quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O Livro Perdido de Dzyan

A EVOLUÇÃO CÓSMICA 
NAS SETE ESTÂNCIAS DO LIVRO DE DZYAN
Helena Blavatsky


“...Ninguém no mundo conhece sua data verdadeira. Dizem que o original é mais antigo que a nossa Terra. Dizem inclusive, que era tão magnetizado que os’ iniciados’, ao tocá-lo com a mão, viam passar diante de seus olhos os acontecimentos descritos e, ao mesmo tempo, ouviam em sua língua os textos misteriosos, transmitidos pela força de impulsos rítmicos, na medida em que a respectiva língua possuía vocábulos adequados para a versão dos textos.[1]

Durante milênios, essa ciência oculta ficou guardada como “ultra-secreta” em cavernas[2], nas regiões montanhosas do Tibete, pois dizia-se que, em mãos de pessoas não iniciadas, os ensinamentos ocultos poderiam representar um perigo enorme. O texto original – que não se sabe se ainda existe em qualquer lugar – foi copiado literalmente por uma geração após a outra e complementado por novos relatos e conhecimentos dos iniciados.

O Livro de Dzyan teria sido composto além do Himalaia. Por vias desconhecidas, seus ensinamentos chegaram ao Japão, à Índia e à China; até em tradições sul-americanas foram encontrados vestígios de pensamentos e conceitos contidos nesse livro. Fraternidades secretas, refugiadas em paragens abandonadas das Montanhas Kun-lun, ou no fundo das gargantas do maciço rochoso do Altyn-tang, ambos situados na parte ocidental da China Vermelha, manteriam sob sua guarda enormes coleções de livros. Suas habitações seriam templos humildes; seus tesouros literários ficariam guardados em salões e galerias subterrâneas. Também o Livro de Dzyan teria sido guardado em um desses lugares. Os primeiros Santos Padres da Igreja fizeram tudo para subtrair esta ciência oculta da memória daqueles que dela privavam; no entanto, todos os esforços foram inúteis, pois os textos oralmente transmitidos passaram de geração em geração.

...Trechos do Livro de Dzyan, que se conservaram, ou melhor, chegaram a ser conhecidos, passam pelo mundo inteiro em milhares de textos vertidos para o sânscrito. Pelo que se sabe até agora, essa estranha ciência oculta encerraria o verbo primitivo, a fórmula da gênese e daria o relato dos milhões de anos que marcaram a evolução da humanidade.”
Erich von Däniken - De Volta às Estrelas – pg. 151/152

[1] Atualmente os computadores realizam operações semelhantes. - RC
[2] É comum escritos secretos serem escondidos em cavernas, túneis ou subterrâneos.

ESTÂNCIAS DO LIVRO DE DZYAN

“Não havia coisa alguma; o céu claro e distante Não existia, nem havia o amplo telhado celestial, espalhado ao alto. O que é que encobria tudo? O que o abrigava? O que o ocultava? Seria o insondável abismo das águas? Não havia a morte - porém nada havia de imortal. Não existia diferença entre o dia e a noite; Só Aquilo que é Uno respirava sem respirar, sozinho, E desde então nada jamais existiu fora Daquilo.   Havia escuridão, e no início tudo estava velado Em trevas profundas -; um oceano sem luz. O germe ainda coberto pela casca Despertou, como natureza una, - devido ao intenso calor.

Quem sabe o segredo? Quem o proclamou aqui? De onde veio, de onde veio - esta criação múltipla? Os próprios Deuses só passaram a existir mais tarde.  Quem sabe de onde surgiu, esta grande criação? Aquilo, de onde veio esta grande criação, O Mais Elevado Vidente que está no mais alto céu, Só Ele sabe a resposta -; ou talvez nem Ele saiba.”  [3]

“Olhando a eternidade ..., Antes que as bases da terra fossem estabelecidas, 
                                                          
Tu existias. E quando a chama subterrânea Romper a sua prisão e devorar a estrutura ...... Tu ainda existirás como existias antes, Sem conhecer o que é mudança - quando o tempo já não existir. Ah! Pensamento infinito, divina ETERNIDADE.” [4] 

