sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

A Voz do Silêncio - Primeiro Fragmento

A Voz do Silêncio
Helena Blavatsky


Primeiro Fragmento - A Voz do Silêncio

Estas instruções são para aqueles que não conhecem os perigos dos Iddhi 1 inferiores.

Aquele que quiser ouvir a voz de Nada 2, o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana 3.

Tendo-se tornado indiferente aos objetos da percepção, deve o aluno procurar o Raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele que acorda a ilusão.

A Mente é a grande assassina do Real.

Que o discípulo mate o assassino.

Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um - o som interior que mata o exterior.

Então, e só então, abandonará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro.

Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne tornados cegos a toda a ilusão.

Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) tem de se tornar surda aos rugi dos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro.

Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao Falador Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro ao espírito do escultor.

Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se.

E então ao ouvido interior falará

A Voz do Silêncio

e dirá:

Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida; se a tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e de matéria; se a tua Alma chora dentro do seu castelo de ilusão; se a tua Alma se esforça por quebrar o fio de prata que a liga ao Mestre 4; sabe, ó discípulo, que a tua Alma é da terra.

Quando ao tumulto do mundo a tua Alma 5 que desabrocha dá ouvidos; quando à voz clamorosa da grande ilusão 6 a tua Alma responde; quando se assusta ao ver as lágrimas quentes da dor, quando a ensurdecem os gemidos da angústia, quando a Alma se retira, como a tartaruga tímida, para dentro da concha da personalidade, sabe, ó discípulo, que do seu Deus silencioso a tua Alma é um sacrário indigno.

Quando, já mais forte, a tua Alma vai saindo do seu retiro seguro; quando, deixando o sacrário protetor, estende o seu fio de prata e avança; quando, ao contemplar a sua imagem nas ondas do espaço, ela murmura, “Isto sou eu” - declara, ó discípulo, que a tua Alma está presa nas teias da ilusão 7.

Esta terra, discípulo, é a sala da tristeza, onde existem, pelo caminho das duras provações, armadilhas para prender o teu Eu na ilusão chamada “a grande heresia” 8.

Esta terra, ó discípulo ignaro, não é senão a triste entrada para aquele crepúsculo que precede o vale da verdadeira luz - essa luz que nenhum vento pode apagar, e que arde sem óleo nem pavio.

Diz a grande Lei: “Para te tornares o conhecedor da Personalidade Total 9, tens primeiro de conhecer a Personalidade”.

Para chegares ao conhecimento dessa Personalidade, tens de abandonar a personalidade à não-personalidade, o ser ao não-ser, e poderás então repousar entre as asas da Grande Ave.

Sim, suave é o descanso entre as asas daquilo que não nasce, nem morre, mas é o AUM 10 através de eras eternas 11.

Cavalga a Ave da Vida, se queres saber 12. Abandona a tua vida, se queres viver 13.

Três salas, ó cansado peregrino, conduzem ao fim dos trabalhos.

Três salas, ó conquista dor de Mara, te trarão através de três estados 14 até ao quarto 15, e daí até aos sete mundos 16, os mundos do descanso eterno.

Se queres saber os seus nomes, escuta-os e aprende-os.

O nome da primeira sala é Ignorância - Avidya.

É a sala em que viste a luz, em que vives e hás de morrer 17.

O nome da segunda sala é a Sala da Aprendizagem 18.

Nela a tua Alma encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma serpente enrolada 19.

O nome da terceira sala é Sabedoria, para além da qual se estende o mar sem praias de Akshara, a fonte indestrutível da onisciência 20 .

Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que o teu espírito não tome os fogos da luxúria que ali ardem pela luz do sol da vida.

Se queres atravessar seguramente a segunda, não pares a aspirar o perfume das suas flores embriagantes.

Se queres ver-te livre das peias cármicas, não procures o teu Guru nessas regiões mayávicas.

Os sábios não se demoram nas regiões de prazer dos sentidos.

Os sábios não dão ouvidos às vozes musicais da ilusão.

Procura aquele, que te dará o ser 21, na Sala da Sabedoria, a sala que está para além, onde todas as sombras são desconhecidas e onde a luz da verdade brilha como uma glória imorredoura.

Aquilo que é incriado está dentro de ti, discípulo, assim como está naquela sala.

Se queres possuí-lo, e unir as duas coisas, tens de despir os teus negros trajes de ilusão.

Abafa a voz da carne, não deixes que qual quer imagem dos sentidos se entreponha entre a sua luz e a tua, para que assim as duas se fundam em uma.

E, tendo aprendido a tua Ajnana 22, abandona a Sala da Aprendizagem.

Essa sala é perigosa pela sua beleza pérfida, e só é precisa para a tua provação.

Acautela-te Lanu, não vá a tua Alma, entontecida pelo brilho ilusório, demorar-se e enredar-se na sua luz enganadora.

Esta luz brilha na jóia do grande enganador (Mara) 23.

Enfeitiça os sentidos, cega o espírito e deixa o descuidado naufragado e sozinho.

A borboleta atraída para a chama da tua lâmpada noturna está condenada a ficar mor ta no azeite.

A alma incauta, que não pode defrontar-se com o demônio escarninho da ilusão, voltará ao mundo escrava de Mara.

Olha as hostes das Almas.

Vê como elas pairam sobre o mar tempestuoso da vida humana, e como, exaustas, sangrando, de asas quebradas, caem, uma após outra, nas ondas encapeladas.

Batidas pelos ventos ferozes, perseguidas pelos vendavais, são arrastadas para os sorvedouros e somem-se pelo primeiro grande vértice que encontram.

Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao vale da felicidade, fecha, discípulo, os teus sentidos à grande e cruel heresia da separação, que te afasta dos outros.

Que aquilo que em ti é de origem divina não se separe, engolfando-se no mar de Maya 24, do Pai Universal (a Alma), mas que o Poder de Fogo 25 se retire para a câmara interior, a câmara do coração 26, e o domicílio da Mãe do Mundo 27.

Então do coração esse poder subirá até à sexta região, à região média, ao lugar entre os teus olhos, quando se toma a respiração da Alma-Única, a voz que enche tudo, a voz do seu Mestre.

É só então que te podes tornar um “que anda nos céus” 28, que pisa os ventos por cima das ondas, cujo passo não toca nas águas.

Antes que ponhas o pé sobre o degrau superior da escada, da escada dos sons místicos, tens de ouvir de sete maneiras a voz do teu Deus interior 29.

A primeira é como a voz suave do rouxinol cantando à sua companheira uma canção de despedida.

A segunda vem como o som de um címbalo de prata dos Dhyanis, acordando as es trelas lucilantes.

A terceira é como o lamento melodioso de um espírito do oceano prisioneiro na sua concha.

E a esta segue-se o canto da vina 30.

A quinta, como o som de uma flauta de bambu, grita aos teus ouvidos.

Muda depois para um clamor de trompa.

A última vibra como o rumor surdo de uma nuvem de trovoada.

A sétima absorve todos os outros sons. Eles morrem, e não tornam a ouvir-se.

Quando os seis 31 estão mortos e postos aos pés do mestre, então se entrega o aluno no Único 32, se torna esse Único e nele vive.

Antes que possas entrar para esse caminho, tens de destruir o teu corpo lunar 33, e limpar o teu corpo mental 34, assim como o teu coração.

As águas puras da vida eterna, límpidas e cristalinas, não podem misturar-se com as torrentes lamacentas da tempestade de monção.

O orvalho do céu brilhando ao primeiro raio do sol no coração do lótus, quando cai na terra torna-se uma, gota de lama; vede como a pérola se tornou uma porção de lodo.

Luta com os teus pensamentos desonestos antes que eles te dominem. Trata-os como eles te querem tratar, porque, se os poupas, criarão raízes e crescerão, e repara, esses pensamentos dominarte-ão até que te matem. Acautela-te, discípulo, não deixes aproximar-se mesmo a sua sombra. Porque ela crescerá, aumentará em tamanho e poder, e então essa coisa escura observará o teu ser antes que te apercebas da presença do monstro hediondo e negro.

Antes que o poder místico 35 te possa fazer um Deus, Lanu, deves ter adquirido a faculdade de matar, quando quiseres, a tua forma lunar.

A pessoa da matéria e a Pessoa do Espírito nunca se podem encontrar.

