O CAIBALION
Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da
Grécia
CAPÍTULO V – O UNIVERSO MENTAL
"O Universo é Mental: ele está dentro da mente d’O TODO.
O TODO é ESPÍRITO! Mas que é Espírito? Esta
pergunta não pode ser respondida, porque a sua definição seria praticamente a
do TODO, que não pode ser explicado nem definido. Espírito é um simples nome
que os homens dão às suas mais elevadas concepções da Infinita Mente Vivente;
esta palavra significa a Essência Real; significa a Mente Vivente, tão superior
à Vida e à Mente tais como as Conhecemos, quanto estas últimas são superiores à
Energia mecânica e à Matéria. O Espírito é superior ao nosso entendimento, e só
empregamos este termo para podermos falar do TODO. No juízo dos pensadores e
inteligentes estamos justificados falando do Espírito como Infinita Mente
Vivente, e reconhecendo que não Podemos compreende−Ia, quer raciocinando sobre
ela, quer estudando a matéria na sua totalidade. Façamos agora uma consideração
sobre a natureza do Universo, quer no seu todo, quer nas suas partes. Que é o
UniverSO? Dissemos que nada há fora do TODO. Então o Universo é O TODO? Não;
não o é; porque o Universo parece ser formado de MUITOS, e está constantemente
mudando, ou, por outras palavras, ele não pode ser comparado com as idéias que
estabelecemos a respeito do TODO. Então, se o Universo não é o TODO, ele é o
Nada; tal é a conclusão inevitável da mente à primeira idéia. Mas esta não
satisfaz a questão, porque sentimos a existência do Universo. Ora, se o
Universo não é O TODO, nem o Nada, que será então? Examinemos a questão. Se
verdadeiramente o Universo existe, ou parece existir, ele procederá diretamente
do TODO, poderá ser uma criação do TODO. Mas como poderá alguma coisa sair do
nada, de que O TODO a teria criado? Vários filósofos responderam a esta
pergunta, dizendo que TODO criou o Universo de si MESMO, isto é, da existência
e substância do TODO. Mas isto não pode ser, porque o TODO não pode ser
dividido ou diminuído, como já vimos, e se isto fosse verdade, cada partícula
do Universo não poderia deixar de conhecer o seu ente − O TODO; o TODO não
perderia o conhecimento próprio, nem SE TORNARIA atualmente um átomo, uma força
cega ou uma coisa de vida humilde. Com efeito, alguns homens, julgando que o
TODO é exatamente TUDO, e reconhecendo também que eles, os homens, existem,
aventuraram−se a concluir que eles eram idênticos ao TODO, e atroaram os ares
com os seus clamores de "EU SOU DEUS!" para divertimento da multidão
e sorriso dos sábios. O clamor do corpúsculo que dissesse: "Eu sou
Homem!", seria mais modesto em comparação. Mas, que é, pois, o Universo,
se não for o TODO separando a si mesmo em fragmentos? Que outra coisa poderá
ser? De que coisa poderá ser feito? Esta é a grande questão. Examinemo−la bem.
Reconhecemos que o Princípio de Correspondência (vide a primeira lição) vem em
nosso auxílio aqui. O velho axioma hermético "o que está em cima é como o
que está embaixo", pode ser empregado com êxito neste ponto. Permiti− nos
fazer uma rápida hipótese sobre os planos elevados,’examínando−os em nós mesmos.
O Princípio de Correspondência aplica−se a este como a outros problemas.
Vejamos, pois! No seu próprio plano de existência, como cria o Homem?
Primeiramente, ele pode criar, fazendo alguma coisa de materiais exteriores.
