quinta-feira, 30 de julho de 2020

Upanishad Ishavasya – O Véu Dourado 4


Os Upanishads
Upanishad Ishavasya – O Véu Dourado 4


Na aceitação descobrimos o Repouso infinito, e encontramos a qualidade de nosso próprio Ser, Atman, cuja qualidade é igual à de Brahman.

Aceitar aquilo que nos é designado não é procrastinação. A maioria das pessoas adota a atitude de aceitar seu destino na esperança de que o futuro lhe traga felizes novidades. Isso não é aceitação é submissão.

Aceitar o que é dado, é comprometer-se com a correta percepção. Muitas vezes o homem recusa o que lhe é dado porque não vê o que é. Quando percebemos acertadamente, vemos na coisa dada a qualidade da verdade, beleza, a qualidade do próprio Brahman. A experiência da felicidade vem com a própria percepção.

O Upanishad diz “Desfrute o que lhe é designado”, ele não diz “suporte o que lhe é dado”. Aceitar o que é dado é perceber a qualidade de nosso próprio Ser. Com essa correta percepção, o processo do “vir a ser” é livre de tristeza e frustração.

Trabalhando assim, um homem pode desejar uma vida de cem anos, dessa maneira e não de outra maneira suas ações não o aprisionarão.

São as frustrações da mente que fazem o homem parecer mais velho do que é, é a preocupação que esgota suas energias, levando-o à morte prematura ou à velhice.

Aceitando o que nos é dado, ficamos livres de todos os fatores que causam frustrações, e descobrimos nossa vocação (Svadharma).

Cobiçar a riqueza do outro é esquecer nossa própria vocação, e nos envolver na profissão do outro, isso é Paradharma. Não é a ação, mas a reação que aprisiona o homem, pois as reações são fenômenos em cadeia. As reações surgem da pratica da cobiça, o desejo de ter o que o outro tem.

Aquele que faz da aceitação a base da ação é livre de toda servidão aqui e agora. Tal homem pode viver tanto tempo quanto queira, pois adquiriu o controle do movimento do próprio tempo, não é a mente, mas o Espírito que se move nele.

O Upanishad diz “Todo aquele que negligencia o Espírito vai para as regiões da escuridão total”. O Espírito é negligenciado quando no processo do “vir a ser” perde-se o toque vital e vívido do Ser.


Continua...



domingo, 19 de julho de 2020

Jesus Cristo segundo São João Capítulo 14

JOÃO 14


Jesus, caminho para o Pai 1Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? 3E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. 4E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho.»

5Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» 6Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. 7Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.»

8Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, ‘mostra-nos o Pai’? 10Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?

As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras. 11Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. 12Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.»


Primeira promessa do Espírito - 15«Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, 16e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco, 17o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; vós é que o conheceis, porque permanece junto de vós, e está em vós.»


Jesus promete voltar - 18«Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós! 19Ainda um pouco e o mundo já não me verá; vós é que me vereis, pois Eu vivo e vós também haveis de viver. 20Nesse dia, compreendereis que Eu estou no meu Pai, e vós em mim, e Eu em vós. 21Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.»

22Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?» 23Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou.»


Segunda promessa do Espírito - 25«Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; 26mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.»


Jesus deixa a sua paz - 27«Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. 28Ouvistes o que Eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós.’ Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. 29Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.

30Já não falarei muito convosco, pois está a chegar o dominador deste mundo; ele nada pode contra mim, 31mas o mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui!»



Continua...

domingo, 12 de julho de 2020

Corpus Hermeticum - Discurso da Iniciação III

CORPUS HERMETICUM
De Hermes Trismegisto


DISCURSO DA INICIAÇÃO OU ASCLEPIOS LIVRO SAGRADO DEDICADO A ASCLÉPIOS / CONTINUAÇÃO ...

