua hora.


Revelações de Jesus; incredulidade dos ouvintes - 21Uma outra vez, Jesus disse-lhes: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou.» 22Então, os judeus comentavam: «Será que Ele se vai suicidar, dado que está a dizer: ‘Vós não podeis ir para onde Eu vou’?»

23Mas Ele acrescentou: «Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo. 24Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados.» 25Perguntaram-lhe, então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer! 26Tenho muitas coisas que dizer e que julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou, e que é verdadeiro.»

27Eles não perceberam que lhes falava do Pai. 28Disse-lhes, pois, Jesus: «Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou. 29E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada.»

30Quando expunha estas coisas, muitos creram nele. 31Então, Jesus pôs-se a dizer aos judeus que nele tinham acreditado: «Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» 33Replicaram-lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém! Como é que Tu dizes: ‘Sereis livres’?»

34Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é servo do pecado, 35e o servo não fica na família para sempre; o filho é que fica para sempre. 36Pois bem, se o Filho vos libertar, sereis realmente livres. 37Eu sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque não aderis à minha palavra. 38Eu comunico o que vi junto do Pai, e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai.» 39Eles replicaram-lhe: «O nosso pai é Abraão!» Jesus disse-lhes: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão! 40Agora, porém, vós pretendeis matar-me, a mim, um homem que vos comunicou a verdade que recebi de Deus. Isso não o fez Abraão! 41Vós fazeis as obras do vosso pai.» Eles disseram-lhe, então: «Nós não nascemos da prostituição. Temos um só Pai, que é Deus.»

42Disse-lhes Jesus: «Se Deus fosse vosso Pai, ter-me-íeis amor, pois é de Deus que Eu saí e vim. Não vim de mim próprio, mas foi Ele que me enviou. 43Porque não entendeis a minha linguagem? Porque não podeis ouvir a minha palavra? 44Vós tendes por pai o diabo, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi assassino desde o princípio, e não esteve pela verdade, porque nele não há verdade. Quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. 45Por isso, não acreditais em mim, porque vos digo a verdade. 46Quem de vós pode acusar-me de pecado? Se digo a verdade, porque não me acreditais? 47Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; vós não as escutais, porque não sois de Deus.»

48Os judeus replicaram-lhe: «Não temos nós razão ao dizer que és um samaritano e que tens demónio?» 49Respondeu Jesus: «Eu não tenho demónio. Eu honro o meu Pai, ao passo que vós me injuriais. 50Eu não procuro a minha glória; há alguém que a procura e faz justiça. 51Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá.» 52Disseram-lhe, então, os judeus: «Agora é que estamos certos de que tens demónio! Abraão morreu, os profetas também, e Tu dizes: ‘Se alguém observar a minha palavra, nunca experimentará a morte’? 53Porventura és Tu maior que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas morreram também! Afinal, quem é que Tu pretendes ser?» 54Jesus respondeu:

«Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai, de quem dizeis: ‘É o nosso Deus’; 55e, no entanto, não o conheceis. Eu é que o conheço; se dissesse que não o conhecia, seria como vós: um mentiroso. Mas Eu conheço-o e observo a sua palavra. 56Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz.»

57Disseram-lhe, então, os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?» 58Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: antes de Abraão existir, Eu sou!»

59Então, agarraram em pedras para lhe atirarem. Mas Jesus escondeu-se e saiu do templo.



Continua....

sábado, 11 de janeiro de 2020

Corpus Hermeticum XIII

CORPUS HERMETICUM
De Hermes Trismegisto


XIII - DISCURSO SECRETO SOBRE A MONTANHA, RELATIVO À REGENERAÇÃO E A REGRA DO SILÊNCIO.
(HERMES TRISMEGISTOS A SEU FILHO TAT)

