sábado, 17 de novembro de 2018

Formação do Catolicismo Brasileiro 1500 - 1800 / 2ª Parte

O CATOLICISMO GUERREIRO II
O MESSIANISMO GUERREIRO DOS PORTUGUESES COLONIZADORES

Paulo da Costa Paiva


OS EFEITOS DO CATOLICISMO GUERREIRO SOBRE A REALIDADE BRASILEIRA

            Assim como toda ação leva a uma reação, Os índios assim como também os africanos reagiram à religiosidade violenta e opressora do cristianismo guerreiro da mesma forma, transformando seus deuses em divindades vingativas e violentas, partindo para o “olho no olho, dente por dente”. Os índios despertaram em sua religiosidade os antigos deuses guerreiros onde uma força divina que os transformavam em instrumento duma luta sobrenatural, já na religiosidade africana se refugiou, mas precisamente no plano místico onde seus deuses agrícolas e pastoris se transformaram em divindades violentas e vingativas, que nessa transição não se deve jamais ser subestimada, pois se trata de uma forma de resistência social, cultural e político que levara futuramente a redenção da escravatura. 

        O espírito de vingança que reina em diversas regiões brasileiras não é porque seja um "gênio popular” ou porque seria uma característica do caráter indígena ou do africano, mas sim uma forma de resistência contra a opressão e exploração causada pela elite colonial e branca européia, com a sua doutrinação esmagaste, onde se viam como salvadores de almas dos gentios (nativos e escravos) para o Deus cristão, mas que na prática foram em nome desse próprio Deus que escravizaram, exploravam e matavam para seu próprio beneficio, se utilizando da religião como pano de fundo para todas as suas atrocidades.

A PERSISTÊNCIA DO CATOLICISMO GUERREIRO NO BRASIL

            O catolicismo guerreiro influenciou fortemente o cotidiano brasileiro tanto os civis com a sua religiosidade popular como as próprias forças militares respirava da espiritualidade guerreira, tinha seu capelão como também tinha seu padroeiro que deveria ser um santo guerreiro, mesmo não sendo reconhecido canonicamente como militante de Deus, mas sofria uma profunda mudança e releitura teológica com uma representação guerreira. Entre os militares muitos abraçavam esse ideal de vida de entrar em combate em nome de Deus, e existem entre eles índios e negros que vestiam a causa por obediência aos seus senhores em nome de Deus e da coroa portuguesa, isso se torna muito interessante para elite colonial brasileira, pois indivíduos pobres e marginalizados a serviço de grupos aristocratas, se torna ideal para os promotores da guerra Santa na terra tupiniquim. Entre eles temos o índio Felipe Camarão que combateu a favor dos senhores de engenhos contra os comerciantes holandeses, outra imagem conhecida seria do negro Henrique Dias que mereceu as mais altas honras militares por ter sido fielmente dedicado aos intentos guerreiros de seus senhores.

            Mas como se torna possíveis os marginalizados e explorados abraçar os ideais dos colonos aristocratas? Tudo isso era possível porque existe sem duvida o atrativo financeiro e a possibilidade de ascensão dos mestiço ou mulato na sociedade de ordens, mas isso nem sempre era suficiente para garantir a lealdade desses indivíduos como de todos os militares em geral juntos a elite colonial por isso existia uma grande desconfiança entre ambos. Para isso novamente a religião era usava como ferramenta ideológica para impor entusiasmo como também impor o medo. Primeiramente entusiasmar o povo com animação popular e religiosa, com todos os seus simbolismos religiosos: Triunfos Eucarísticos, procissões, festas, sermões. 

         E havia também competições desportivas tudo isso historicamente em todo processo desde primórdio da civilização ocidental conhecemos como a dita política do pão e circo que acalma as grandes massas insatisfeitas. Outra forma que se utilizava para manter o povo no cabresto seria através do medo, amedrontando a massa era possível controlá-la, isso nesse perigo seria através da fé que sendo infiel e desobediente aos seus senhores e autoridade poderiam queimar no fogo do inferno, outra forma era trazer o próprio inferno ao mundo dos vivos, que seria o próprio santo oficio que torturava, esquartejava ou queimava vivo num verdadeiro circo de horrores, no Auto de Fé onde a própria multidão torcia pelos juízes (representantes de Deus) condenasse os hereges.