30 O mundo se move na própria vida da eternidade, e seu lugar está nesta eternidade própria da vida. Por esta razão o mundo nunca encontrará repouso nem será jamais destruído, posto que esta eternidade de vida o protege como com um muro fortificado e, por assim dizer, o encerra. Este mundo, mesmo, por seu lado, dispensa a vida e todos os seres que contém, e é o locus de todos os seres submetidos ao governo divino sob o sol. O movimento do mundo é resultado de uma operação dupla: por úm lado o mundo é vivificado a partir do exterior pela eternidade, por outro lado vivifica a todos os seres que contém, diversificando as coisas segundo números e tempo estabelecidos e determinados graças à ação do sol e ao curso dos astros, sendo prescrito o ciclo regular do tempo por uma lei divina. O tempo da terra se dá a conhecer pelo estado da atmosfera, pela sucessão das estações quentes e frias, e o tempo do céu pelo retorno dos astros à sua posição primeira no transcurso de sua revolução periódica. O mundo é o receptáculo do tempo e o curso e o movimento do tempo são os nutridores da vida do mundo. O tempo se mantém segundo uma norma fixa e esta ordem do tempo é o que produz a renovação das coisas no mundo, mediante o retorno alternado das estações. E como as coisas estão submetidas a estas leis não há nada estável, nada fixo, nada imóvel no que vem a ser, no céu ou sobre a terra. Somente Deus possui estas qualidades e com razão: porque é em si, é por si, está concentrado inteiramente em si mesmo, pleno e perfeito; é por si mesmo a estabilidade imóvel, e nenhuma influência procedente do exterior pode movê-lo para fora de seu lugar, porque as coisas em sua totalidade estão nele e ele está nas coisas, apenas ele, a não ser que alguém se atreva a dizer que ele tem um movimento na eternidade, porém, pelo contrário, é melhor dizer que a eternidade é também imóvel já que o movimento de todos os tempos volve a ela e nela nasce o movimento de todos os tempos.
31 Deus, pois, sempre esteve em repouso e bem como a eternidade, da mesma forma que Deus, permanece imóvel encerrado dentro de si, antes de nascer, este mundo que com razão chamamos mundo sensível. Deste Deus, o mundo sensível foi feito imagem, posto que o mundo imita a eternidade. Pois o tempo, por muito que sempre esteja em movimento possui a força e a natureza da estabilidade sob uma modalidade que lhe é própria, em virtude dessa própria necessidade que o força voltar a seu princípio. Por isto, ainda que a eternidade seja estável, imóvel e fixa, supondo que o curso do tempo, que é móvel, sempre é devolvido à eternidade e supondo que esse movimento segundo a própria lei do tempo, é uma revolução cíclica, segue-se que a própria eternidade, que, tomada independentemente, e imóvel, parece por sua vez estar em movimento devido ao tempo, pois ela mesma entra no tempo, neste tempo em que encontra lugar todo movimento. De onde se deduz que a estabilidade da eternidade comporta movimento e a mobilidade do tempo se torna estável graças à imutabilidade da lei que rege seu curso. Pois o movimento de sua estabilidade é imóvel devido à sua magnitude: porque a lei da imensidade implica a imobilidade. Assim, e este ser que é tal, que escapa ao domínio dos sentidos, não tem limites, ninguém pode abarcá-to ou medi-lo; não pode ser sustentado, nem levado, nem seguido ou perquirido; onde está, para onde vem, como se conduz, de que natureza é: tudo isto nos édesconhecido; move-se na sua estabilidade soberana e sua estabilidade move-se nele, seja esta Deus, ou a eternidade, ou ambos, ou um na outra, ou ambos em um e na outra. Por esta razão a eternidade não conhece os limites do tempo: por outro lado, ainda que seja possível delimitá-lo, seja através do número, ou pela mudança das estações ou pelo retorno periódico dos astros em sua revolução, o tempo é eterno. Assim os vemos a ambos, um e outro, igualmente infinitos, analogamente eternos: pois, sendo a estabilidade fixa a fim de poder servir de base a todos movimentos dos móveis, por esta mesma solidez ocupa com razão o primeiro posto.
32 Assim, as causas primeiras de tudo que existe são Deus e a eternidade. O mundo, supondo-se que seja móvel, não ocupa o primeiro lugar pois, nele, a mobilidade supera a estabilidade, enquanto possui por lei própria de seu movimento eterno, uma fixidez inalterável.