_____________________________________ 
[3] Este é um trecho do Rig Veda. Na edição de 1979 de “The Secret Doctrine”, há uma nota de Boris de Zirkoff informando que a fonte é “Rigveda”, Mandala X, 129, 1-7, segundo Max Müller em “History of Ancient Sanskrit  Literature” (Londres, 1859,  p. 564). (Nota do Tradutor) 
[4] Boris de Zirkoff  informa (na  edição de 1979 de “The Secret Doctrine”, TPH), que este é um trecho de um poema de John Gay (1685-1732), intitulado “A Thought on Eternity”. (Nota do Tradutor) 

sábado, 19 de janeiro de 2019

Formação do Catolicismo Brasileiro 1500 - 1800 / 4ª Parte

O CATOLICISMO POPULAR
O QUE ENTENDEMOS DO CATOLICISMO POPULAR?

Paulo da Costa Paiva


            Para se falar sobre a o catolicismo popular, primeiramente é importante deixar bem claro, que índios e negros não eram considerado povo durante o período português da história brasileiro, somente os portugueses e seus descendentes eram considerado povo o restante eram “gentios da terra” (índios) ou “peça de Guiné, de Moçambique, de Angola” (negros), dessa forma seria mais lógico ser chamado de catolicismo gentílico do que propriamente de catolicismo popular, uma religiosidade vivida pelo em pobre em geral. 

             Diante dessa realidade de uma religiosidade dúbia, podemos identificar claramente que a divisão de classe não está somente no âmbito social, mas transcende a própria religião, a elite se mostra claramente indiferentes do catolicismo popular, reconhecendo somente o catolicismo estabelecido ou o patriarcal, tendo em vista que oficialmente eram expressos que existia somente um catolicismo que constituía como “cimento da unidade nacional”. Já o catolicismo vivido pelo pobre em geral era negado todo seu valor e originalidade, sendo uma religiosidade experimentada pelo povo humilde numa interiorização dos temas apresentado pela religião dominante, mas vai muito, além disso, pois se tornou uma cultura própria, sendo a mais original e a mais rica que o Brasil já produziu.

            Os portugueses conseguiram conviver com os índios e africanos de maneira estável, confraternizando de forma aparente com a raça dita inferiores (os negros e índios), sem a necessidade de segregação racial, por motivos estrategicamente políticos, essa convivência era perfeitamente ambígua, pois se apresentava como harmoniosa entre ricos e pobres, mas na verdade era uma realidade onde a dominação era exercida com sutileza e crueldade.

             A repressão por parte do governo junto ao povo mais simples e sem direitos, deixa na consciência coletiva um profundo trauma, de uma verdadeira desesperança por receio de tentar novamente por receio da morte sem expectativa de libertação, conseqüentemente interioriza suas aflições na religião como forma de refúgio e consolação, diante dessa situação podemos reconhecer que a religiosidade popular surgiu a partir da experiência de repressão, e ela contém dois momentos cruciais: Um primeiro momento de revolta e um segundo momento de abafamento ou repressão desta revolta. Sendo uma consciência vivida de forma abafada sob a ação de uma tradicional sabedoria de conformismo e paciência fatalista diante de todo contraste social reprimida pela religião da casa grande vivendo obediente e dependente dos seus “senhores” onde uns vivem dos outros, a custa dos outros.

UM PROBLEMA DE LINGUAGEM: PROVIDENCIALISMO E PROGRESSISMO

Desde o início da descoberta do Brasil, a colônia portuguesa vivia sob o signo da providência divina, a mão de Deus e fazia atuante em todo seu processo histórico e a formação da nação. Uma fé inabalável que animava a todos, ricos e pobres, tudo em seu cotidiano era reconhecida como ação direta de Deus para com todos, e as próprias colônias portuguesas antes de se chamar Brasil foi nomeada de terra de Santa Cruz, e a maioria das cidades e tudo que era descoberto e levantado (fundado) tinham nome de algum santo católico. 