Uma delas tem de desaparecer; não há lugar para ambas.

Antes que a mente da tua Alma possa compreender, deve a flor da personalidade ser esmagada em botão, e o verme dos sentidos destruído até não poder ressurgir.

Não podes caminhar no Caminho enquanto não te tornares, tu próprio, esse Caminho 36.

Que a tua Alma dê ouvidos a todo o grito de dor como a flor de lótus abre o seu seio para beber o sol matutino.

Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor antes que a tenhas limpado dos olhos de quem sofre.

Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração e aí fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.

Estas lágrimas, ó tu de coração tão compassivo, são os rios que irrigam os campos da caridade imortal. É neste terreno que cresce a flor noturna de Buda 37, mais difícil de achar, mais rara de ver, do que a flor da árvore Vogay. É a semente da libertação do renascer. Ela isola o Arhat tanto da luta como da lu xúria, leva-o através dos campos do ser para a paz e a felicidade que só se conhecem na terra do silêncio e do não-ser.

Mata o desejo; mas se o matares, cuida bem em que ele não renasça da morte.

Mata o amor da vida; mas se matares Tanha 38, que isso não seja pela ânsia da vida eterna, mas para substituir o evanescente pelo eterno.

Não desejes nada. Não te indignes contra o Carma, nem contra as leis imutáveis da natureza. Mas luta apenas com o pessoal, o transitório, o evanescente e o que tem de perecer.

Auxilia a natureza e trabalha com ela; e a natureza ter-te-á por um dos seus criadores, obedecendo-te.

E ela abrirá de par em par diante de ti as portas das suas câmaras secretas, desnudará ao teu ornar os tesouros ocultos nas profundezas do seu seio virgem. Impoluída pela mão da matéria, ela revela os seus tesouros apenas aos olhos do Espírito - os olhos que nunca se fecham, os olhos para os quais não há véu em todos os seus remos.

Então ela te mostrará o meio e a senda, a primeira porta, e a segunda, e a terceira, até à própria sétima porta. E então a meta, para além da qual estão, banhadas pelo sol do Espírito, glórias indizíveis, que só o olhar da Alma pode ver.

Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz, como o riso e soluço do chacal depois do sol se por; os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão consigo, como um escravo cativo.

Mata os teus desejos, Lanu; torna os teus vícios impotentes, até dares o primeiro passo na jornada solene.

Estrangula os teus pecados, torna-os mudos para sempre, antes que ergas um pé para subir a escada.

Faze calar os teus pensamentos e concentra toda a tua atenção sobre o teu Mestre, que tu por enquanto não vês, mas sentes.

Funde num só sentido todos os teus sentidos, se queres tomar-te seguro contra o inimigo. É só por aquele sentido que está oculto no vácuo do teu cérebro, que o caminho íngreme que conduz ao teu Mestre se pode revelar aos olhos indecisos da tua, Alma.

Longa e fatigante é a senda ante ti, ó discípulo. Um único pensamento a respeito do passado que abandonaste puxar-te-á para baixo, e terás novamente de começar a ascensão.

Mata em ti toda a recordação de experiências passadas. Não te voltes para trás ou estás perdido.

Não creias que a luxúria pode alguma vez ser morta se é satisfeita ou saciada, porque isso é uma abominação inspirada por Mara.

É alimentando o vício que ele se expande e torna forte, como o verme que se alimenta no seio da flor.

A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste paterna, antes que o para sita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.

A árvore dourada dá flores de jóia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.

O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido.

A luz do único Mestre, a única, eterna, luz dourada do Espírito, derrama os seus raios fulgurantes sobre o discípulo desde o princípio. Os seus raios atravessam as nuvens espessas e pesadas da matéria.

Ora aqui, ora ali, esses raios iluminam-na, como os raios do sol iluminam a terra através das espessas folhas da floresta. Mas, ó discípulo, a não ser que a carne seja passiva, a cabeça lúcida, a Alma firme e pura como um diamante que cintila, o fulgor não chegará à câmara, a sua luz do sol não aquecerá o coração, nem os sons místicos das alturas akashicas 39 chegarão ao ouvido, por atento que ele esteja, no estágio inicial.

A não ser que ouças, não poderás ver.

A não ser que vejas, não poderás ouvir. Ouvir e ver, eis o segundo estágio.

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Quando o discípulo vê e ouve, e quando cheira e gosta, com os olhos fechados, os ouvidos fechados, tapados o nariz e a, boca; quando os quatro sentidos se fundem e estão prontos a tornar-se o quinto, aquele do tato interior - então passou ele para o quarto estágio.

E no quinto, á matador dos teus pensamentos, todos estes têm de ser outra vez mortos até não ser possível reanimarem-se 40.

Retira a tua mente de todos os objetos externos, de todas as vistas externas. Retira as imagens internas, para que não lancem uma sombra negra sobre a luz da tua Alma.

Estás agora em Dharana 41, o sexto estágio.

Quando tiveres passado para o sétimo, ó bem-aventurado, não mais verás os Três sagrados 42, porque te terás, tu próprio, tornado esses Três. Tu próprio e a mente, como gêmeos sobre uma linha, a estrela que é o teu guia brilha por cima, nas alturas 43. Os Três que moram na glória e na felicidade inefáveis, agora perderam os seus nomes no mundo de Maya. Tornaram-se uma só estrela, o fogo que arde mas não queima, o fogo que é o Upadhi 44 da chama.

E isto, ó iogue do sucesso, é aquilo a que os homens chamam Dhyana 45, o verdadeiro precursor do Samadhi 46.

E agora a tua personalidade está perdida na Personalidade, tu para contigo próprio imerso naquela Personalidade de onde primeiro irradiaste.

Onde está a tua individualidade, Lanu, onde está o próprio Lanu? É a fagulha perdida no meio do fogo, a gota dentro do oceano, o raio de luz sempre presente tornado o Todo e o fulgor eterno.

E agora, Lanu, tu és o agente e a testemunha, o que irradia e a irradiação, a luz no som, e o som na luz.

Conheces, ó bem-aventurado, os cinco impedimentos. Tu és o seu conquistador, o mestre do sexto, libertador dos quatro modos da verdade 47 - A luz que cai sobre eles brilha de ti, à tu que foste discípulo, mas agora és professor.

E destes modos da verdade:

Não atravessaste tu o conhecimento de toda a dor - primeira verdade?

Não venceste tu o rei dos Maras em Tsi, a porta da reunião 48 - segunda verdade?

Não destruíste tu o pecado à terceira por ta, atingindo a terceira verdade?

Não entraste tu para Tau, o caminho que leva ao conhecimento 49 a quarta verdade?

E agora, descansa sob a árvore de Bodhi, que é a perfeição de todo o conhecimento, porque, sabe-o, és possuidor de Samadhi - o estado da visão infalível.

Vê! tornaste-te a luz, tornaste-te o som, és o teu Mestre e o teu Deus. Tu próprio és o objeto da tua busca: a voz sem falha, que ressoa através de eternidades, isenta de mudança, isenta de pecado, os sete sons em um,

A Voz do Silêncio.

Om Tat Sat.


sábado, 21 de dezembro de 2019

Jesus Cristo segundo São João - Capítulo 07

4. JESUS É A LUZ DO MUNDO (7,1-10,42)


Falta de fé dos parentes de Jesus - 1Depois disto, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. 2Estava próxima a festa judaica das Tendas. 3Disseram-lhe então os seus irmãos: «Vai para a Judeia, a fim de os teus discípulos verem as obras que fazes. 4Pois ninguém faz nada às escondidas, se pretende tornar-se conhecido. Se fazes coisas destas, mostra-te ao mundo.» 5Com efeito, nem sequer os seus irmãos criam nele.

6E Jesus disse-lhes: «Para mim ainda não chegou o momento oportuno; mas, para vós, qualquer oportunidade é boa. 7O mundo não pode odiar-vos; a mim, porém, odeia-me, porque sou testemunha de que as suas obras são más. 8Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa, porque o tempo que me está marcado ainda não se completou.» 9Depois de dizer isto, continuou na Galileia.

10Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo. 11Por isso, durante a festa, os judeus procuravam-no e perguntavam: «Onde é que Ele está?»

12E havia entre o povo grande murmuração a seu respeito. Uns diziam: «É um homem de bem». Outros, porém, afirmavam: «Não; o que Ele anda é a desencaminhar o povo!» 13No entanto, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.