- O intelecto total que se assemelha à divindade, imóvel por si mesma, move-se em sua estabilidade: é santo, incorruptível, eterno e qualquer outra coisa melhor que ainda possa ser dita, se é que existe algum atributo melhor, posto que é a eternidade do Deus supremo a qual subsiste na verdade absoluta, infinitamente cheio de todas as formas sensíveis e da ordem universal, subsistindo, por assim dizer, com Deus. O intelecto do mundo, por sua vez, é o receptáculo de todas formas sensíveis e de todas as ordens particulares. Finalmente, o intelecto humano depende do poder de retenção próprio da memória, graças ao qual conserva a lembrança de suas experiências passadas. A divindade do intelecto se detém, em sua descida, no animal humano: pois o Deus supremo não quis que o intelecto divino fosse mesclar-se com todas as espécies viventes, por medo de ter que lamentar-se desta mescla com os viventes inferiores. O conhecimento que se pode adquirir do intelecto humano, de seu caráter, de seu poder, consiste inteiramente na lembrança de acontecimentos passados: pois graças a esta tenacidade da memória o ser humano foi capaz de governar também ele, a terra. A inteligência da Natureza e o caráter do intelecto do mundo podem ser vistos a fundo mediante a observação de todas formas sensiveis que existem no mundo. O intelecto da eternidade que está em segundo lugar, se dá a conhecer e seu caráter pode ser discernido pela observação do mundo sensível. Porém o conhecimento que se pode obter do caráter do intelecto do Deus supremo e o próprio caráter desse intelecto são a verdade completamente pura e desta não se pode discernir no mundo, ainda que de modo confuso, nenhuma sombra. Pois onde nada se dá a conhecer que sob a medida do tempo, há uma mentira, onde há começo no tempo, há erro. Vês, pois, Asclépios, como instalados em tão profunda profundidade, tratamos temas tão elevados e a que sublimidades desejamos chegar. Porém é a ti, Deus Altíssimo, a quem dou graças, a ti que me iluminastes com a luz que consiste na visão da divindade. Quanto a vós, ó Tat, Asclépios e Hammon; guardai estes mistérios divinos no segredo de vossos corações, cobrindo-o de silêncio e mantendo-os ocultos.
Existe esta diferença entre a inteligência humana e o intelecto do mundo, que nossa inteligência chega à força de aplicação, a captar e a discernir o caráter do intelecto do mundo, enquanto que o intelecto do mundo se eleva ao conhecimento da eternidade e dos deuses que estão, acima dele. Desta maneira indireta se dá a conhecer a nós, os homens, o poder ver, como através da névoa, as coisas do céu, tanto quanto o permite a condição do espírito humano. Indubitavelmente, quando se trata de contemplar objetos tão altos, nossa capacidade de visão possui limites bem estreitos: porém uma vez tenha visto, a felicidade da alma que conhece é imensa.
33 - Acerca do vazio ao qual a maior parte atribui tanta importância, eis aqui minha opinão: não há vazio de classe alguma, não pode ter existido e não existirá jamais. Porque todas as partes do mundo estão completamente cheias, de modo que o próprio mundo está cheio e totalmente acabado graças a corpos que diferem em qualidade e forma e que possuem cada um sua figura e magnitude próprias: um maior, outro menor, um mais denso, outro menos denso. Desses corpos, os que são mais densos são visíveis ao primeiro golpe de vista, bem como os que são maiores; os corpos menores ou mais tênues são apenas visíveis ou não o são em absoluto e  só se conhece a sua existência por meio do tato. De onde decorre freqüentemente não sejam tomados como corpos mas como espaços vazios, o que é impossível. Pois, da mesma maneira que o que se chama espaço fora do mundo, se é que realmente existe algo assim (o que não creio), deve estar, em minha opinião, cheio de seres inteligíveis, isto é, semelhantes à divindade deste espaço, também este mundo que se chama sensível está absolutamente repleto de corpos e de viventes em relação com sua natureza e qualidade; porém as verdadeiras formas destes corpos nem sempre nos são evidentes: vemos algumas maiores do que são efetivamente, as outras realmente muito pequenas, de modo que pela extrema distância que nos separa delas ou pela debilidade de nossa vista nos parecem assim, ou ainda, seu excessivamente diminuto tamanho induz a maioria a negar de forma absoluta a existência delas. Refiro-me neste momento aos daimons que, estou seguro, habitam conosco e aos heróis, que moram, em minha opinião, entre a parte mais pura do ar, acima de nós e esses lugares em que não se acham nem bruma nem nuvens e cuja paz não é perturbada pelo movimento de nenhum corpo celeste. Guarda-to pois, ó Asclépios, de chamar "vazio" a algum objeto, a menos que digas também, de que está vazio o que chamas vazio, como "vazio de" fogo, ou de água, ou de qualquer outra coisa semelhante, pois ainda quando chega a ocasião de ver um objeto que possa estar vazio destas coisas, por muito pequeno ou grande que seja o que parece vazio, não é possível todavia, que esteja vazio de ar.