A divina providência marcava os ritmos da vida do povo tanta nas alegrias como nas dores, era um povo muito religioso e muito cristão pelo menos na tradição e na esperança naquele único que poderia auxiliá-los e salva-los diante de tantas dificuldades, e essa tradição entre o povo brasileiro e seus lideres que a intervenção divina se fazia presente no seu cotidiano se estendeu por séculos, era comum em momentos de conflitos a impregnação de um ar de misticismo, onde a mão de Deus pairava diretamente nos conflitos e se faziam muitas promessas (ambos os lados) e agradecimento por vitória nas guerras tanto interna contra as isoladas rebeliões dos insatisfeitos com a coroa portuguesa, como os conflitos externos contra invasores europeus (franceses e holandeses principalmente). 

Esse providencialismo religioso não foi manifestado espontaneamente ou pelo menos nem sempre foi assim e nem para com todos, muitas das vezes se utilizavam da própria religião como ferramenta e até de manobra para com os povos explorados e perseguidos, impondo aos índios mansos e os negros escravos a sua religião e as suas condições, na qual em suas leituras de suas próprias religiões nativas identificavam a sua atual situação como manifestações de seus deuses, na qual estavam fadados a se conformar e se refugiar na esperança de um futuro melhor. No século 19, surge junto com as classes dirigentes o progressismo que serviu apenas de disfarce para ocultar a metamorfose colonial para poder estabelecer o segundo pacto colonial. Enquanto o primeiro período colonial foi marcado pelo providencialismo medieval, o segundo período colonial recebeu a marca do progressismo europeu principalmente por influência dos ingleses e franceses, na qual foram encarnadas suas culturas e economia no cotidiano brasileiro, quase exclusivamente nas cidades principalmente pelos ricos e nobres locais, surgindo dessa forma, “dois brasis” com um grande abismo sociocultural aos mais pobres e as cidades menores do interior brasileiro.

Continua...



Paz e Bem!