Jesus ensina no templo - 14Já a festa ia a meio, quando Jesus subiu ao templo e se pôs a ensinar. 15Os judeus assombravam-se e diziam: «Como é que este é letrado, se não estudou?» 16Então, Jesus respondeu-lhes, dizendo: «A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. 17Se alguém está disposto a fazer a vontade dele, é capaz de ajuizar se a doutrina procede de Deus, ou se Eu falo por minha conta. 18Quem fala por sua conta procura a sua glória pessoal; mas, quem procura a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro e nele não há impostura. 19Porventura Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós cumpre a Lei. Porque me quereis matar?»

20Respondeu aquela gente: «Tu tens o demónio. Quem é que te quer matar?» 21Jesus replicou-lhes: «Eu realizei uma única obra e todos estão assombrados. 22Porque Moisés vos deu a lei da circuncisão - não é que ela venha de Moisés, mas dos Patriarcas - circuncidais um homem mesmo ao sábado. 23Se um homem recebe a circuncisão ao sábado, para não ser violada a Lei de Moisés, podereis indignar-vos comigo por ter curado completamente um homem ao sábado? 24Não julgueis pelas aparências; julgai com um juízo recto.»


Discussões acerca de Jesus; as suas revelações - 25Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam, para o matar? 26Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias? 27Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.»

28Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava: «Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. 29Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou.»

30Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado. 31Porém, dentre o povo, muitos creram nele e comentavam: «Quando vier o Messias, será que há-de realizar mais sinais miraculosos do que este?» 32Tal comentário do povo a respeito dele chegou aos ouvidos dos fariseus. Então, os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para prenderem Jesus.

33Entretanto, Jesus começou a dizer: «Já pouco tempo vou ficar convosco, pois irei para aquele que me enviou. 34Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver.»

35Os judeus, por isso, disseram entre si: «Para onde tenciona Ele ir, que não o possamos encontrar? Tenciona ir até aos que estão dispersos entre os gregos para pregar aos gregos? 36Que significam estas palavras que Ele disse: ‘Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver’?»

37No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! 38Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.»

39Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.

40Então, entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.» 41Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?! 42Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?» 43Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa.

44Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: «Porque é que não o trouxestes?» 46Os guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!» 47Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seduzidos? 48Porventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus? 49Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!»

50Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: 51«Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?» 52Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.»

53E cada um foi para sua casa.



Continua...

sábado, 14 de dezembro de 2019

Corpus Hermeticum XII

CORPUS HERMETICUM
De Hermes Trismegisto


XII - SOBRE O INTELECTO COMUM (HERMES A TAT)

1 - O intelecto, ó Tat, é tirado da própria substância de Deus, quanto a saber de que natureza é a essência, Deus é o único a conhecê-la exatamente. O intelecto, então, não é tirado da substancialidade de Deus mas advém a partir desta fonte, como a luz advém a partir do Sol. Nos homens este, intelecto é Deus: também alguns entre os homens são deuses e sua humanidade é muito próxima da divindade e com efeito o Bom Gênio (Agatodemon) nomeou os deuses como "homens imortais" e os homens "deuses mortais"; nos animais sem razão o intelecto é o instinto natural.
2 Onde há alma existe intelecto da mesma forma que onde há vida, há também alma. Mas nos animais irracionais, a alma é simplesmente vida pura, sem intelecto. Pois o intelecto presta seus benefícios somente às almas dos seres humanos: os faz em vista do bem. Nos animais sem razão, coopera com o instinto natural presente em cada um deles, enquanto na alma dos humanos age de encontro ao bem. Pois toda alma assim que entra num corpo é pervertida rapidamente pela pena e pelo prazer: pois a pena e o prazer são como os humores do corpo composto e que borbulham dentro de si e nos quais a alma afunda se macula.
3 Quando as almas se deixam comandar pelo intelecto, este faz aparecer a sua luz e se opõe às suas prevenções. Da mesma forma que um bom médico faz sofrer o corpo que encontra atingido pela moléstia queimando ou cortando a parte doente, também o intelecto faz sofrer a alma retirando-a do prazer, que é o princípio de onde deriva toda moléstia da alma. Ora a grande moléstia da alma é a negação de Deus, depois a opinião errônea de onde decorrem todos os males mas nada de bom. Assim o intelecto lutando contra esta moléstia confere o bem à alma como o médico dá ao corpo a saúde.
4 Por outro lado, quando as almas humanas não obtêm o intelecto por guia, sofrem a mesma condição que as almas dos seres sem razão. O intelecto coopera com elas, deixa livre curso às concupiscências, e as almas deixam-se levar pela violência de seus apetites para essas concupiscências que tendem ao irracional, e, como os animais sem razão, não deixam de se abandonar aos movimentos irracionais da cólera e da concupiscência e jamais encontram saciedade nos seus vícios: pois os movimentos irracionais da cólera e da concupiscência são os vícios maiores. E é a essas almas que Deus impôs o governo da lei para puni-las e convencê-las do pecado.
5 - Então, ó pai, a doutrina da fatalidade, que me expusestes recentemente, corre o risco de ser invertida. Pois se foi fixado absolutamente pelo destino que um tal ou qual seja adúltero ou sacrílego, ou cometa qualquer outro crime, será castigado ainda que tenha cometido o ato estritamente sob coerção da fatalidade? - Tudo é obra da fatalidade meu filho, e sem ela, nada pode acontecer no que se refere às coisas do corpo, nada de bom nem de mau. É a fatalidade que decretou também, que aquele que fez o bem sofra as conseqüências e por esta razão, agiu com o objetivo de provar, o que ele prova é porque agiu.
6 Mas eis o suficiente e até demasiado para o momento; este não é o instante de discorrer sobre o vício e a fatalidade. Nós falamos dele noutro momento, agora é sobre o intelecto que discorremos: qual é a potência do intelecto, quais diferenças que contém em si, nos humanos de uma forma, nos animais irracionais de outra forma, e de novo, que, se nos outros viventes não produz seus bons efeitos, mas é dissemelhante em todos segundo seja irascível ou concupiscente (e entre esses viventes é preciso tomar uns por humanos em possessão do verbo e outros por humanos privados do verbo), todos os humanos por outro lado são submetidos à fatalidade, ao nascimento e à mudança: eis o princípio e o fim da fatalidade.
7 Todos os humanos, portanto, sofrem as coisas fixadas pelo destino, mas os humanos em possessão do verbo, dos quais dizemos que neles o intelecto comanda, não as sofrem da mesma maneira que os outros: como são livres do mal, não é enquanto malvados que sofrem seu destino.
- Que queres dizer com isto, ó pai? O adúltero não é mau, o assassino não é mau, e da mesma forma todos os outros? - O ser humano em possessão do verbo, meu filho, não sofrerá por ter cometido adultério, mas sofrerá como se o tivesse cometido; não é por ter matado, mas como se tivesse matado. Pois, se não é possível escapar à condição da transformação, menos ainda à do nascimento; ao vício, contrariamente, quem possui o intelecto, pode se furtar. 8 É porque, meu filho, sempre ouvi o Bom Gênio dizer - e se ele o tivesse escrito e publicado, teria prestado um grande serviço ao gênero humano; pois somente ele, meu filho, enquanto Deus primogênito, contemplou verdadeiramente todo o conjunto dos seres e por esta razão proferiu palavras divinas: eu o ouvi dizer um dia que "tudo é um, e sobretudo os seres inteligíveis; que nós vivemos pela potência, pela energia e pelo Aíòn e que o intelecto deste, que é também seu eu, é bom. Nessas condições; não possui dimensão entre os inteligíveis; conseqüentemente então, se manda nas coisas e é o eu de Deus, o intelecto possui a potência de fazer tudo o que quer:
9 reflete e aplica esta doutrina à questão que me havias proposto, isto é, sobre a fatalidade e o intelecto.
Se afastas todos os argumentos capciosos encontrarás, meu filho, o intelecto dominando as coisas, isto é, o eu de Deus, sobre a fatalidade, sobre a lei, e todo o resto; e que nada lhe é impossível, nem mesmo o estabelecimento da alma humana acima da fatalidade, nem, se esta é negligente o submetê-la ao julgo da fatalidade. Eis bem relatadas as proposições do Bom Gênio.
- Estas são palavras divinas, verdadeiras e úteis, ó pai.
10 Mas esclarece-me ainda sobre este ponto. Disseste que nos animais irracionais, o intelecto age à maneira do instinto, pois coopera com seus impulsos. Ora os impulsos dos animais irracionais são, pelo menos o suponho, paixões. Se o intelecto coopera com os impulsos e se esses impulsos são paixões, o intelecto também é uma paixão pois tem contato com as paixões?