34 Outro tanto tem que ser dito de `locus': esta palavra absolutamente desprovida de sentido, se a tomarmos absolutamente. Pois não se vê o lugar (locus) e o que é, a menos que se observe de que é o lugar. Abandonando-se o elemento capital, a significação da palavra fica incompleta. Por isto diremos, com razão: o lugar da água, o lugar do fogo, ou de outras coisas semelhantes. Como é impossível que haja algo vazio, também não se pode reconhecer o que seja o lugar tomado por si só. Pois se supõe um lugar sem o objeto de que é lugar, este lugar parecerá vazio: bem, segundo digo, não existe lugar vazio no mundo. Se nada está vazio, não se pode ver que coisa poderá ser o lugar em si, a não ser que se lhe acrescente, como ao corpo humano, as determinações de comprimento, largura e altura.
- Nestas condições, ó Asclépios e vós que estais presente, sabei que o mundo inteligível, isto é, o que não é percebido a não ser pelos olhos da inteligência é incorpóreo e que nada corporal pode mesclar-se a sua natureza, nada que possa ser definido pela qualidade, pela quantidade ou pelo número: por que nele não há nada semelhante a isto.
Este mundo dito sensível é o receptáculo de todas qualidades ou substâncias das formas sensíveis e todo esse conjunto não pode ter vida sem Deus. Porque Deus é as coisas, vem de si e dependem de sua vontade. Este Todo é bom, belo, sábio, inimitável, não é perceptível e inteligível a não ser para si mesmo e sem ele nada foi, nada é, nada será. Pois tudo vem dele, tudo está nele, tudo é por ele, e as qualidades de todas classes e de toda figura, e as magnitudes enormes, e as dimensões que superam, e toda medida e as formas de toda espécie, compreende estas coisas, Asclépios, e darás graças a Deus. Porém se chegas a alcançar conhecimento acerca deste Todo compreenderás que em verdade o próprio mundo sensível, com tudo o que contém, está rodeado como por uma vestimenta pelo mundo superior.
35 Em cada gênero de viventes, Asclépios, seja qual for o vivente, mortal ou imortal, racional ou irracional, dotado de alma ou não, cada indivíduo, segundo o gênero a que pertence, leva a marca de seu gênero. E ainda que todo gênero de seres viventes possua inteiramente a forma própria de seu gênero, nem por isso deixam de diferir entre si os indivíduos dentro da mesma forma: por exemplo, ainda que o gênero humano não possua mais que uma forma comum, de modo e se reconhecer e um ser humano com o simples olhar, todavia, os indivíduos diferem entre si dentro da mesma forma. Pois o tipo ideal que vem de Deus é incorpóréo e também tudo o que é apreendido pelo espírito. Assim, supondo-se que os dois elementos de que estão constituídas as formas são corpos e não corpos, não é possível que uma forma individual nasça inteiramente semelhante a outra em diferentes pontos do tempo e em distintas latitudes, pelo contrário, estas formas mudam tantas vezes quantos momentos tem uma hora durante a revolução do círculo em cujo interior reside o grande deus que chamamos Omniforme. Assim, o tipo genérico permanece imutável por mais que engendre fora de si tantas cópias de si mesmo, em tão grande número e tão diversas, como momentos suporta a revolução do mundo, pois o mundo muda no curso da sua revolução, enquanto que o tipo não muda e não está submetido à revolução. Assim, portanto, as formas de cada gênero permanecem imutáveis apesar de implicar diferenças do mesmo tipo que lhes é próprio.
36 - O mundo muda também de aparência, ó Trismegistos?
- Já o vês, Asclépios, estas indicações que acabo de dar é como se as tivesse dado a uma pessoa que dorme. Que é o mundo e de que se compõe senão das coisas que vieram a ser? Tua pergunta se refere ao céu, à terra e aos elementos, não é? Pois bem, que existe que mais continuamente mude de aparência? O céu está frio ou quente, úmido ou seco, claro ou nublado - todas estas mudanças se dão num mesmo tipo uniforme. A terra passa continuamente por múltiplas mudanças de aspecto, quando está gerando seus meses, quando nutre o que fez nascer, quando varia e diversifica as qualidades e tamanhos de seus produtos, os momentos de parada ou avanço de seu crescimento, e antes de tudo, as qualidades, odores, sabores e formas das árvores, das flores e dos frutos. O fogo conhece muitas transformações divinas. As figuras do sol e da lua se revestem também de toda classe de aspectos: parecem-se de certo modo a nossos  espelhos que devolvem as cópias das imagens com um brilho que rivaliza com a realidade.