sábado, 12 de janeiro de 2019

Corpus Hermeticum

CORPUS HERMETICUM
De Hermes Trismegisto


I - POIMANDRES

1 Um dia, em que comecei a refletir acerca dos seres, e meu pensamento deixou-se planar nas alturas enquanto meus sentidos corporais estavam como que atados, como acontece àqueles atingidos por um sono pesado pelo excesso de alimentação ou de uma grande fatiga corporal, pareceu que se me delineava um ser de um talhe imenso, além de toda medida definível, que me chamou pelo meu nome e disse: "Que desejas ouvir e ver, e pelo pensamento aprender a conhecer?"
2 E eu lhe disse "Mas tu, quem és?". - "Eu", disse ele, "eu sou Poimandres, o Noús da Soberania absoluta. Eu sei o que queres e estou contigo em todo lugar".
3 E eu disse: "Quero ser instruído sobre os seres, compreender sua natureza, conhecer Deus. Oh! como desejo entender!" Respondeu-me ele por sua vez: "Mantém em teu intelecto tudo o que desejas aprender e eu te instruirei."
4 A essas palavras mudou de aspecto e, subitamente, tudo se abriu diante de mim num momento, e tive uma visão sem limites, tudo tornou-se luz, serena e alegre, e ao vê-la apaixonei- me por ela. E pouco depois surgiu uma obscuridade dirigindo-se para baixo, em sua natureza assustadora e sombria, enrolando-se em espirais tortuosas, como uma serpente, foi assim que a percebi. Depois esta obscuridade transformou-se numa espécie de natureza úmida, agitada de uma maneira indizível e exalando um vapor, como o que sai do fogo e produzindo uma espécie de som, um gemido indescritível. Depois lançando um grito de apelo, sem articulação, tal que o comparei a uma voz de fogo, e ainda que saindo da luz auto-existente; um Verbo santo veio cobrir a Natureza, e um fogo sem mistura exalta-se da natureza úmida em direção à região sublime, era leve, vivo e ativo ao mesmo tempo; e o ar, sendo leve, seguia ao sopro ígneo elevando-se ao fogo, a partir da terra e da água, de forma a parecer preso ao fogo; pela terra e pela água, permaneciam no mesmo lugar, se bem que não se percebesse a terra separada da água: estavam continuamente em movimento sob a ação do sopro do Verbo que colocara-se sobre elas, segundo percebia minha audição.
6 Então disse Poimandres: "Compreendeste o que esta visão significa?" E eu: "Eu o saberei". - "Esta luz" disse ele" sou eu, Noús, teu Deus, aquele que existe antes da natureza úmida que apareceu fora da obscuridade. Quanto ao Verbo luminoso saído do NOÚS, é o filho de Deus.” "Quem então?", disse eu. -"Conheça o que quero dizer através do que em ti vê e ouve (o teu íntimo), é o Verbo do Senhor, e teu Noús é o Deus Pai; não são separados um do outro, pois esta união é que é a vida." - "Eu te agradeço" - disse. - "Agora fixa teu espírito sobre a luz e conhece isto".
7 A essas palavras, olhou-me bem de frente um tempo bastante longo, se bem que eu tremesse pelo seu aspecto. Depois, como ele elevasse a cabeça, vi em meu Noús a luz consistente em um número incalculável de Potências, tornada um mundo sem limites, ainda que o fogo estivesse envolvido por uma força todo poderosa, e assim, solidamente contido, atingia seu equilíbrio: eis o que distingui pelo pensamento nesta visão, encorajado pela palavra de Poimandres.
8 Como eu estivesse ainda totalmente fora de mim, disse-me ele novamente: "Viste no Nods a forma arquetípica, o pré-princípio anterior ao começo sem fim." Assim me falou Poimandres. - "Ora, disse eu, de onde surgiram os elementos da natureza?" - Respondeu: "Da Vontade de Deus, que, tendo nela recebido o Verbo e tendo visto o belo mundo arquetípico, o imitou feita como foi em um mundo ordenado, segundo seus próprios elementos e seus próprios produtos, as almas.
9 "Ora o Noüs Deus, sendo macho e fêmea, existente como vida e luz, faz nascer de uma palavra um segundo Noôs demiurgo que, sendo deus do fogo e do sopro, criou Sete Governadores, os quais envolvem nos seus círculos o mundo sensível; e seu governo se chama o Destino.
10 Logo o Verbo de Deus lançou-se fora dos elementos postados embaixo para esta pura região da natureza que acabava de ser criada, e se uniu ao Noús demiurgo (pois era de mesma substância) e, por esta razão, os elementos inferiores da natureza foram entregues a si próprios desprovidos de razão, de forma a nada mais ser que simples matéria.