1 - Nas Lições Gerais, ó pai, falastes apenas através de enigmas e sem encher de luz a minha compreensão quando trataste da atividade divina, não me deste a desvelação, sob o pretexto de que ninguém poderia ser salvo antes da regeneração. Mas como eu to suplicasse durante a descida da montanha, após tua conversação comigo, como eu to interrogasse acerca da doutrina da regeneração a fim de apreendê-la, visto que é o único ponto da doutrina que ignoro, prometeste-me transmiti-la "quando eu estivesse próximo a tornar-me estranho ao mundo". Eis- me pronto, fortifiquei meu espírito contra a ilusão do mundo. Suprime então, ó pai, as minhas faltas transmitindo-me, como prometeste, o processo da regeneração, fazendo-o conhecido de viva voz ou por meio secreto. Eu ignoro, ó Trismegistos, de qual matriz nasceu o Homem, e de qual semente.
2 - Meu filho, é a Sabedoria inteligente no Silêncio e a semente o verdadeiro Bem. - Mas quem semeia, ó pai? pois estou completamente perplexo. - É a Vontade de Deus, meu filho. - E de que forma é o engendrado, ó pai? pois não pode participar em nada da minha substância. - O engendrado será diferente, será deus filho de Deus, O Todo no Todo, composto de todas as Potências. - Propões-me um enigma, pai, e não falas como um pai a seu filho. - Este tipo de coisa não se ensina, meu filho, mas, quando quer, Deus proporciona-lhe a reminiscência.
3 - Tu me dás, ó pai, explicações impossíveis e forçadas, é esta a razão pela qual farei uma justa réplica: "Nasci como um filho estrangeiro à raça de meu pai." Não me recuse ciumentamente tua ciência, pai, sou teu filho legítimo: expõe-me completamente o modo de regeneração. - Que direi, meu filho? nada mais posso dizer que isto: em mim mesmo uma visão imaterial, produzida pela misericórdia de Deus, sai de mim mesmo para entrar em um corpo imortal e não sou mais agora do que era mas fui engendrado no Intelecto. Esta coisa não pode ser ensinada e não pode ser vista com este elemento formado de matéria, formado para que através do mesmo possa se ver aqui embaixo. Eis também por que não me preocupo desta primeira forma composta que foi a minha. Não percebo mais as cores, nem o sentido do tato, nem medida no espaço, tudo isto me é estranho. Agora me vês, meu filho, com os olhos, mas o que sou não podes compreender olhando-me com os olhos do corpo e pela visão sensível, não são com estes olhos que posso ser visto agora, meu filho.
4 - Atiraste-me numa loucura furiosa e num aturdimento espiritual, ó pai: pois não me vejo neste momento. - Apraz aos céus, criança, que tu também, saias de ti mesmo, como acontece àqueles que sonham mas, no teu caso, sem dormir. - Diga-me isto ainda: quem é o operador na obra da regeneração? - O filho de Deus - um ser humano como os outros - pelo querer de Deus.
5 - Agora, com um golpe seguro, atiraste-me num estupor que me tira a palavra. Tendo perdido meus espíritos - pois te vejo sempre com a mesma estatura, ó pai, com a mesma forma exterior. - E é nisto que te enganas, pois a forma mortal muda diariamente, evolui com o tempo por crescer ou diminuir, como coisa mentirosa.
6 - Que existe então que seja verdadeiro, ó Trismegistos? - O impoluto, o que não possui limite, nem cor, nem forma, o que é imutável, nu, brilhante, o que não pode ser apreendido por outra coisa que si mesmo, o Bem inalterável, o Incorpóreo. - Eis-me realmente louco, pai, pensei que me tivesses tornado sábio, e eis que se obstruiu a percepção que tinha de meu pensamento. - E isto está certo meu filho, o que se coloca no alto como o fogo; embaixo, como a terra; o que é líquido como a água, isso que sopra pelo universo todo como o ar. . . mas como poderias perceber por meio dos sentidos, o que não é rígido, nem líquido, o que não pode ser fechado, nem inserido, e que não é apreendido a não ser pelos efeitos de sua potência e de sua energia, isto que exige alguém capaz de conceber o nascimento de Deus?