37 Porém já falamos o suficiente acerca deste tema.
- Voltemos ao ser humano e à razão, dom divino pelo qual o ser humano recebeu a designação de animal racional. O que já dissemos do ser humano já é maravilhoso, porém essas maravilhas não valem a seguinte: o que move ou impõe sobretudo a admiração é que o ser humano foi capaz de descobrir a natureza dos deuses e de produzi-la Nossos primeiros antepassados depois de terem se equivocado seriamente a respeito da verdadeira doutrina acerca dos deuses - não acreditavam, nem se preocupavam com o culto ou religião, de uma forma absoluta, inventaram a arte de fazer deuses, logo, assim que os fizeram, vincularam a eles uma virtude adequada, que inferiam da natureza material, e misturando esta virtude com a substância das estátuas, dado que não podiam criar almas propriamente ditas, depois de terem invocado almas de daimons, as introduziram em seus ídolos por meio de rituais santos e divinos, de modo que estes ídolos tiveram o poder de fazer o bem e o mal.
Este é o caso, ó Asclépios, de teu avô, o primeiro inventor da arte de curar, e quem se dedicou sobre o monte da Líbia, perto do rio dos crocodilos, um templo em que jaz o que nele foi o ser humano terrestre, isto é, o corpo - pois o resto, ou melhor, o todo dele, se é verdade que o todo do ser humano consiste no que possui o sentimento da vida, regressou, feliz, ao céu - e que, todavia, na atualidade, em virtude de seu poder divino dá aos homens, em suas enfermidades, todas as classes de remédios que lhe dava já em outro tempo por meio do exercício de sua arte de médico. Assim também, meu antepassado Hermes, cujo nome levo, não é, por acaso, verdade que reside na cidade natal chamada pelo seu nome, de onde concede ajuda e salvação a todos mortais que, de todas as partes procuram-no? Isis, finalmente, a esposa de Osíris, quantos benefícios concede, bem o sabemos, quando está propícia e quantos homens dana quando está irritada! Pois todos os deuses terrestres e materiais encolerizam-se facilmente, pois os homens compuseram-nos de uma e outra natureza. Eis portanto a razão de os egípcios reconhecerem oficialmente a estes animais sagrados que vemos e que adorem em cada cidade as almas daqueles que foram deificados em vida, até o ponto de existirem cidades que levam seus nomes e vivem sob suas leis. E como os animais adorados numa cidade não são reconhecidos em outra, as cidades do Egito vivem provocando, umas às outras, guerras.
38 - E de que ordem é a qualidade destes deuses que se chamam terrestres, ó Trismegistos?
- Resulta, Asclépios, de uma composição de ervas, pedras e perfumes que contêm em si mesmos uma virtude oculta de eficácia divina. E se alguém busca a maneira de agradá-los através de numerosos sacrifícios, hinos, cantos de louvor, concertos de som dulcíssimos que recordem a harmonia celestial, é para que este elemento celestial que foi introduzido no ídolo por meio da prática repetida de ritos celestiais possa suportar alegremente esta larga permanência entre os humanos. Esta é a maneira pela qual o ser humano fabrica deuses.
- Porém, não creias, Asclépios, que os deuses terrestres exercem sua influência ao acaso. Entre os deuses celestes que habitam nas alturas do céu, cada um possui e conserva o lugar que lhe foi destinado por sua vez, nossos deuses terrestres oferecem sua ajuda ao ser humano como por um parentesco, velando sobre os detalhes das coisas, anunciando o futuro por meio das sortes ou adivinhações, provendo a certas necessidades, e por meio disso nos assistem cada um à sua maneira.
39 - Mas então, ó Trismegistos, que parte do plano divino é administrada por Heimarmene, isto é, o destino? Por acaso não possuem os deuses celestiais todo o governo da universalidade das coisas e os deuses terrestres a administração de todos seus detalhes?
O que chamamos Heimarmene, Asclépios, é esta necessidade que domina o curso total dos acontecimentos, ligando-os uns aos outros por meio de uma cadeia contínua. É, pois, o bem  e causa que produz as coisas, ou o Deus supremo, ou a ordem universal das coisas celestiais e terrestres fixadas por leis divinas. Assim, esta Heimarmene e a Necessidade estão inseparavelmente unidas entre si por uma espécie de aglutinante sólido: e Heimarmene se acha em primeiro lugar, gerando o começo das coisas, enquanto que a Necessidade faz com que cheguem, por força, e seu efeito, estas coisas que começaram a ser graças à ação da Heimarmene. Uma e outra tem como conseqüência a Ordem, isto é, a contextura e a sucessão temporal de tudo o que deve realizar-se. Nada com efeito escapa às disposições da Ordem, e esta bela ordenação se cumpre nas coisas, pois o próprio mundo segue a Ordem em seu movimento; mais ainda, não se mantém em sua totalidade se não receber o concurso da Ordem.
