O
CATOLICISMO GUERREIRO II
O MESSIANISMO GUERREIRO DOS PORTUGUESES
COLONIZADORES
Paulo da Costa Paiva
OS EFEITOS DO CATOLICISMO GUERREIRO SOBRE A REALIDADE BRASILEIRA
Assim como toda ação leva a uma reação, Os índios assim
como também os africanos reagiram à religiosidade violenta e opressora do
cristianismo guerreiro da mesma forma, transformando seus deuses em divindades
vingativas e violentas, partindo para o “olho no olho, dente por dente”. Os
índios despertaram em sua religiosidade os antigos deuses guerreiros onde uma
força divina que os transformavam em instrumento duma luta sobrenatural, já na
religiosidade africana se refugiou, mas precisamente no plano místico onde seus
deuses agrícolas e pastoris se transformaram em divindades violentas e
vingativas, que nessa transição não se deve jamais ser subestimada, pois se
trata de uma forma de resistência social, cultural e político que levara
futuramente a redenção da escravatura.
O espírito de vingança que reina em
diversas regiões brasileiras não é porque seja um "gênio popular” ou
porque seria uma característica do caráter indígena ou do africano, mas sim uma
forma de resistência contra a opressão e exploração causada pela elite colonial
e branca européia, com a sua doutrinação esmagaste, onde se viam como
salvadores de almas dos gentios (nativos e escravos) para o Deus cristão, mas
que na prática foram em nome desse próprio Deus que escravizaram, exploravam e
matavam para seu próprio beneficio, se utilizando da religião como pano de
fundo para todas as suas atrocidades.
A
PERSISTÊNCIA DO CATOLICISMO GUERREIRO NO BRASIL
O catolicismo guerreiro influenciou fortemente o
cotidiano brasileiro tanto os civis com a sua religiosidade popular como as
próprias forças militares respirava da espiritualidade guerreira, tinha seu
capelão como também tinha seu padroeiro que deveria ser um santo guerreiro,
mesmo não sendo reconhecido canonicamente como militante de Deus, mas sofria
uma profunda mudança e releitura teológica com uma representação guerreira.
Entre os militares muitos abraçavam esse ideal de vida de entrar em combate em
nome de Deus, e existem entre eles índios e negros que vestiam a causa por
obediência aos seus senhores em nome de Deus e da coroa portuguesa, isso se
torna muito interessante para elite colonial brasileira, pois indivíduos pobres
e marginalizados a serviço de grupos aristocratas, se torna ideal para os
promotores da guerra Santa na terra tupiniquim. Entre eles temos o índio Felipe
Camarão que combateu a favor dos senhores de engenhos contra os comerciantes
holandeses, outra imagem conhecida seria do negro Henrique Dias que mereceu as
mais altas honras militares por ter sido fielmente dedicado aos intentos
guerreiros de seus senhores.
Mas como se torna possíveis os marginalizados e explorados
abraçar os ideais dos colonos aristocratas? Tudo isso era possível porque
existe sem duvida o atrativo financeiro e a possibilidade de ascensão dos
mestiço ou mulato na sociedade de ordens, mas isso nem sempre era suficiente
para garantir a lealdade desses indivíduos como de todos os militares em geral
juntos a elite colonial por isso existia uma grande desconfiança entre ambos.
Para isso novamente a religião era usava como ferramenta ideológica para impor
entusiasmo como também impor o medo. Primeiramente entusiasmar o povo com
animação popular e religiosa, com todos os seus simbolismos religiosos:
Triunfos Eucarísticos, procissões, festas, sermões.
E havia também competições
desportivas tudo isso historicamente em todo processo desde primórdio da civilização
ocidental conhecemos como a dita política do pão e circo que acalma as grandes
massas insatisfeitas. Outra forma que se utilizava para manter o povo no
cabresto seria através do medo, amedrontando a massa era possível controlá-la,
isso nesse perigo seria através da fé que sendo infiel e desobediente aos seus
senhores e autoridade poderiam queimar no fogo do inferno, outra forma era
trazer o próprio inferno ao mundo dos vivos, que seria o próprio santo oficio
que torturava, esquartejava ou queimava vivo num verdadeiro circo de horrores,
no Auto de Fé onde a própria multidão torcia pelos juízes (representantes de
Deus) condenasse os hereges.
A CONTESTAÇÃO DO CATOLICISMO
GUERREIRO EM NOME DO EVANGELHO
A Tomada de posse do Brasil pelos europeus foi gradativamente
lenta e praticamente esporádica, dessa forma também a contestação tanto no
Reino de Portugal como na colônia, pois não houve no Brasil uma conquista
global, pois suas guerras e revoluções sempre foram locais e facilmente
abafadas pelas autoridades. Observa-se que durante o processo histórico que
alguns padres bateram de frente todo o sistema opressor das autoridades tanto
do reino de Portugal como do próprio alto clero em nome do evangelho, pois se
via uma contradição com a sua própria essência para os seus próprios interesses,
pois só quem sentia eram os marginalizados e excluídos da sociedade, o negro, o
índios e o pobre em gera.
Dessa forma podemos citar alguns que se
destacaram na história como, por exemplo, o padre Gonçalves Leite, SJ (1546-1603)
português e primeiro professor de filosofia no Brasil, que sustentava a tese
que “Nenhum escravo da África ou no Brasil é justamente cativo.” Diante de sua
posição ficou insuportável a sua permanência, sendo convidado a voltar a
Portugal em 1586, pois além de contradizer os interesses das Autoridades
Coloniais como uma grande parte da Igreja, poderia ser que suas idéias e
fomentasse e causaria um perigo maior de futuros movimentos revolucionário
contra a Coroa de Portugal. Nessa mesma corrente ideológica, outros padres se
destacaram como o Pe. Miguel Garcia que defendia a liberdade dos índios, o
padre Luis da Grã que se opôs à comercialização dos escravos, outro que
combateram a sacramentalização precipitada como o padre Inácio de Tolossa que
discutia a validade do matrimônio realizado entre os índios como também a
legitimidade de compra e venda de escravos, e a liberdade original dos
índios. Muitas outras problemáticas que
surgiam na colônia que contentavam seriamente os princípios do evangelho de
Jesus Cristo.
No século XVI, o Padre Antônio
Vieira com os seus sermões que na verdade era uma grande arma e com a sua voz
possante conseguia conscientizar os portugueses brasileiros e outros
colonizadores sobre seus erros da colonização. Ele resistiu firmemente todos os
embates e quando aos 73 anos, retornando novamente ao Brasil se dedicou aos
trabalhos missionários especificamente junto aos índios. Padre Antônio teve outros sucessores que
deram continuidade a sua iniciativa no combate dos abusos dos Senhores e das
autoridades colonial contra os índios e os negros. Essa tradição teológica de
resistência principalmente ao lado do índio terminou bruscamente com a expulsão
dos jesuítas no ano de 1759 e através da reforma pombalina, mas apesar de toda
violência imposta pela coroa com uma nova forma de teologia, mas interessada em
favorecer os colonos não reprimiu as idéias de resistência por parte dos negros
e índios catequizados pelos jesuítas, que mesmo ausente a partir de então, seu
fruto de luta contra a opressão permaneceu em seus corações.
Paz e Bem!
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