sábado, 19 de janeiro de 2019

Formação do Catolicismo Brasileiro 1500 - 1800 / 4ª Parte

O CATOLICISMO POPULAR
O QUE ENTENDEMOS DO CATOLICISMO POPULAR?

Paulo da Costa Paiva


            Para se falar sobre a o catolicismo popular, primeiramente é importante deixar bem claro, que índios e negros não eram considerado povo durante o período português da história brasileiro, somente os portugueses e seus descendentes eram considerado povo o restante eram “gentios da terra” (índios) ou “peça de Guiné, de Moçambique, de Angola” (negros), dessa forma seria mais lógico ser chamado de catolicismo gentílico do que propriamente de catolicismo popular, uma religiosidade vivida pelo em pobre em geral. 

             Diante dessa realidade de uma religiosidade dúbia, podemos identificar claramente que a divisão de classe não está somente no âmbito social, mas transcende a própria religião, a elite se mostra claramente indiferentes do catolicismo popular, reconhecendo somente o catolicismo estabelecido ou o patriarcal, tendo em vista que oficialmente eram expressos que existia somente um catolicismo que constituía como “cimento da unidade nacional”. Já o catolicismo vivido pelo pobre em geral era negado todo seu valor e originalidade, sendo uma religiosidade experimentada pelo povo humilde numa interiorização dos temas apresentado pela religião dominante, mas vai muito, além disso, pois se tornou uma cultura própria, sendo a mais original e a mais rica que o Brasil já produziu.

            Os portugueses conseguiram conviver com os índios e africanos de maneira estável, confraternizando de forma aparente com a raça dita inferiores (os negros e índios), sem a necessidade de segregação racial, por motivos estrategicamente políticos, essa convivência era perfeitamente ambígua, pois se apresentava como harmoniosa entre ricos e pobres, mas na verdade era uma realidade onde a dominação era exercida com sutileza e crueldade.

             A repressão por parte do governo junto ao povo mais simples e sem direitos, deixa na consciência coletiva um profundo trauma, de uma verdadeira desesperança por receio de tentar novamente por receio da morte sem expectativa de libertação, conseqüentemente interioriza suas aflições na religião como forma de refúgio e consolação, diante dessa situação podemos reconhecer que a religiosidade popular surgiu a partir da experiência de repressão, e ela contém dois momentos cruciais: Um primeiro momento de revolta e um segundo momento de abafamento ou repressão desta revolta. Sendo uma consciência vivida de forma abafada sob a ação de uma tradicional sabedoria de conformismo e paciência fatalista diante de todo contraste social reprimida pela religião da casa grande vivendo obediente e dependente dos seus “senhores” onde uns vivem dos outros, a custa dos outros.

UM PROBLEMA DE LINGUAGEM: PROVIDENCIALISMO E PROGRESSISMO

Desde o início da descoberta do Brasil, a colônia portuguesa vivia sob o signo da providência divina, a mão de Deus e fazia atuante em todo seu processo histórico e a formação da nação. Uma fé inabalável que animava a todos, ricos e pobres, tudo em seu cotidiano era reconhecida como ação direta de Deus para com todos, e as próprias colônias portuguesas antes de se chamar Brasil foi nomeada de terra de Santa Cruz, e a maioria das cidades e tudo que era descoberto e levantado (fundado) tinham nome de algum santo católico. 

A divina providência marcava os ritmos da vida do povo tanta nas alegrias como nas dores, era um povo muito religioso e muito cristão pelo menos na tradição e na esperança naquele único que poderia auxiliá-los e salva-los diante de tantas dificuldades, e essa tradição entre o povo brasileiro e seus lideres que a intervenção divina se fazia presente no seu cotidiano se estendeu por séculos, era comum em momentos de conflitos a impregnação de um ar de misticismo, onde a mão de Deus pairava diretamente nos conflitos e se faziam muitas promessas (ambos os lados) e agradecimento por vitória nas guerras tanto interna contra as isoladas rebeliões dos insatisfeitos com a coroa portuguesa, como os conflitos externos contra invasores europeus (franceses e holandeses principalmente). 

Esse providencialismo religioso não foi manifestado espontaneamente ou pelo menos nem sempre foi assim e nem para com todos, muitas das vezes se utilizavam da própria religião como ferramenta e até de manobra para com os povos explorados e perseguidos, impondo aos índios mansos e os negros escravos a sua religião e as suas condições, na qual em suas leituras de suas próprias religiões nativas identificavam a sua atual situação como manifestações de seus deuses, na qual estavam fadados a se conformar e se refugiar na esperança de um futuro melhor. No século 19, surge junto com as classes dirigentes o progressismo que serviu apenas de disfarce para ocultar a metamorfose colonial para poder estabelecer o segundo pacto colonial. Enquanto o primeiro período colonial foi marcado pelo providencialismo medieval, o segundo período colonial recebeu a marca do progressismo europeu principalmente por influência dos ingleses e franceses, na qual foram encarnadas suas culturas e economia no cotidiano brasileiro, quase exclusivamente nas cidades principalmente pelos ricos e nobres locais, surgindo dessa forma, “dois brasis” com um grande abismo sociocultural aos mais pobres e as cidades menores do interior brasileiro.

Continua...



Paz e Bem!

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