7 E disto sou incapaz, ó pai? - Que não seja assim, meu filho. Toma-o a ti e ele virá; quere-o e se produzirá; detém a atividade dos sentidos corporais e então se produzirá o nascimento da divindade; purifica-te das punições irracionais da matéria. - Possuo então manchas em mim, ó pai? - E não em pequeno número, criança, mas terríveis e numerosas. - Eu as desconheço, ó pai.
- Esta ignorância, minha criança, é a primeira das punições; a segunda é a tristeza; a terceira é a incontinência; a quarta, a concupiscência; a quinta, a injustiça; a sexta, a cupidez; a sétima, o engano; a oitava, a inveja; a nona, a fraude; a décima, a cólera; a décima primeira, a precipitação; a décima segunda, a maldade. Estas punições são doze em número; mas sob elas, outras mais numerosas, por intermédio do corpo, forçam o ser humano interior a sofrer por meio dos sentidos. Contrariamente se afastam do ser humano do qual Deus teve misericórdia, não se afastam maciçamente, é verdade, mas nisto é que consiste a regeneração.
8 Agora, não fala mais, meu filho, e guarda um religioso silêncio: como recompensa a misericórdia não deixará de descer de Deus sobre nós. Rejubila-te agora, meu filho, eis que te purificam profundamente as potências de Deus pela conjunção dos membros do Verbo. Veio até nós o conhecimento de Deus - e pela sua vinda a ignorância foi caçada.
Veio até nós o conhecimento da alegria: pela sua chegada a tristeza fugirá para aqueles que tem lugar para recebê-la. 9 Oh! potência deliciosa! façamos-Ihe, meu filho, a acolhida mais amável: vê como pela sua chegada expulsou a incontinência. Em quarto lugar, agora, eu chamo o endurecimento, esta potência que se opõe à concupiscência. Os degraus que vês, meu filho, são a sede da justiça: vê que, sem processo caçou a injustiça. Tornamo-nos justos, criança, agora que não mais temos injustiça. Chamo a nós como sexta potência e que luta contra a cupidez, a bondade que divide. É a cupidez parte. Já se apresenta a verdade e o engano parte e a verdade vem a nós. Veja como o bem atingiu a plenitude, meu filho, com a chegada da verdade. Pois a inveja se afasta bem de nós e depois da verdade, o bem chegou, acompanhado da vida e da luz, e não fomos assolados por mais nenhuma punição das trevas, mas estas é que voaram, vencidas, com um grande rumor de asas.
10 Conheces agora o modo da regeneração, meu filho. Pela vinda da Década, meu filho, a geração espiritual foi feita em nós e ela caça a Dodécada e fomos divinizados por este nascimento. Aquele que foi gratificado, segundo a misericórdia, por este nascimento segundo Deus, tendo abandonado a sensação corporal, conhece a si mesmo como sendo constituído pelas Potências divinas e se rejubila em seu coração.
11 Tornado inquebrantável por Deus, ó pai, represento-me as coisas, não pela visão dos olhos, mas pela energia espiritual que recebo das Potências. Estou no céu, na terra, na água, no ar, estou nos animais, nas plantas, no ventre, antes do ventre, depois do ventre, em todo lugar. Mas diga-me ainda, como as punições das trevas, que são doze em número, são repelidas por dez Potências? Como isso se dá, ó Trismegistos? 12 Esta rede, meu filho, fora da qual saímos, foi constituída pelo círculo zodiacal, que por sua vez é composto de doze elementos de mesma natureza e que pode tomar todas as formas para estupor dos homens. Entre essas punições existem duplas, meu filho, que estão unidas na sua ação (na verdade, a precipitação é inseparável da cólera) e é mesmo impossível distingüi-las. É natural portanto, pela justa razão, que essas punições retirem-se quando são caçadas pelas dez Potências, isto é a Década. Pois a Década é a geradora da alma. Vida e Luz estão unidas, e então nasce o número da Unidade, do Espírito. Portanto, pela razão, a Unidade contém a Década e a Década, a Unidade.
13 - Pai, vejo o Todo e me vejo no Intelecto. - Eis precisamente a regeneração, meu filho: não mais formar suas representações sob a figura do corpo tridimensional - regeneração feita graças a este discurso sobre a regeneração que escrevi somente para ti, a fim de que não divulguemos o Todo aos habitantes do pântano de papiros, mas somente àqueles que Deu escolheu.
14 - Diga-me, ó pai, esse novo corpo composto de Potências, sofrerá um dia a dissolução? - Silêncio! não digas coisas impossíveis, pois isto seria um pecado e o olho de teu intelecto seria afetado por uma sujidade. O corpo sensível da natureza está bem afastado da

geração substancial, pois um é dissolúvel, o outro indissolúvel, um mortal, o outro imortal. Não sabes que nasceste deus e filho do Um, o que sou também?
15 - Pai, quero este louvor em forma de hino que escutaste cantar às Potências quando atingiste a Ogdoada. - Segundo a Ogdoada desvelada por Poimandres, eu aprovo, criança, a tua vontade de quebrar a rede, pois agora, és inteiramente puro. Poimandres, o Intelecto da Soberania, nada mais me revelou do que está escrito, sabendo que eu seria capaz de tudo compreender e ouvir o que quisesse e tudo ver, prescreveu-me fazer o que fosse belo. Também cantam, em todas coisas, as Potências que estão em mim.
16 - Pai, quero ouvir, quero conhecer tudo isto! - Silêncio então, meu filho, escuta agora a bênção bem adaptada, o hino da regeneração: manifestá-lo-ia, segundo meu pensamento, somente a ti, desta forma sem reservas, ao fim de tudo. Também este hino não é objeto de ensino, mas permanece encerrado no meio do silêncio. Então, meu filho, coloca-te em um lugar a céu aberto, e face ao vento do sul, no momento do pôr do sol, adora; e da mesma forma ao nascer do sol, voltando-to para o vento do este. Silêncio então, criança.