11 Porém o Noús demiurgo, conjuntamente com o Verbo, envolvendo os círculos e fazendo-os girar zumbindo, coloca desta forma em ação o movimento circular de suas criaturas, deixando-as fazer a sua revolução segundo um começo indeterminado até um término sem fim, pois começa onde se acaba. E esta rotação dos círculos, segundo a vontade do Noús, produziu, tirando-os dos elementos que se precipitavam para baixo, animais irracionais (pois não mantinham o Verbo próximo de si), o ar produziu os voláteis e a água, os nadadores. A água e a terra foram separadas uma da outra, segundo a vontade do Noús, e a terra fez sair de seu próprio seio os animais que em si mesma retinha - quadrúpedes e répteis, bestas selvagens e domésticas.
12 Ora o Noús, Pai de todos os seres, sendo vida e luz, criou um ser humano semelhante a ele, pelo qual sentiu tanto amor como por seu próprio filho. Pois o ser humano era muito belo, reproduzido a imagem de seu Pai: pois é verdadeiramente de sua própria forma que Deus tornou- se amoroso e legou-lhe todas as suas obras.
13 Ora, assim que percebeu a criação que o demiurgo fizera no fogo, o ser humano quis produzir, também, uma obra e o Pai deu-lhe permissão. Entrando então na esfera demiúrgica, onde deveria ter plenos poderes, percebeu as obras de seu irmão e os Governadores apaixonaram-se por ele e cada um deu-lhe parte de sua própria magistratura. Tendo então aprendido a conhecer sua essência e tendo recebido participação de sua natureza, quis atravessar a periferia dos círculos e conhecer a potência daquele que reina sobre o fogo.
14 Então o Homem, que tinha pleno poder sobre o mundo dos seres mortais e animais irracionais, lançou-se através da armadura das esferas e rompendo seu envoltório fez mostrar à Natureza de baixo, a bela forma de Deus. Quando ela o viu, o ser que possuía em si a beleza insuperável e toda a energia dos Governadores aliada à forma de Deus, a Natureza sorriu de amor, pois tinha visto os traços desta forma maravilhosamente bela do ser humano se refletir na água e sua sombra sobre a terra. Tendo ele percebido esta forma semelhante a ele próprio na Natureza, refletida na água, amou-a e quis aí habitar. Assim que o quis, foi feito e veio habitar a forma sem razão. Então a Natureza, tendo recebido nela seu amado, enlaçou-o totalmente e eles se uniram pois queimavam de amor.
15 E esta é a razão porque, de todos os seres que vivem sobre a terra, o ser humano é o único que é duplo, mortal pelo seu corpo, imortal pelo ser humano essencial. Ainda que seja imortal com efeito, e que tenha poder sobre todas as coisas, sofre a condição dos mortais, submetido como é ao Destino, por esta razão, assim que se colocou sob a armadura das esferas tornou-se escravo na mesma; macho e fêmea pois nascido de um pai macho e fêmea, isento de sono pois proveniente de um ser isento de sono, não era vencido nem pelo amor nem pelo sono.
16 (N.T. aqui há um truncamento no texto). "Oh! meu Noús. Pois eu também sinto amor pelo discurso." - Então. Poimandres: "O que vou te dizer é o mistério mantido oculto até este dia. A Natureza com efeito, tendo-se unido por amor ao Homem, causou um prodígio surpreendente. O ser humano tinha em si a natureza da conjunção, dos sete compostos, como te disse, de fogo e de sopro; a Natureza então, incapaz de esperar, procria na hora sete homens correspondentes à natureza dos Sete Governadores, machos e fêmeas, que elevam-se ao céu." E após isto: "Oh! Poimandres, verdadeiramente, atingi agora um desejo extremo e queimo de desejo de te entender. Não te afastes do assunto!" Mas, Poimandres: "Cala-te então! Não terminei ainda de te apresentar o primeiro ponto." - "Sim, calo-me". - respondi.
17 "Assim então, como eu dizia, a geração desses sete primeiros homens fez-se da seguinte maneira: feminina era a terra, a água elemento gerador; o fogo levava as coisas à maturidade, do éter a Natureza recebia o sopro vital e produziu os corpos segundo a forma Humana. Quanto ao Ser Humano, de vida e luz que era, transformou-se em alma e intelecto, a vida transformando-se em alma, a luz em intelecto. E todos os seres do mundo sensível permaneceram neste estado até o fim de um período e até o começo das espécies.
18 Escuta agora este ponto que queimas de impaciência por ouvir. Findo este período, o liame que unia todas as coisas foi rompido pela Vontade de Deus. Pois todos os animais que, até então, eram ao mesmo tempo machos e fêmeas foram separados em dois ao mesmo que os Seres Humanos, e tornaram-se uns machos e outros fêmeas. Logo Deus disse uma palavra santa: "Crescei e multiplicai-vos, vós todos, que fostes criados e feitos. E que aquele que possui o intelecto reconheça-se como imortal e que saiba que a causa da morte é o amor, e que conheça todos os seres."