- Bem exposto, meu filho. Eis uma excelente questão e é justo que eu a responda.
11 Todos os incorpóreos alojados em um corpo são passíveis, meu filho, e a bem dizer, são paixões. Efetivamente todo motor é incorpóreo, todo móvel é corpo; ora os incorpóreos também estão em movimento, movidos pelo intelecto e o movimento é uma paixão; de modo que um e outro são sujeitos, o motor e o móvel, pois um comanda, o outro, por ser comandado. Mas quando o intelecto é separado do corpo, separa-se também da paixão. Talvez seja melhor dizer que nada é impassível, mas que o inverso é que se verifica. A paixão difere do passível. Com efeito, uma é ativa, e outra passiva. Ora os corpos também são ativos por si mesmo. Ou são imóveis ou movidos. Num caso ou no outro existe a paixão. Quanto aos incorpóreos, sempre sofrem a ação e por isso são passíveis. Não te enganes com essas designações: ação e paixão, tudo é um. Mas não existe mal algum em se servir do termo mais favorável.
12 - Explicastes da maneira mais clara, ó pai. - Considera ainda isto, meu filho, Deus gratificou o ser humano, único entre os animais mortais, com esses dois dons: o intelecto e o verbo, que têm o mesmo valor que a imortalidade (O ser humano possui também o verbo proferido). Ora se o ser humano emprega esses dons para os fins que convém, não diferirá em nada dos imortais; uma vez liberto do corpo, será guiado por um e pelo outro para o coro dos deuses e dos bem-aventurados.
13 Os outros animais, ó pai, não se utilizam da palavra? - Não, criança, possuem apenas a voz. Ora, a palavra difere absolutamente da voz. A palavra é comum à todos os humanos, ao passo que cada espécie de animal tem sua própria voz. - Mas entre os humanos também, ó pai, a palavra não difere segundo cada raça? - Difere indubitavelmente, meu filho, mas a humanidade é apenas uma: desta forma a palavra também é uma, traduz-se de língua, e descobre-se que é a mesma no Egito, na Pérsia bem como na Grécia.
Parece-me que desconheces toda a virtude e grandeza do verbo. O Bom Gênio, deus bem- aventurado, disse: "A alma está no corpo, o intelecto na alma, o verbo no intelecto, Deus é portanto o pai de todos."
14 O verbo é portanto a imagem e o intelecto de Deus (o corpo é a imagem da idéia, a idéia e imagem da alma). O que há de mais sutil na matéria é o ar, no ar a alma, na alma o intelecto, no intelecto-Deus. Deus envolve e penetra tudo, o intelecto envolve a alma, a alma envolve o ar, o ar envolve a matéria.
A necessidade, a providência e a natureza são os instrumentos da ordem e do belo ordenamento da matéria. Entre os inteligíveis, cada um é uma essência, a sua essência é a identidade; contrariamente, entre os corpos do Todo, cada um deles é pluraridade: de fato, como os corpos compostos possuem sua identidade na transformação de um em outro, conservam indestrutível a identidade: 15 Do outro ponto de vista, em todos os corpos compostos em geral, existe um número próprio a cada um deles. Pois, sem número, é impossível a produção de combinação; composição e dissolução: essas são as unidades que engendram o número, que o aumentam e que de novo, quando se dissolve, o recebem nelas mesmas, embora a matéria permaneça única. Ora este mundo inteiro, esse grande deus, imagem do maior deus, unido a ele e conservando com ele a ordem e a vontade do Pai, é a totalidade da vida: não há nada nele através de toda eterna duração do giro cíclico desejado pelo Pai, nem em sua universidade nem em suas partes, que não esteja viva. Nunca existiram coisas mortas, não existem, nem virão a existir no mundo. É vivo que o Pai quis fosse, o mundo, tanto tempo faz que guarda a coesão: logo, o mundo é necessariamente deus.
16 Como poderia então, meu filho, nesse que é deus, nesse que é a imagem de Todo, nesse que é o pleroma da vida, existir coisa morta? Pois a morte é corrupção e a corrupção é destruição. Como supor que se corrompe uma parte desse que é incorruptível ou que seja destruída qualquer coisa de Deus?
- Os viventes que estão no mundo não morrem, meu pai, ainda que sejam partes do mundo? - Cala-te, minha criança, pois te deixas induzir em erro pela denominação do fenômeno. Pois os viventes não morrem, meu filho, mas, sendo corpos compostos se dissolvem: ora esta dissolução não é morte, mas dissolução de uma mistura. E se eles se dissolvem, não é para serem destruídos, mas para serem renovados. Qual é com efeito a energia da vida? Não é o movimento? O que existe no mundo que seja imóvel meu filho? Nada, meu filho.
17 - Mas a terra não te parece imóvel, ó pai? - Não, filho; contrariamente, de todos os seres, ela é a única sujeita a uma série de movimentos e ao mesmo tempo estável. Como não seria ridículo supor imóvel a esta nutriz de todos os seres, aquela que faz nascer e gera as coisas? Sem movimento é impossível àquele que faz nascer, fazer nascer seja lá o que for. É realmente ridículo perguntar, como fazes, se a quarta parte do mundo pode ser inerte, pois ser imóvel para um corpo não abriga outro sentido que ser inerte.
18 Saiba então, criança, que tudo o que está no mundo, tudo sem exceção, está em movimento, seja por diminuir, seja por creseer. Ora o que está em movimento também está em vida, mas não há necessidade que todo ser vivente conserve sua identidade. Pois sem dúvida, considerado na totalidade de seu conjunto o mundo é imutável, minha criança, mas as partes desse mundo são todas mutáveis, sem que nada por isso pereça ou seja destruído: são esses termos apenas que turbam os nossos espíritos. Pois não é o fato de nascer que é a vida, mas a consciência, e a transformação não é a morte, mas esquecimento. Se é desta forma, então todos esses elementos são imortais, a matéria, a vida, o sopro, o intelecto, de que se compõe cada vivente.
19 Todo vivente é portanto imortal pelo intelecto. Mas o mais imortal de todos é o ser humano, pois é capaz de receber Deus e de entrar em união com Deus. É com este único vivente que Deus se comunica, durante a noite em meio aos sonhos, durante o dia através de presságios, e lhe prediz o futuro por toda uma variedade de meios, pelos pássaros, pelas entranhas das vítimas, pela inspiração, pelo carvalho. De modo que o ser humano também se esforça em conhecer o passado, o presente e o futuro.
20 E veja isto, ainda, criança, que cada um dos animais freqüenta apenas uma parte do universo, os animais aquáticos, a água; os animais terrestres, a terra; os voláteis, o ar; o ser humano contrariamente tem relação com todas as partes igualmente, a terra, a água, o ar, o fogo e mesmo o céu, ele o vê e entra em contato com o mesmo através da sensação. Deus envolve a tudo e penetra em tudo porque é energia e potência. E não existe nada de difícil em conceber Deus, meu filho.
21 E se queres contemplá-lo, vê o belo arranjo do mundo e a bela ordem desse arranjo. Vê a necessidade de tudo o que se oferece à nossa vista e a providência que regula as coisas do passado e as que se produzem hoje. Vê como a matéria é plena de vida. Vê esse deus imenso em movimento com todos os seres que contém, bons e belos, os deuses, os daimons, os humanos. - Mas tudo isto, ó pai, é energia. - Admitamos que existam apenas energias, criança, por quem estas energias são colocadas em ato? Por um outro deus? Não vês que como são partes do mundo o céu, a água, a terra e o ar, da mesma forma são membros de Deus a vida, a imortalidade, a necessidade, a providência, a natureza, a alma, e o intelecto, e que é a permanência de todas essas coisas que se chama Bem? E que não existe absolutamente nada, nem nas coisas atuais, nem passadas, onde Deus não esteja presente?
22 - Deus é na matéria, ó pai? - Supõe meu filho que a matéria exista separada de Deus, que lugar vais destinar-lhe, ó meu filho? E que acreditas que ela seja além de uma massa confusa, enquanto não é utilizada? E se é utilizada, por quem o é? Pois as energias que operam, nós o dissemos, são partes de Deus. Por quem então são vivificados todos os seres viventes? Por quem são imortalizados os seres imortais? Quem produz as mudanças nos seres mutáveis? Quando falas da matéria, ou do corpo, ou da substância, sabes que essas são energias de Deus, energia da matéria, a materialidade; energia dos corpos, a corporalidade; energia da substância, a substancialidade; e Deus é isto, o Todo. 23 No Todo nada há que Deus não seja. Logo nenhum destes predicados pode ser atribuído a Deus: grandeza, lugar, qualidade, forma, tempo; pois Deus é tudo; e o Todo penetra as coisas e as envolve. Adora esse Verbo e presta-lhe culto. E só existe um modo de cultuar a Deus: não ser mau.