40 Portanto, estes três princípios, e Heimarmene, a Necessidade e a Ordem, ocupam o mais alto grau nas criações da vontade divina, que governa o mundo por meio de sua lei segundo seus divinos desígnios. Por isto Deus deixou-lhes toda a vontade de obrar ou não obrar. Sem que nunca sejam turbados pela cólera, sem que o favoritismo os persuada, obedecem à coação da lei eterna que não é outra que a própria eternidade, inevitável, imóvel, indissolúvel. Em primeiro lugar, pois, está a Heimarmene que, tendo deitado, por assim dizer, a semente, faz que sc produza, uma após as outras, toda série de coisas futuras; segue-se a Necessidade, que é a força que obriga as coisas a chegar a seu término efetivo; e a terceira é a Ordem, a qual mantém a conexão de todos os acontecimentos que foram determinados pela Heimarmene a Necessidade. É, pois, a eternidade, que não tem começo nem fim, e que determina na lei imutável de seu curso, realiza sua revolução por meio de um movimento perpétuo, que nasce incessantemente e deve morrer em alguma de suas partes, de forma que, graças à mudança dos instantes, e parte  que nela tenha morrido é a mesma em que renasce: tal é com efeito o movimento circular, princípio de rotação, que tudo nele está tão bem ligado que já não se sabe onde começa a rotação, se é que começa, porque os pontos parecem preceder-se é seguir-se. Todavia, há no mundo acidente e acaso, mesclados como estão e tudo o que procede da matéria.
- Falei de cada uma das coisas, na medida que pude segundo minhas humanas forças e na medida que a divindade o quis e permitiu. Resta-nos apenas bendizer a Deus em nossas preces, e voltar ao cuidado do corpo: nossas almas tiveram, se podemos assim falar, sua plena ração no decorrer desta conversação acerca das coisas divinas.
41 Tendo saído então, do fundo do santuário, puseram-se a adorar a Deus, olhando para o Sul - pois quando alguém quer dirigir-se a Deus ao pôr do sol é para ali que deve olhar, do mesmo modo que ao nascer do sol deve olhar para o Leste e começavam já a pronunciar a fórmula quando Asclépios disse em voz baixa:
- Oh! Tat! Queres que proponhamos a teu pai que faça acompanhar nossas preces com incenso a perfumes?
Porém Trismegistos ouviu-o e muito comovido o atalhou:
- Silêncio, silêncio, Asclépios! É uma espécie de sacrilégio quando se faz oração a Deus queimar incenso e tudo o mais. Pois nada falta a ele que é as coisas e em quem são as coisas. De nossa parte, pois, adoremo-te por meio de ações de graças: este é, em verdade, o mais belo incenso que se pode oferecer a Deus, a ação de graças dos mortais.
- Damos-te graças, Altíssimo, que ultrapassas infinitamente as coisas, pois por teu favor obtivemos esta luz tão grande que permite conhecer-te, Nome santo e digno de reverência, Nome único pelo qual Deus somente deve ser bendito segundo a religião de nossos maiores, posto que dignas outorgar a todos os seres teu afeto paternal, teus cuidados solícitos, teu amor e tudo aquilo que pode existir de virtude benfeitora mais doce ainda, fazendo-nos dom do intelecto, da razão, do conhecimento: do intelecto, para que possamos conhecer-te; e da razão, para que, por meio de nossas instituições, alcancemos o fim de nossas investigações; do conhecimento, para que conhecendo-te, gozemos. Regozijamo-nos, pois, salvos por teu poder, de que te hajas manifestado, a nós, inteiramente, regozijamo-nos de que, ainda encontrando-nos nesta carne tenhas to dignado consagrar-nos à eternidade. O único meio que o ser humano possui de te dar graças e conhecer tua majestade. Nós te conhecemos, a ti e a esta luz imensa que somente o espírito capta; o compreendemos, oh! verdadeira vida da vida, o seio que porta tudo o que vem a ser! Conhecemos a ti, permanência eterna de toda natureza infinitamente repleta de tua obra procriadora. Nesta prece, em que adoramos o bem de tua bondade, pedimos apenas uma coisa: fazei com que nos conservemos perseverantes no amor de teu conhecimento e que não nos afastemos nunca deste gênero de vida.
Com estes desejos, fomos ceiar, uma ceia pura, que não foi manchada por nenhum alimento que tivesse tido vida.