19 Tendo Deus assim falado, a Providência, por meio do destino e da armadura de esferas, opera as uniões e estabelece as gerações e todos os seres se multiplicaram cada um segundo sua espécie e aquele que reconheceu a si mesmo é o bem eleito entre todos, enquanto que aquele que manteve o corpo repleto do erro do amor, permanece na Obscuridade, errante, sofrendo nos seus sentidos as coisas da morte".
20 "Que falta imensa", espantei-me, cometeram então aqueles que permanecem na ignorância, para serem privados da imortalidade?": "Tu tens o aspecto, de não ter refletido acerca do que ouviste. Não havia eu to recomendado seres atento?" - Presto atenção e me recordo, ao mesmo tempo rendo graças. " - "Se prestaste atenção, dize-me,- porque merecem morrer aqueles que estão na morte?" - "Porque a fonte de onde procede o corpo individual é a sombria Obscuridade, de onde vem a Natureza úmida, pela qual é constituído no mundo sensível o corpo, onde espreita a morte".
21 "Compreendeste bem, amigo. Mas por que razão "aquele que conhece a si mesmo vai para si" como o disse a palavra de Deus?" - "Porque", respondi, "é de luz e de vida que é constituído o Pai das coisas, de quem nasceu o Homem." -"Dizes bem: luz e vida, eis o que é o Deus e Pai, de quem nasceu o Homem. Se aprendes então a conhecer-te como sendo feito de luz e vida e que são esses os elementos que te constituem retornarás à vida." Eis o que me disse Poimandres. - "Mas dize-me ainda, como irei ter com a vida", perguntei, oh! meu Nous? Pois Deus declara: "que o ser humano que tem o intelecto reconheça a si mesmo."
22 "Todos os homens com efeito possuem intelecto?" - "Vela pela tua língua, meu amigo. Eu, Nous, mantenho-me próximo daqueles que são bons, puros e misericordiosos, próximo dos piedosos e minha presença torna-se um auxílio para aclaramento de todas as coisas, e tornam o Pai propício pela via do amor, rendem-lhe graças pelas bênçãos e pelos hinos, segundo foi ordenado pelo desejo de Deus, em filial afeição. E antes de abandonar seu corpo à morte que lhe é própria, detestam seus sentidos, pois conhecem suas operações. Ainda mais, eu, Nous, não permitirei que as premências do corpo que, porventura lhes assaltem, tenham força sobre eles. Pois, em minha qualidade de guardião das portas, fecharei a entrada para as ações más e vergonhosas, cortando rente as imaginações.
23 Quanto aos insensatos, aos maus, aos viciosos, aos invejosos, aos culpados, aos assassinos, aos ímpios, mantenho-me longe deles cedendo o lugar ao demônio vingador, que aplicando ao ser humano, inclemente, o aguilhão do fogo, e mergulhando nos seus sentidos prepara-o, além de tudo, para as ações ímpias a fim que um maior castigo lhe seja reservado. Também este ser humano não deixa de encaminhar seu desejo para apetites ilimitados, lutando nas trevas sem que nada o satisfaça; e é isto que o tortura e aumenta sempre a chama do seu tormento."
24 "Ensinaste-me bem todas as coisas, como eu o desejava, oh! Nous. Mas fala-me ainda da ascensão, tal como ela se produz." A isto Poimandres respondeu: "Agora, na dissolução do corpo material, deixas esse corpo entregue à alteração, e a forma que eras deixa de ser percebida, e abandonas ao demônio teu eu doravante inativo, e os sentidos corporais remontam a suas  fontes respectivas, das quais tornam-se partes e são novamente misturados com as energias, enquanto que o irrascível e o concupiscente vão para a natureza sem razão.
25 E desta maneira o ser humano se eleva para o alto através da armadura das esferas e à primeira zona abandona a potência, de crescer e de decrescer, à segunda as tramas da malícia, engano além de tudo sem efeito; na terceira a ilusão do desejo, a partir de agora, torna-se sem efeito; na quarta a ostentação do comando é desprovida de seus objetivos ambiciosos; à Quinta, abandona-se a audácia ímpia e a temeridade presunçosa; à sexta os apetites ilícitos que dá a riqueza, doravante sem efeito; na sétima zona desaparece a mentira que prepara siladas.