Continua...

sábado, 7 de dezembro de 2019

Reflexão Casual LXXX‏‏V‏I‏I‏I



"Somos extensão do cosmo aqui na terra, podendo ou não está em unidade com o universo, pois pelo despertar da consciência é que transcendemos ao criador em harmonia com toda a criação."

Paulinopax

sábado, 23 de novembro de 2019

A Voz do Silêncio

A Voz do Silêncio
Helena Blavatsky


Prefácio

As páginas seguintes são extraídas do Livro dos Preceitos de Ouro, uma das obras lidas pelos estudiosos do misticismo no Oriente. O seu conhecimento é obrigatório naquela escola cujos ensinamentos são aceitos por muitos teosofistas. Por isso, como sei de cor muitos destes preceitos, o trabalho de traduzi-los foi para mim fácil tarefa. É bem sabido que na Índia os métodos de desenvolvimento psíquico divergem segundo os Gurus (professores ou mestres), não só porque eles pertencem a diferentes escolas filosóficas, das quais há seis, mas também porque cada Guru tem o seu sistema, que em geral mantém cuidadosamente secreto. Mas, para além dos Himalaias, não há diferença de métodos nas escolas esotéricas, a não ser que o Guru seja simplesmente um Lama, pouco mais sabendo do que aqueles a quem ensina. A obra, de onde são os trechos que traduzo, forma parte da mesma série de onde são tiradas as estrofes do Livro de Dzyan sobre que A Doutrina Secreta se baseia. Juntamente com a obra mística chamada Paramartha, a qual segundo nos diz a lenda de Nagarjuna, foi ditada ao grande Arhat pelos Nagas ou serpentes - nome dado aos antigos iniciados - o Livro dos Preceitos Áureos invoca a mesma origem. As suas máximas e conceitos, porém, por nobres e originais que sejam, encontram-se muitas vezes, sob formas diversas, em obras sânscritas, tais como o Jnaneshevari, esse soberbo tratado místico em que Krishna descreve a Arjuna, em cores brilhantes, a condição dum iogue plenamente iluminado; e ainda em certos Upanishads. Isto, afinal, é naturalíssimo, visto que quase todos, senão todos, os maiores Arhats, os primeiros seguidores do Gautama Buda, foram hindus e árias, e não mongóis, sobretudo aqueles que emigraram para o Tibete. As obras deixadas apenas por Aryasanghas são, por si só, numerosíssimas. Os preceitos originais estão gravados sobre lâminas oblongas delgadas; as cópias, muitas vezes, sobre discos. Estes discos ou chapas são geralmente conservados nos altares dos templos ligados aos centros onde estão estabelecidas as chamadas escolas "contemplativas" ou Mahayana (Yogacharya). Estão escritos de diversas maneiras, às vezes no idioma tibetano, mas principalmente em idéografos. A língua sacerdotal (senzar), além de por um alfabeto seu, pode ser traduzida em várias maneiras de escrita em caracteres cifrados, que têm mais de ideogramas do que de sílabas. Um outro método (lug, em tibetano) é o de empregar os números e as cores, cada um dos quais corresponde a uma letra do alfabeto tibetano (trinta letras simples e setenta e quatro compostas), formando assim um alfabeto criptográfico completo. Quando se empregam os idéografos há uma maneira certa de ler o texto, pois, neste caso, os símbolos e os sinais usados na astrologia, isto é, os doze animais zodíacos e as sete cores primárias, cada uma tripla em seu matiz (claro, primário e escruro), representam as trinta e três letras do alfabeto simples, formando palavras e orações. Porque, neste método, os doze animais, cinco vezes repetidos e juntos aos cinco elementos e às sete cores, compõem um alfabeto completo de de setenta letras sagradas e doze signos. Um signo posto no princípio de um parágrafo indica se o leitor tem de soletrar segundo o modo índio (em que cada palavra é apenas uma adaptação, sânscrita), ou segundo o princípio chinês de ler os ideógrafos. O método mais fácil é, porém, aquele que não deixa o leitor empregar qualquer língua especial, ou o que quiser, visto que os sinais e os símbolos eram, como os números ou algarismos arábicos, propriedade comum e internacional entre os místicos iniciados e os seus seguidores. A mesma peculiaridade é característica de uma das maneiras chinesas de escrever, que pode ser lida com igual facilidade por qualquer pessoa conhecedora dos caracteres: por exemplo, um japonês pode lê-la na sua língua tão prontamente como um chinês na sua.
 
        O Livro dos Preceitos Áureos - alguns dos quais são pré-budísticos, ao passo que outros pertencem a um época posterior - contém uns noventa pequenos tratados distintos. Destes aprendi de cor, há muitos anos, trinta e nove. Para traduzir os outros, teria de me referir a apontamentos dispersos entre um número de papéis e notas, representando um estudo de 20 anos e nunca postos em ordem, demasiado grande para que a tarefa fosse fácil. Nem poderiam ser, todos, traduzidos e dados a um mundo por demais egoísta e atado aos objetos dos sentidos, para que pudesse estar preparado a receber, com a devida atitude do espírito, uma moral tão elevada. Porque, a não ser que um homem se entregue perseverantemente ao culto do conhecimento de si próprio, nunca poderá de bom grado dar ouvidos a conselhos desta natureza. E, contudo, esta moral enche tomos e tomos da literatura oriental, sobretudo nos Upanishads. "Mata todo o desejo de viver" - diz Krishna a Arjuna. Esse desejo mora apenas no corpo, veículo do ser encarnado, e não na própria Individualidade, que é "eterna, indestrutível, que não mata nem é mortal".) "Mata a sensação", ensina o Sutta Nipata; "olha do mesmo modo para o prazer e para a dor, para o ganho e para a perda, para a vitória e para a derrota". E ainda "busca abrigo só no eterno" (ibid.) "Destrói o sentido da existência separada" - repete Krishna de variadas maneiras. "O Espírito (Manas), que segue os sentidos vagabundos torna a alma (Budhi) tão inerte como o barco que o vento arrasa sobre as águas" (Bhagavad Gita, II 67). Por isso se julgou melhor fazer uma escolha judiciosa só entre aqueles tratados que mais sirvam aos poucos verdadeiro místicos que há na Sociedade Teosófica, e que com certeza se ajustem às suas necessidades. Só esses compreenderão estas palavras de Krishna-Christos, a Personalidade Superior. "Sábios, não choreis nem pelos vivos nem pelos mortos. Nunca deixei de existir, nem vós, nem estes reis dos homens; nem no futuro deixará qualquer um de nós de existir" (Bhagavad Gita, II 11-12).


sábado, 16 de novembro de 2019

Jesus Cristo segundo São João - Capítulo 06

3. JESUS É O PÃO DA VIDA (6,1-71)


MULTIPLICAÇÕES DOS PÃES E DOS PEIXES (Mt 14,13-21; 15,32-38; Mc 6,34-44; 8,1-9; Lc 9,10-17) - 1Depois disto, Jesus foi para a outra margem do lago da Galileia, ou de Tiberíades. 2Seguia-o uma grande multidão, porque presenciavam os sinais miraculosos que realizava em favor dos doentes. 3Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos.

4Estava a aproximar-se a Páscoa, a festa dos judeus. 5Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?» 6Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer.

Filipe respondeu-lhe: 7«Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho.» 8Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: 9«Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?» 10Jesus disse: «Fazei sentar as pessoas.»