Rota da Imortalidade

"Providência e Alma sejam-me favoráveis, a mim que escrevo estes mistérios que me foram transmitidos! Só peço a imortalidade para meu filho, mestre desta poderosa arte que praticamos e que o poderoso e grande deus Hélio Mithra ordenou que me fosse comunicada por seu daimon a fim de que apenas eu, em minha peregrinação, alcance os céus e contemple todas as coisas."

Invocação

"Geração primeira de minha geração. Princípio primeiro de meu princípio, Sopro do sopro, do sopro em meu Sopro primeiro, Fogo que, dentre as misturas que existem em mim foi dado por Deus para minha mistura, fogo em meu Fogo primeiro, Água da água, da minha Água primeira, Substância terrosa que está em mim, Corpo Perfeito de mim, trabalhado por um braço glorioso e por mão imortal no mundo sombrio e luminoso, no animado e inanimado - se quiserdes transmitir-me e comunicar o nascimento da imortalidade, a mim que ainda estou na condição natural eu poderia após a violenta contrariedade da iminente Fatalidade, contemplar o Princípio imortal graças ao sopro imortal, à água imortal, ao ar sólido, poderia ser regenerado em espírito e que sopra em mim o fogo sagrado, poderia admirar o fogo sagrado, poderia ser o abismo do Oriente, a água terrível, e que me ouça o éter que dá a vida e que se propaga em torno das coisas pois, devo contemplar hoje, com meus olhos imortais nascido mortal de matriz mortal, mas exaltado por uma força poderosa e por uma destra imperecível, graças ao sopro imortal, imortal Aíòn, o soberano dos diademas de fogo, santamente sacrificado pelas purificações santas, enquanto um pouco de minha natureza humana, por um pouco de tempo, foge de mim e que novamente terei, não diminuída, após a prova dolorosa da iminente Fatalidade, eu . . . . . . . . . . . .
. . filho de . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , segundo o decreto imutável de Deus. Já que não me é possível, nasci mortal, elevar-me com os raios de ouro da claridade inextinguível, fica tranqüila. Natureza perecível dos mortais e toma-me no campo são e salvo, após a prova da impiedosa Fatalidade. Pois eu sou o filho."
Tira dos raios o sopro, ao aspirar com toda a força verás que te tornarás leve e que ascenderás no espaço de modo que ficarás no ar. Nada ouvirás nem ser humano nem animal, porém muito menos verás, nessa hora, as coisas mortais da terra, só verás a imortalidade. Pois verás a posição divina dos astros desse dia e da hora, os deuses que presidem a esse dia, uns subindo aos céus, outros descendo. A viagem dos deuses visíveis através do disco solar te será manifesta, o mesmo quanto ao que se chama 'a flauta' de onde sai o vento que está em movimento. Pois verás suspensa no disco, como que uma flauta dirigida para o lado oeste, no infinito com vento do leste, se a direção assinalada for o leste, nesse caso o vento oposto possivelmente se dirigirá para esta região, verás o movimento giratório da imagem. Os deuses te fixarão e te hostilizarão. Nesse momento coloca imediatamente o teu dedo indicador sobre os lábios e dize: "Silêncio, Silêncio, símbolo do deus vivo imortal, protege-me, Silêncio! "Em seguida dá dois longos assobios, depois estala a língua e dize: `Tu que lanças teus raios de esplendor, Deus da Luz" e então verás os deuses olharem benevolamente; não mais investirão; um e um, cada deus voltará a seu lugar, onde deve agir. Quando por fim vires que o mundo lá de cima se fecha em círculos, que nenhum dos deuses nem dos daimons está contra ti, prepara-te para ouvir um formidável roncar de trovão que te deixará estupefato. Então dize: "Silêncio, silêncio... sou um astro que leva consigo seu rumo, se bem que provenha das profundidades." Dá dois assobios, estala a língua duas vezes e verás imediatamente os astros deslocarem-se do disco e virem até ti, grandes como a palma da mão; haverá muitos deles e encherão o ar à tua volta. Dize: "Silêncio, Silêncio." E quando o disco se abrir verás um círculo no fogo e as portas de fogo fechadas. Então pronuncia o que segue, de olhos fechados.