A CONTESTAÇÃO DO CATOLICISMO GUERREIRO EM NOME DO EVANGELHO

            A Tomada de posse do Brasil pelos europeus foi gradativamente lenta e praticamente esporádica, dessa forma também a contestação tanto no Reino de Portugal como na colônia, pois não houve no Brasil uma conquista global, pois suas guerras e revoluções sempre foram locais e facilmente abafadas pelas autoridades. Observa-se que durante o processo histórico que alguns padres bateram de frente todo o sistema opressor das autoridades tanto do reino de Portugal como do próprio alto clero em nome do evangelho, pois se via uma contradição com a sua própria essência para os seus próprios interesses, pois só quem sentia eram os marginalizados e excluídos da sociedade, o negro, o índios e o pobre em gera.

 Dessa forma podemos citar alguns que se destacaram na história como, por exemplo, o padre Gonçalves Leite, SJ (1546-1603) português e primeiro professor de filosofia no Brasil, que sustentava a tese que “Nenhum escravo da África ou no Brasil é justamente cativo.” Diante de sua posição ficou insuportável a sua permanência, sendo convidado a voltar a Portugal em 1586, pois além de contradizer os interesses das Autoridades Coloniais como uma grande parte da Igreja, poderia ser que suas idéias e fomentasse e causaria um perigo maior de futuros movimentos revolucionário contra a Coroa de Portugal. Nessa mesma corrente ideológica, outros padres se destacaram como o Pe. Miguel Garcia que defendia a liberdade dos índios, o padre Luis da Grã que se opôs à comercialização dos escravos, outro que combateram a sacramentalização precipitada como o padre Inácio de Tolossa que discutia a validade do matrimônio realizado entre os índios como também a legitimidade de compra e venda de escravos, e a liberdade original dos índios.  Muitas outras problemáticas que surgiam na colônia que contentavam seriamente os princípios do evangelho de Jesus Cristo.

            No século XVI, o Padre Antônio Vieira com os seus sermões que na verdade era uma grande arma e com a sua voz possante conseguia conscientizar os portugueses brasileiros e outros colonizadores sobre seus erros da colonização. Ele resistiu firmemente todos os embates e quando aos 73 anos, retornando novamente ao Brasil se dedicou aos trabalhos missionários especificamente junto aos índios.  Padre Antônio teve outros sucessores que deram continuidade a sua iniciativa no combate dos abusos dos Senhores e das autoridades colonial contra os índios e os negros. Essa tradição teológica de resistência principalmente ao lado do índio terminou bruscamente com a expulsão dos jesuítas no ano de 1759 e através da reforma pombalina, mas apesar de toda violência imposta pela coroa com uma nova forma de teologia, mas interessada em favorecer os colonos não reprimiu as idéias de resistência por parte dos negros e índios catequizados pelos jesuítas, que mesmo ausente a partir de então, seu fruto de luta contra a opressão permaneceu em seus corações.


Paz e Bem!

sábado, 3 de novembro de 2018

Reflexão Casual LXXV


“Somos maquinas biológicas e podemos até certo ponto assemelhar-se (de forma tosca - memória/mente) aos computadores mais evoluídos da atualidade, mas o diferencial é que nossa mente é ilimitada, e seu material é etérico (jamais pode se corromper) por mais que o corpo padeça nossa memória (inteligência, consciência,...) não se perde, mas aos poucos vai se limitando ao mundo físico, até o ponto de não poder mais interagir e nada mais assimilar de conhecimento (experiência)... Morrendo a nossa mente que fez do cérebro sua morada transcende a sua matriz que está além do principio e fim de todas as coisas."

Paulinopax