Ora, havia muita erva no local. Os homens sentaram-se, pois, em número de uns cinco mil. 11Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados, tal como os peixes, e eles comeram quanto quiseram. 12Quando se saciaram, disse aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». 13Recolheram-nos, então, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada que sobejaram aos que tinham estado a comer.

14Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!» 15Por isso, Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte.


JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS (Mt 14,22-33; Mc 6,45-52) - 16Ao cair da tarde, os seus discípulos desceram até ao lago 17e, subindo para um barco, foram atravessando o lago em direcção a Cafarnaúm. 18Já tinha escurecido e Jesus ainda não fora ter com eles. Soprando uma forte ventania, o lago começou a agitar-se.

19Depois de terem remado mais ou menos uma légua, avistaram Jesus que se aproximava do barco, caminhando sobre o lago, e tiveram medo. 20Mas Ele disse-lhes: «Sou Eu, não tenhais medo!» 21Quiseram recebê-lo logo no barco, e o barco chegou imediatamente à terra para onde iam.


DISCURSO DO PÃO DO CÉU - 22No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do lago reparou que ali não estivera mais do que um barco, e que Jesus não tinha entrado no barco com os seus discípulos, mas que estes tinham partido sozinhos. 23Entretanto, chegaram outros barcos de Tiberíades até ao lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, a multidão subiu para os barcos e foi para Cafarnaúm à procura de Jesus. 25Ao encontrá-lo no outro lado do lago, perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste cá?» 26Jesus respondeu-lhes:

«Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. 27Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo.» 28Disseram-lhe, então: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» 29Jesus respondeu-lhes: «A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou.» 30Eles replicaram: «Que sinal realizas Tu, então, para nós vermos e crermos em ti? Que obra realizas Tu? 31Os nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele deu-lhes a comer o pão vindo do Céu.»

32E Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu, mas é o meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do Céu, 33pois o pão de Deus é aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo.» 34Disseram-lhe então: «Senhor, dá-nos sempre desse pão!» 35Respondeu-lhes Jesus:

«Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim jamais terá sede. 36Mas já vo-lo disse: vós vistes-me e não credes. 37Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, 38porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. 40Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.»

41Os judeus puseram-se, então, a murmurar contra Ele por ter dito: ‘Eu sou o pão que desceu do Céu’; 42e diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a mãe? Como se atreve a dizer agora: ‘Eu desci do Céu’?»

43Jesus disse-lhes, em resposta: «Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair; e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. 45Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus. Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a mim. 46Não é que alguém tenha visto o Pai, a não ser aquele que tem a sua origem em Deus: esse é que viu o Pai. 47Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. 58Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto, mas morreram. 50Este é o pão que desce do Céu; se alguém comer dele, não morrerá. 51Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo.»

52Então, os judeus, exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?!» 53Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, 55porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. 56Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. 57Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim. 58Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.»

59Isto foi o que Ele disse em Cafarnaúm, ao ensinar na sinagoga.


REACÇÃO DOS DISCÍPULOS - 60Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» 61Mas Jesus, sabendo no seu íntimo que os seus discípulos murmuravam a respeito disto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos?

62E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? 63É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos disse são espírito e são vida. 64Mas há alguns de vós que não crêem.» De facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam e também quem era aquele que o havia de entregar. 65E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe for concedido pelo Pai.»

66A partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não andavam com Ele. 67Então, Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» 68Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! 69Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.»

70Disse-lhes Jesus: «Não vos escolhi Eu a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo.» 71Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes, pois esse é que viria a entregá-lo, sendo embora um dos Doze.


Continua...

sábado, 9 de novembro de 2019

Corpus Hermeticum XI

CORPUS HERMETICUM
De Hermes Trismegisto


XI - DE NOÚS A HERMES

Retenha bem meu discurso, Hermes Trismegistos, e mantenha na memória o que te digo. Quanto a mim, não hesitarei a declarar o que me vai no espírito. - Falou-se bem e muito relativamente ao Todo, a Deus e estes assuntos são contraditórios, tanto que não consegui, no que me concerne, apreender a verdade: esclareça-me sobre o assunto, Senhor. Pois é a ti e a ti somente que me será possível crer, se desejas desvelar-me a questão.
Escuta então, o que concerne a Deus e ao Todo. Deus, a eternidade, o mundo, o tempo, o futuro.
Deus fez a Eternidade, a Eternidade fez o mundo, o mundo fez o tempo, o tempo fez o futuro. De Deus, a essência por assim dizer é (o bem, o belo, a beatitude) a sabedoria; da eternidade é a identidade; do mundo é a boa ordem; do tempo é a mudança; do futuro é a vida e a morte. Deus tem por energia o intelecto e a alma; a Eternidade a duração e a imortalidade; o mundo o apocatastasis e o apocatastásis oposto; o tempo o crescimento e o decrescimento; o futuro e qualidade e a quantidade. Assim a Eternidade está em Deus; o mundo na Eternidade, o tempo no mundo, o futuro no tempo. E enquanto a Eternidade se mantém imóvel em Deus, o mundo está em movimento na Eternidade o tempo se cumpre no mundo e o futuro se desenrola no tempo
3 Deus é portanto a fonte das coisas, a Eternidade lhes é essência e o mundo a matéria. A Eternidade é a Potência de Deus, e a obra da Eternidade é o mundo, que não tem começo, mas que é continuamente no futuro pela ação da Eternidade. Eis porque tudo o que está nesse mundo não perecerá jamais (pois a Eternidade é imperecívell nem será destruído, porque o mundo está totalmente envolvido pela Eternidade. - Mas o que é a Sabedoria de Deus? - É o bem e o belo e a beatitude e a virtude total da Eternidade. A Eternidade faz do mundo uma ordem, introduzindo a imortalidade e a duração na matéria.
4 Com efeito, o devir da matéria depende da Eternidade, como a Eternidade depende de Deus. O devir e o tempo se encontram no céu e na terra, mas possuem duas naturezas diferentes: no céu não se transformam e são imperecíveis, na terra são mutáveis e perecíveis. E da Eternidade Deus é a alma, do mundo é a Eternidade, da terra é o céu. Deus está no intelecto, o intelecto na alma, a alma na matéria: e todas essas coisas subsistem, através da Eternidade. Todo esse grande corpo no qual se acham contidos os corpos, uma alma plena de intelecto e de Deus o completa no interior e o envolve no exterior, vivificando o Todo no exterior desse vasto e perfeito vivente que é o mundo, no interior de todos os viventes e no alto, no céu dura sem mudar, idêntica a si mesma, embora embaixo, na terra, produza as variações do devir.
5 É a Eternidade que mantém coeso todo esse mundo, por meio da necessidade, ou da providência, ou da natureza, ou de seja lá o que for que se possa pensar hoje ou depois. E tudo que produz pela sua atividade, é Deus, e a energia de Deus, força insuperável, e à qual não se podem comparar as coisas humanas ou divinas. Por esta razão, ó Hermes, nunca vá pensar que alguma das coisas daqui de baixo ou de cima são semelhantes a Deus, pois te afastarás da verdade: efetivamente nada há de semelhante ao Dissemelhante, Só e único. E não  pense também que ele dá parte de sua potência seja lá a quem for. Existe depois dele algum outro criador da vida, da imortalidade, da transformação? E ele que poderá fazer além de criar? Pois Deus não é inativo, de outra forma o Universo também seria inativo: pois tudo é pleno de Deus. Mas, de fato, não se verifica inatividade em parte alguma, nem no mundo, nem em qualquer outro ser que seja. Inatividade é uma palavra vazia, relativamente àquele que criou e àquele que vem a ser.