Mas assim não pode ser, porque não há materiais exteriores ao TODO, com os
quais ele possa criar. Em segundo lugar, o Homem procria ou reproduz a sua
espécie pelo processo da geração que é a própria multiplicação por meio da
transformação de uma parte da sua substância na da sua prole. Mas, assim também
não pode ser, porque o Todo não pode transferir ou subtrair uma parte de si
mesmo, assim como reproduzir ou multiplicar a si mesmo: no primeiro caso
haveria uma revogação da lei, e no segundo, uma multiplicação ou adição do
TODO, idéias totalmente absurdas. Não há nenhum outro meio pelo qual O HOMEM
cria? Sim, há; ele CRIA MENTALMENTE! E deste modo, não emprega materiais
exteriores, não reproduz a si mesmo, e, apesar disso, o seu Espírito penetra a
Criação Mental.
Conforme o Princípio de Correspondência,
temos razão de considerar que O TODO CRIA MENTALMENTE o Universo, de um modo
semelhante ao processo pelo qual o Homem cria as Imagens mentais. Este é o
testemunho da Razão, que concorda perfeitamente com o testemunho do Iluminado,
como ele o manifesta pelos seus ensinos e escritos. Assim são os ensinamentos
do Sábio. Tal era a doutrina de Hermes. O TODO não pode criar de outro modo
senão mentalmente, sem empregar qualquer material (nada há para ser
empregado),, e nem reproduzir a si mesmo (o que é também impossível). Não se
pode escapar desta conclusão da Razão, que, como dissemos, concorda com os mais
elevados preceitos do Iluminado. justamente como vós podeis criar um Universo
de vós mesmos na vossa mentalidade, aSSiM O TODO cria Universo na sua própria
Mente. Mas o vosso Universo é criação mental de uma Mente finita, enquanto que
o do TODO é criação de uma Mente Infinita. Ambos são análogos em natureza, mas
infinitamente diferentes em grau. Vamos examinar cuidadosamente como fazemos
nos processos de criação e manifestação. Mas antes de tudo é preciso fixardes
as vossas mentes nesta frase: O UNIVERSO, E TUDO O QUE ELE CONTÉM, É UMA
CRIAÇÃO MENTAL DO TODO. COM efeito, O TODO É MENTE!
" O TODO cria na sua Mente infinita inumeráveis Universos, que
existem por eons de Tempo; e contudo, para O TODO, a criação, o
desenvolvimento, o declínio e a morte de um milhão de Universos é como que o
tempo do pestanejar dum olho."
"A Mente Infinita d’O TODO é a matriz dos Universos."
O Princípio de Gênero (vide lição primeira
e seguintes) é manifestado em todos os planos de vida, quer materiais, mentais
ou espirituais. Mas, como já dissemos, Gênero não significa Sexo; o sexo é
simplesmente uma manifestação material do, gênero. Gênero significa relativo à
geração ou criação. Em qualquer lugar, em qualquer plano, em que uma coisa é
criada ou gerada, o Princípio de Gênero se manifesta. E isto é verdade mesmo na
criação dos Universos. Mas, não se deve concluir disto que ensinamos haver um
Deus ou Criador macho e fêmea. Esta idéia é um desvio dos antigos preceitos
sobre este assunto. O verdadeiro ensinamento é que o TODO em si mesmo está fora
do Gênero, assim como de qualquer outra Lei, mesmo as do Tempo e do Espaço. Ele
é a Lei de que todas as Leis procedem e não está sujeito a elas. Contudo,
quando O TODO se manifesta no plano de geração ou criação, os seus atos
concordam com a Lei e o Princípio, porque se realizam num plano inferior de
existência. E, por conseguinte, ele manifesta no Plano Mental o Princípio de
Gênero, nos seus aspectos Masculino e Feminino.
Esta idéia poderá causar admiração a alguns
de vós, que aprendem−na pela primeira vez, mas todos vós aceitaste−a
passivamente nas vossas concepções diárias. Falais na Paternidade de Deus e na Maternidade
da Natureza; de Deus, o Pai divino e da Natureza, a Mãe universal; logo,
reconheceis instintivamente o Princípio de Gênero no Universo. Não é verdade?