"Ouve-me, escuta minha prece, eu . . . . . . . .... . . . , filho de . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
, Senhor que pelo sopro fechou as portas de fogo da quarta zona, Guardião do fogo, Criador da Luz, deus do sopro de fogo, deus de coração de fogo, Espírito da Luz, tu que o fogo alegra, esplendor da luz, Aíòn, soberano da luz, deus com corpo de Fogo, espírito da luz, alegrado pelo fogo, doador do fogo, semeador do fogo, manipulador do fogo, intenso como a luz, tu que impeles o fogo como cascata rumorejante e turbilhonante, tu que moves a luz, manipulador do raio, glória da luz, gerador da luz, mantenedor da luz através do fogo, domador dos astros. Abre- me, assim o invoco, em virtude da cruel e impiedosa Fatalidade iminente, os nomes que nunca tiveram um lugar na natureza, que jamais articulou a língua humana, som ou voz de um mortal, os nomes eternamente vivos e gloriosos."
Pronuncia todos esses nomes com o fogo e o sopro, dizendo uma vez a série completa e depois recomeçando uma segunda vez até que tenhas designado os sete deuses imortais do mundo. Quando acabares de designar estes nomes escutarás os furores do trovão e o ribombar no ar que te envolve; ao mesmo tempo sentirás um forte abalo. Dize então novamente `Silêncio' e o mais, abre em seguida os olhos e verás as grandes portas abertas e o mundo dos deuses por trás daquelas portas e em virtude da alegria e voluptuosidade que essa visão proporciona, teu espírito desejará subir até ali. Permanece onde estás e olhando fixamente para este mundo divino acalma- te. Quando tua alma estiver em calma dize: "Vem a mim, Senhor". Quando tiveres assim falado os raios se voltarão contra ti. Olha para o meio deles, verás um deus muito jovem e de bela aparência, com cabelos de fogo, com túnica branca e clâmide purpúrea, tendo na cabeça uma coroa ígnea.
Quando então se erguerem de ambos os lados em fileiras, como uma guarda ameaçadora, olha fixamente para o ar à tua frente e verás caírem raios, brilhar uma luz corruscante, a terra tremer, e descerá um deus gigantesco, com rosto lumífero, muito jovem, com os cabelos de ouro, tendo na mão direita a espádua de um bezerro de ouro, isto é, a Ursa que move o céu e o faz girar em sentido contrário, que de momento em momento sobe e torna a descer o pólo. Na seqüência verás sair dos olhos do deus: raios e de seu corpo: estrelas. Solta então um longo gemido apertando as ilhargas para acordar de uma só vez, longamente até o esgotamento beija de novo os filactérios e dize: "Vida de (Osíris (?) ) . . . . . . . . . . . . . . ., permaneça comigo em minha
alma, não me abandones pois esta é a ordem de (Ra (?) ) . . . . . . . . . . . . . . ." Fixa o deus, emitindo um longo gemido e o saúda nestes termos: "Salve, Senhor, Mestre da água, salve, Criador da terra, salve Príncipe do alento, deus de brilho resplandescente. Dá-me um oráculo, Senhor, acerca da presente conjuntura. Senhor, Mestre da água, renascido, eis que me vou, cresci e já morro, nascido de um nascimento que dá vida, eu morro para dissolvido entrar na morte, segundo o que estabelecestes, segundo o que instituíste ao fundar o mistério. E então ser-te-á dado o oráculo. Será separado de tua alma, não mais estarás em ti mesmo quando ele responder. O oráculo te será dado em versos e o deus, após ter-te dito, irá embora. E tu permanecerás em silêncio pois compreenderás tudo por ti mesmo e então reterás na íntegra as palavras do grande deus, mesmo que o oráculo contenha mil versos."

Continua...

domingo, 5 de julho de 2020

Reflexão Casual XCV



"Agradeço a irmã morte por todos os sermões e puxões de orelha que me deste, por me fazer enxergar que nada sou, além de um ser vivente."

Paulinopax