6 Ora é necessário que tudo venha a ser, e sempre, segundo a influência própria a cada lugar. Pois aquele que cria está em todos os seres, não permanece fixado em um deles e não  criou um apenas, mas todos: pois sendo uma força sempre atuante não tira sua suficiência dos seres criados mas são os seres criados que lhe são submissos.
Contempla, por mim o mundo que se oferece à tua visão e considera atentamente sua bondade: esse corpo sem mácula que nada ultrapassa em antigüidade, eternamente na força da idade e jovem, e sempre mais florescente!
7 Vê também a hierarquia dos sete céus formados em boa ordem segundo uma disposição eterna, preenchendo cada um por um curso diferente a eternidade. Vê todas as coisas repletas de luz sem que haja fogo em parte alguma: pois a amizade e combinação dos contrários e dos dissemelhantes tornou-se luz, repleta embaixo pela energia do deus que é gerador de todo bem, chefe e condutor de toda a boa ordem dos sete céus. Veja a lua que corre à frente de todos esses céus, instrumento da vida física, transformando a matéria daqui de baixo. Veja a terra, estabelecida no meio do Todo, bem estabelecida como fundamento deste mundo tão belo, nutriz dos seres terrestres. Considera ainda quão grande é a multiplicidade dos viventes imortais, imensa aquela dos mortais e veja, mediatriz entre mortais e imortais, a lua que prossegue sua ronda.
8 Tudo está cheio de alma, todos os seres estão em movimento, uns no céu, outros na terra e nem os que devem estar à esquerda seguem à direita e nem aqueles que devem estar à direita seguem à esquerda, nem os que devem estar no alto estão embaixo, nem os que devem estar embaixo estão no alto. Que todos esses seres foram produzidos, caríssimo Hermes, não precisas ouvir de minha boca: esses são com efeito os corpos, possuem uma alma, e são movidos. Ora todos esses corpos não podem convergir para um único ser sem alguém que os reúna. É preciso portanto que esse alguém exista e seja absolutamente único.
9 Pois, como os movimentos são diversos e múltiplos e como os corpos são dissemelhantes, como, portanto, a velocidade total imposta a esses corpos é única, não podem existir dois ou mais criadores: realmente, quando se é múltiplo não se mantém a unidade da ordem e não se pode ser múltiplo sem que resulte ciúme relativamente ao mais possante. E eu te direi, suponha que haja um segundo criador para os viventes mutáveis e mortais, seria tomado então do desejo de criar também os imortais e da mesma forma o criador dos imortais quereria criar os mortais. E mais ainda, suponha que existam dois enquanto que a matéria é uma e a alma uma, a qual dos dois pertencerá o cuidado de efetuar a criação? E se o cuidado pertence a ambos, qual dos dois tomará maior parte nele?
10 Pensa que todo corpo vivente é composto de matéria e de alma, tanto o imortal quanto o mortal, tanto o racional quanto o irracional. Pois todos os corpos viventes são animados e os não viventes são simplesmente a matéria que subsiste à parte nela mesma, deposta que está entre as mãos do criador e é então o criador dos imortais que é o autor da vida: como não criaria também os outros viventes que não imortais?
11 Que existe alguém que criou estas coisas é evidente. E agora está absolutamente manifesta a sua unicidade: na verdade a alma é uma, a vida é uma, a matéria é uma. Qual é então esse criador? Quem pode ser ele senão o único Deus? A quem seria conveniente criar viventes providos de alma, se não a Deus somente? Deus é portanto único. É coisa evidentemente visível! Reconheceste que o mundo é sempre um, o sol um, a lua uma, a atividade divina uma, e queres que Deüs seja membro de uma série?
12 É Deus, portanto, que sozinho criou as coisas. E o que há de maravilhoso no fato de Deus ter criado ao mesmo tempo: a vida, a imortalidade, as transformações, se fazes, também, tantas coisas diversas? Pois vês, falas, escutas, cheiras, tocas, andas, pensas, respiras, e não é um outro que fala, que escuta, um outro que cheira, um outro que anda, um outro que pensa e um outro que respira, mas é um único ser que faz tudo isto. E as atividades divinas também não podem ser separadas de Deus. Pois se paras de fazer estes atos, não és mais um vivente e o mesmo se dá com Deus, pois se cessa de o fazer, coisa ímpia de se dizer, não é mais Deus.

13 Pois se demonstraste que não podes existir sem alguma atividade, quanto mais Deus! Com efeito, se existe alguma coisa que não crie, Deus, coisa ímpia de se dizer, é imperfeito; e se Deus não é inativo, mas contrariamente perfeito, é porque criou todas as coisas.
Se quiseres, ó Hermes, prestar-me um pouco de atenção, conceberás que Deus possui apenas uma obra, é fazer com que as coisas venham a ser, o que vem, o que veio há um momento, o que virá no futuro. É isto, caríssimo, que é a vida, que é o belo, que é o bem, é isto que é Deus.
14 E se quiseres compreendê-lo pela tua própria experiência, percebe o que se passa em ti quando queres engendrar. Verdadeiramente quando se trata de Deus, o ato de engendrar não é nem um pouco semelhante: Deus seguramente não encontra prazer sensível e não possui nenhum colaborador. Com efeito, como opera sozinho, sempre é imanente à sua obra, sendo ele mesmo o que ele produz. Pois se suas criaturas fossem separadas dele, dobrar-se-iam e pereceriam necessariamente, não mais possuindo vida. Mas, como tudo é vivente e como a vida também é uma, Deus é certamente único. Por outro lado, já que tudo é vivo, os seres do céu e os da terra, e como a vida é única em todos, é produzida por Deus e é ela que é Deus, é portanto pela ação de Deus que todas as coisas vêm a ser e a vida é a união do intelecto e da alma. Quanto à morte, ela não é a destruição dos elementos reunidos, mas ruptura da união.
15 Assim como a Eternidade é a imagem de Deus, o mundo imagem da Eternidade, o Sol imagem do mundo, o ser humano é a imagem do Sol. Quanto à transformação, é chamada morte porque o corpo se dissolve enquanto a vida se dissipa no invisível. Ora os seres que se dissolvem desta maneira, meu caríssimo Hermes, e o mundo, declaro que se transformam pelo fato de que, a cada dia, uma parte do mundo vai para o invisível, mas não que se dissolvam. E eis o que são as paixões do mundo: rotações e desaparições. Ora a rotação é revolução, e desaparição é renovação.
16 Destarte o mundo é omniforme, não que possua as formas abrigadas em si, é em si mesmo que ele se transforma. E sendo então o mundo omniforme, o que pode ser aquele que o criou? Não digamos que seja sem forma! Por outro lado, se também é omniforme, é semelhante ao mundo. Mas e se ele possui apenas uma forma? Será sob este ponto de vista inferior ao mundo. Que diremos que ele é para não deixar o discurso sem término? Pois nada é inconcluso na nossa concepção de Deus. Deus possui apenas uma figura - se alguma figura é própria a Deus
- que não se oferece aos olhos corporais - incorpórea, e desvela todas as formas por meio do corpo.
17 E não te espantes que possa existir uma figura incorpórea, ela existe efetivamente, como a figura da palavra. E da mesma forma, nas pinturas, vêem-se cimos de montanhas se elevando muito acima, quando na verdade são chatas e lisas. Examina ainda o que acabo de te dizer de um ponto de vista mais ousado, mas também mais verdadeiro. Da mesma forma que o ser humano não pode existir sem a vida, Deus também não o pode sem produzir o bem. É isto precisamente que é a vida e movimento de Deus, o fato de mover todos os seres e de lhes dar a vida.
18 Certos termos devem ser tomados em uma acepção particular, considera por exemplo o seguinte argumento. Todos os seres estão em Deus, mas não estão colocados como em um lugar, (na verdade o lugar é um corpo, e um corpo imóvel, e o que está no lugar não possui movimento): mas é de uma outra maneira que estão colocados na faculdade incorpórea de representação. Concebe então aquele que contém todos os seres e compreende que não há nada que possa circunscrever o incorpóreo, nem que seja mais rápido e possante que ele, de fato é o incorpóreo que é incircunscritível, mais rápido e possante que todos os seres.
19 Julga-o também da maneira seguinte, segundo os teus critérios. Ordena à tua alma que esteja na Índia e eis que, mais rápida que tua ordem lá estará, não por ter viajado de um local e outro, mas como se já estivesse lá. Ordena que voe para o céu, e não necessitará a mesma de asas: nada pode impedi-la, nem o fogo do sol, nem o éter, nem a revolução do céu, nem os corpos dos outros astros: mas, cortando todos os espaços, subirá em seu vôo até ao último dos corpos.