26 Então desnudo do que havia produzido a armadura das esferas, entra na natureza ogdoádica, possuindo apenas sua própria potência; e canta com os Seres hinos ao Pai, e toda a assistência se rejubila com ele pela sua vinda. E tornado semelhante a seus companheiros, ouve ainda certas Potências que assistem sobre a natureza ogdoádica, cantando, com uma voz doce, hinos a Deus. E então, em boa ordem, sobem para o Pai, abandonando-se às potências, e, tornando-se potências, entram em Deus. E, agora, porque tardas? Não vais agora que herdastes de mim toda a doutrina, fazer-te guia daqueles que são dignos, a fim de que, o gênero humano, graças a tua intervenção, seja salvo por Deus?"
27 Tendo assim falado, Poimandres, sob meus olhos, misturou-se com as Potências. E eu, quando dirigi ao Pai das coisas ações de graça e bênçãos, recebi de Poimandres permissão para partir depois de ter sido investido de potência e instruído sobre a natureza do Todo e sobre a visão suprema. E comecei a pregar aos homens a beleza da piedade e do conhecimento: "Oh! povos, homens nascidos da terra, vós que sois abandonados à embriaguez, ao sono e à ignorância de Deus, sede abstêmios, deixai de chafurdar como crápulas, enfeitiçados que sois por um sono de besta."
28 Eles então, quando compreenderam, juntaram-se unanimemente a mim. E eu lhes disse: "Por que, oh! homens nascidos da terra, deixai-vos à mercê da morte, se tendes a potência de participar da imortalidade? Vinde e arrependei-vos, vós que fazeis rota com o erro e tomastes como companhia a ignorância. Afastai-vos da luz tenebrosa, incorporai-vos à imortalidade, tendo deixado uma vez por todas a perdição."
29 Então, entre eles, alguns, após zombarem de mim, foram para o seu lado, pois estavam engajados na via da morte. Mas os outros, lançando-se aos meus pés suplicaram-me que os instruísse. Eu então, levantei-os e me fiz guia do gênero humano, ensinando-lhes a doutrina, como e por qual meio seriam salvos. E semeei entre eles as palavras da sabedoria e foram nutridos pela água de ambrósia. Chegando a tarde, quando a luz do sol começou a desaparecer totalmente, convidei-os a render graças a Deus. E quando completaram as ações de graças, cada um foi dormir no seu leito.
30 Em mim ficou gravada a benfeitoria de Poimandres, pois que me tinha preenchido com o que eu necessitava, e senti uma alegria imensa. Pois em mim o sono do corpo caía sobre a vigília da alma, a oclusão de meus olhos uma visão verossímil, meu silêncio uma gestação do bem, e a expressão da palavra uma linha de boas coisas. E tudo isso me sucedeu porque recebi de meu Noús, isto é, Poimandres, o Verbo da Soberania absoluta. E eis-me então repleto do sopro divino da verdade. Também é com toda minha alma e com todas minhas forças que ofereço a Deus este louvor.
31 "Santo é Deus, o Pai das coisas.
"Santo é Deus, cuja vontade suas próprias Potências cumpre.
"Santo é Deus que quer que o conheçamos e que é conhecido por aqueles que lhe pertencem.
"Tu és Santo, pois que, pelo Verbo, constituíste tudo o que é. "Tu és Santo, pois de que toda a Natureza reproduziu a imagem. Tu és Santo, pois que não fostes formado pela Natureza.
Tu és Santo, pois que és mais forte que toda potência.
"Tu és Santo, pois que és maior que toda excelência. "Tu és Santo, pois que estás acima de todo louvor.
"Recebas os puros sacrifícios em palavras que te oferece uma alma pura, um coração dirigido para ti, Inexprimível, Indizível, Tu que somente o silêncio nomeia. Eu Te suplico, que nenhuma cilada haja que este conhecimento pertencente à nossa essência não desfaça: atende-me esta prece e preenche-me de potência. Então iluminarei com esta graça os que permanecem na ignorância, meus irmãos, teus filhos. Sim eu tenho a fé e testemunho: eu vou para a vida e para luz. Tu és bendito, Pai: aquele que Te pertence quer Te ajudar na obra de santificação, segundo o que Tu lhes transmitiste”.

Continua...

sábado, 5 de janeiro de 2019

Reflexão Casual LXXVII



“O mal de muitos que se dizem religiosos, crentes cristãos é a sua petulância de se acharem detentores exclusivos da verdade, ao ponto de condenar o seu semelhante, pois na verdade usurpam a tal posição do Deus que adoram, o mesmo que ensinou incondicionalmente a amar o próximo, assim como Cristo que viveu entre nós acolhendo a todos, principalmente aqueles que eram considerados os mais pecadores e ensinou aos seus seguidores a amar sem julgar, simplesmente amar por amar sem receber nada em troca, nem a salvação que é uma conseqüência e não uma troca. Hoje, esses mesmos que se dizem cristãos são os que julgam, condenam e se promovem batendo no peito como autênticos cristãos... Pura hipocrisia!”

Paulinopax