Hino Secreto; Discurso IV

17 "- Que toda natureza no mundo ouça o som deste hino. Abre-te terra; que se abram à minha voz os fechos da chuva: não vos agiteis mais, árvores! Eu vou cantar ao Senhor da Criação e o Todo e o Um. Abri-vos céus, ventos, detende vossos sopros, que o círculo imortal de Deus ouça meu verbo. Eu vou cantar Aquele que criou o universo, que fixou a terra e suspendeu o céu, que ordenou à água doce o sair do oceano e estender-se sobre a terra habitada e desabitada, para a subsistência a criação de todos os humanos, que ordenou ao fogo que aparecesse para qualquer uso que dele quisessem fazer os deuses e os homens. Todos juntos elogiemos àquele que plana acima de todos os céus, ao Criador de Toda a natureza. É ele que é o olho do intelecto, que receba então o elogio de minhas Potências.
18 Potências que sois em mim, cantai o Um e o Todo: cantai em uníssono com minha vontade, vós todas, Potências que sois em mim. Santo conhecimento, iluminado por ti, é graças a ti que celebro e luz inteligível - me rejubilo na alegria do intelecto. Vós todas, Potências, cantai o hino comigo. E tu também, canta por mim, continência! minha justiça, canta o Justo por mim; minha bondade liberal, canta o Todo por mim; canta, verdade, a Verdade; canta o Bem, tu, o bem; Vida e Luz, é de vós que advém a bênção e é a vós que retorna. Rendo-to graças, Pai, energia das Potências; rendo-to graças, Deus, potência de minhas energias. Teu Verbo, por mim, a ti canta; por mim, recebe o Todo em palavra, como sacrifício espiritual. 19 Eis o que giram as potências que estão em mim: cantam o Todo, cumprem a tua vontade. Tua vontade vem de ti e a ti retorna, o Todo. Recebe de todos, o sacrifício espiritual. O Todo que está em nós, salva-o, Vida; ilumina-o, Luz, Espírito, Deus! Pois de teu Verbo, é Noús que é o pastor. O portador do espírito, Demiurgo, és tu que és Deus. 20 Eis o que clama o ser humano que a ti pertence, através do fogo, através do ar, através da terra, através da água, através do sopro, através de tuas criaturas. Obtive de ti a bênção de Aíòn e segundo meu desejo, pela tua vontade alcancei o repouso. Vi pela tua vontade esta bênção pronunciada."
21 - Ó pai, coloquei-o também em meu mundo. - Dize "no mundo inteligível", criança. - No mundo inteligível, pai. Tenho potência, pela virtude de teu hino e de tua bênção, meu intelecto está totalmente iluminado. Mais ainda, eu quero oferecer "de profundis" um louvor a Deus. - Não o faças levianamente, ó meu filho. - O que contemplo no Intelecto, ó pai, o digo: "A ti, primeiro autor da obra da geração, eu Tat, a meu Deus, ofereço sacrifícios espirituais. Deus, Pai, Senhor, Intelecto, recebe de mim os sacrifícios espirituais que queiram. Pois, é pela tua vontade que tudo se cumpre". Ofereces, meu filho, um sacrifício agradável a Deus, Pai de todos os seres. Mas acrescenta, criança, "pelo Verbo".
22 - Agradeço-te, pai os conselhos que me destes na minha prece. - Eu me rejubilo, criança, dos bons frutos que tirastes da Verdade, uma colheita imortal. Agora que aprendeste isto

de mim, promete-me o silêncio relativamente a esse poder miraculoso, não revelando a ninguém, criança, o modo de transmissão da regeneração a fim de que não sejamos contados entre os divulgadores. Eis o bastante, ambos estivemos muito ocupados: eu em falar, tui em me escutares. Agora, conheces a ti mesmo, conheceste na luz do Intelecto e a nosso Pai comum.

Continua...

sábado, 4 de janeiro de 2020

Reflexão Casual LXXXIX



" Não aspire somente a utopia, viva essa utopia! Da forma mais intensa possível, por mais que seja em proporções minimas e insignificante, pois essa realidade será para si a maior e a mais concreta experiência jamais vivida antes e que te marcará por toda vida. "

Paulinopax