E se quiseres passar a abóbada do universo e contemplar o que existe além dela (se é que algo existe depois dela): tu o podes.
20 Vês que potência, que velocidade possuis! E se podes tudo isto, Deus não o poderia? É desta maneira então que deves conceber Deus: tudo que é contido nele como pensamentos, o mundo, ele mesmo, o Todo. Se não te fazes igual a Deus, não podes compreender a Deus: pois o semelhante só é inteligível ao semelhante. Faça-te crescer até corresponder à grandeza sem medida, por um salto que te libere de todo corpo; eleva-te acima de todo tempo, torna-te o Aíòn: então compreenderás Deus. Sabendo que não é impossível para ti, estima-o imortal e capaz de tudo compreender, toda arte, toda ciência, o caráter de todo ser vivente. Sobe acima de toda altura, desce mais que toda profundidade, reúna em ti as sensações de todo o criado, do fogo e da água, do seco e do úmido, imaginando que estás ao mesmo tempo na terra, no mar, no céu e que ainda não nasceste e que estás no ventre materno, que és adolescente, ancião, que estás morto e que estás além da morte. Se alcanças com o pensamento essas coisas ao mesmo tempo: tempo, lugar, substância, qualidade, quantidade, podes compreender Deus.
21 Mas se mantens tua alma aprisionada no corpo, se a abaixas e dizes: "Eu não concebo nada, eu não posso, tenho medo do mar, não posso subir ao céu; não sei o que sou, não sei o que serei" que queres com Deus? Pois não podes alcançar com o pensamento nenhuma das coisas belas e boas, tanto amas teu corpo e és malvado. O vício supremo, indubitavelmente, é não conhecer o divino. Contrariamente, ser capaz de conhecer, e ter tido a vontade e a firme esperança, é a via direta que conduz ao Bem e uma via fácil. Durante tua marcha, ele virá em toda parte e teu encontro, em todo lugar se oferecerá à tua vista, mesmo no lugar e na hora em que não o esperas, estejas em vigília ou em repouso, navegues ou caminhes, de noite ou de dia, falando ou calando-te: pois nada existe que ele não seja.
22 Dirás agora: "Deus é invisível?" Não fala assim, o que é mais manifesto que Deus? Ele criou tudo para que o vejas através de todos os seres. Eis o bem de Deus, o poder miraculoso de Deus de se manifestar através de todos os seres. Pois nada há de invisível mesmo entre os incorpóreos. O intelecto se torna visível no ato de pensar, Deus no ato de criar.
Minhas revelações cessam neste ponto, ó Trismegistos. Para o resto siga o mesmo método e não serás decepcionado.

Continua...

sábado, 2 de novembro de 2019

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O Livro de Dzyan / Antropogênese 2ª Parte

ANTROPOGÊNESE
- O LIVRO DE DZYAN - 
Helena Blavatsky


Das  Estâncias do Livro de Dzyan*
* São dadas somente quarenta e nove Slokas de algumas centenas. Nem todos os versos são traduzidos literalmente. Às vezes é usada uma perífrase para maior clareza e inteligibilidade onde uma tradução literal causaria inteligibilidade.

ESTÂNCIA VII

24. Os Filhos da Sabedoria, os Filhos da Noite, prontos para renascer, desceram e viram as formas vis da Primeira parte da Terceira, "Podemos elegê-las", disseram os Senhores, "nós temos sabedoria". Alguns entraram nos Chhaya. Alguns projetaram a Centelha. Outros protelaram até a Quarta. Com seu próprio Rupa eles preencheram o Kama. Aqueles que entraram, tornaram-se Arhats. Aqueles que receberam apenas a Centelha permaneceram desprovidos de conhecimento; a Centelha ardia debilmente. Os Terceiros permaneceram sem mente. Seus Jivas não estavam prontos. Estes foram separados dos Sete. Converteram-se nos de cabeça estreita. Os Terceiros estavam prontos. "Nestes vamos morar" disseram os Senhores da Chama.

25. Como os Manâsa, os Filhos da Sabedoria, agiram? Eles rejeitaram os nascidos por si mesmos. Eles não estão prontos. Eles rejeitaram os Nascidos do Suor. Eles não estão muito prontos. Eles não queriam entrar nos primeiros Nascidos do Ovo.

26. Quando os Nascidos do Suor produziram os Nascidos do Ovo, os duplos e os fortes, os poderosos com ossos, os Senhores da Sabedoria disseram: "Agora, criaremos".

27. A Terceira Raça tornou-se o Vahan dos Senhores da Sabedoria. Ela criou os "Filhos da Vontade e da Yoga", por meio de Kriyasakti ela os criou, os Pais Sagrados, os Ancestrais dos Arhats. ..

ESTÂNCIA VIII

28. Das gotas de suor; do resíduo da substância; que é a matéria dos corpos mortos de homens e animais da roda anterior; e do pó rejeitado, os primeiros animais foram produzidos.

29. Animais com ossos, dragões do abismo e Sarpas voadoras foram agregados às coisas rastejantes. Aqueles que rastejam no solo desenvolveram asas. Aqueles com longos pescoços na água tornaram-se os progenitores das aves do ar.

30. Durante a terceira Raça, os animais sem ossos cresceram e mudaram: transformaram-se em animais com ossos, seus Chhayas tornaram-se sólidos.

31. Os animais se separaram primeiro. Começaram a reproduzir-se. O homem duplo também se separou. Ele disse: "Façamos como eles; unamo-nos e procriemos". Assim fizeram.

32. E aqueles que não tinham centelha tomaram enormes animais fêmeas para si. Com elas, eles geraram Raças mudas. Eles próprios eram mudos. Mas sua língua se desatou. As línguas de sua progênie continuaram mudas. Monstros foram gerados. Uma raça de monstros encurvados cobertos de pêlo vermelho, que andavam nas quatro patas. Uma raça muda para que não se divulgasse a vergonha.

ESTÂNCIA IX

33. Vendo isto, os Lhas que não haviam feito os homens, choraram, dizendo: -

34. "Os Amanâsa degradaram nossas futuras moradas. Isto é Karma. Habitemos nas outras. Ensinemo-las melhor para que o pior não aconteça. Foi isso que fizeram." . . .

35. Então, todos os homens foram dotados de Manas. Eles viram o pecado dos sem mente.

36. A Quarta Raça desenvolveu a linguagem.

37. O Um tornou-se Dois; e também todas as coisas rastejantes viventes que ainda eram unas,
peixes-pássaros gigantes e serpentes com cabeça de concha.

 ESTÂNCIA X

38. Assim, dois a dois nas sete zonas, a Terceira Raça deu nascimento à Quarta Raça de homens; os deuses tornaram-se não-deuses; os sura se converteram em a-sura.

39. A primeira, em cada zona, era da cor da lua; a segunda, amarela como ouro; a terceira, vermelha; a quarta, marrom, convertendo-se em negra pelo pecado. Os primeiros sete ramos humanos eram todos da mesma tez. Os sete seguintes começaram a se mesclar.

40. Então a quarta cresceu em orgulho. Nós somos os reis, foi dito; nós somos os deuses.

41. Eles tomaram esposas lindas de se olhar. Esposas de entre os sem mente, os de cabeça estreita. Eles geraram monstros. Demônios maus, machos e fêmeas, também Khado (dakini) com mentes pequenas.

42. Construíram templos para o corpo humano. Adoraram machos e fêmeas. Então, o Terceiro Olho deixou de funcionar.

ESTÂNCIA XI

43. Eles construíram cidades enormes. Com terras e metais raros eles as construíram e, com os fogos vomitados, com pedra branca das montanhas e com pedra preta, eles esculpiram suas próprias imagens, de seu tamanho e à sua semelhança e as adoraram.

44. Construíram grandes imagens de nove yatis de altura, o tamanho de seus corpos. Os fogos internos tinham destruído a terra de seus pais. A água ameaçou a quarta.

45. As primeiras grandes águas vieram. Elas engoliram as sete grandes ilhas.
46. Todos os Santos foram salvos, os Ímpios, destruídos. Com eles pereceu a maioria dos animais enormes produzidos do suor da terra.

ESTÂNCIA XII

47. Poucos homens restaram: alguns amarelos, alguns marrons e negros, e alguns vermelhos restaram. Os da cor da lua desapareceram para sempre.

48. A quinta, produzida dos santos que restaram, foi governada pelos primeiros Reis divinos.

49. . . . Os que voltaram a descer fizeram a paz com a quinta, ensinando-a e a instruindo.

(Consta do vol III da Doutrina Secreta - Antropogênese  - de H.P.Blavastky
onde as explicações e comentários são o objeto do livro.)