Mas a doutrina hermética não exprime uma dualidade real: O TODO é um; os dois
aspectos são simplesmente aspectos de manifestação. O ensinamento é que o
Princípio Masculino manifestado pelo TODO só impede a destruição da concepção
atual do Universo. Ele projeta o seu Desejo no Princípio Feminino (que se chama
Natureza), ao mesmo tempo que este último começa a obra atual da evolução do
Universo, desde os simples centros de atividade até o homem, e subindo cada vez
mais de acordo com as bem−estabelecidas Leis da Natureza. Se dais preferência
aos velhos modos de expressão, podeis considerar o Princípio Masculino COMO
DEUS, o Pai, e o Princípio Feminino COMO a NATUREZA, a Mãe Universal, em cuja
matriz toclas as coisas foram geradas. Isto não é simplesmente uma ficção
poética de linguagem; é uma idéia do processo atual de criação do Universo. Mas
é preciso não esquecer que O TODO é um, e que o Universo é gerado, criado e
existe na sua Mente Infinita. Isto vos permitirá fazer uma idéia de vós mesmos,
se quiserdes aplicar a Lei de Correspondência à vossa própria mente e a vós
mesmos. Sabeis que a parte de Vós que chamais Eu. em certo sentido, sustenta e
prova a criação de Imagens mentais na vossa própria mente. A parte da vossa
mente em que é realizada a geração mental pode ser chamada o eu inferior,
distinto do Eu. que sustenta e examina os pensamentos, as idéias e as imagens
do eu inferior. Reparai bem que "o que está em cima é como o que está
embaixo", e que os fenômenos de um plano podem ser empregados na solução
dos enigmas de planos superiores ou inferiores.
Será para admirar que Vós, os filhos,
sintais esta instintiva reverência pelo TODO, sentimento que chamamos religião;
esta reverência e este respeito para com a MENTE− PAI? Será para admirar que,
ao considerar as obras e as maravilhas da Natureza, fiqueis dominado por um
grande sentimento que tem sua origem fora do vosso íntimo ser? É a MENTE−MÃE
que vos estreita, como a mãe estreita seu filho ao seio.
Não deveis cometer o erro de crer que o
pequeno mundo que vedes ao redor de vós, a Terra, que é simplesmente um grão de
areia em comparação com o Universo, seja o próprio Universo. Existem milhões de
mundos semelhantes e maiores. Há milhões e milhões de Universos iguais em
existência dentro da Mente Infinita do TODO. E mesmo no nosso pequeno sistema
solar há regiões e planos de vida mais elevados que os nossos, −e entes, em
comparação aos quais nós, míseros mortais, somos como as viçosas formas
viventes que habitam no fundo do oceano, comparadas ao Homem. Há entes com
poderes e atributos superiores aos que o Homem sonhou ser possuído pelos
deuses. Não obstante, estes entes foram como vós e ainda inferiores, e, com o
tempo, vós podeis ser como eles ou superiores a eles; porque, como diz o
Iluminado, tal é o Destino do Homem.
A Morte não é real, ainda mesmo no sentido
relativo; ela é simplesmente o Nascimento a uma nova vida, e continuareis
sempre de planos elevados de vida a outros mais elevados por eons e eons de
tempo. O Universo é vossa habitação e estudareis os seus mais distantes
a@,essos antes do fim do Tempo, Residis na Mente Infinita do TODO, e as vossas
potencialidades e oportunidades são infinitas mas somente no tempo e no espaço.
E no fim do Grande Ciclo de EONS, O TODO recolherá em si todas as suas
criações; porém, vós continuareis alegrernente a vossa jornada, porque então
querereis preparar−vos para conhecer a Verdade Total da existência em Unidade
com O TODO.
E, quando estiverdes na metade do caminho,
estareis calmos e serenos; sois seguros e protegidos pelo Poder Infinito da
MENTE−MÃE. "Dentro da Mente Pai−Mãe, o filho mortal está na sua morada."
"Não há nenhum órfão de Pai ou de Mãe no Universo."
Continua...