O CATOLICISMO PATRIARCAL
ESTABELECIMENTO DE UMA “SOCIEDADE DE
ORDENS” NO BRASIL
Paulo da Costa Paiva
Durante o século 16 por causa dos perigos
causados pela resistência dos índios no interior e dos franceses, ingleses e
holandeses no mar, a cultura colonial se limitava a uma estreita faixa
litorânea. Sendo os engenhos e as fazendas a marca duradoura desse período,
pois não é tanto nos centros urbanos que se deve procurar a grande concentração
de vida no Brasil colonial, mas sim nos isolados e rudimentares
estabelecimentos rurais. Isso se intensificou com o surgimento de fazenda
motivado pelos bandeirantes que explorava o interior brasileiro e a principal
característica são a importância da liderança local e o aproveitamento do
trabalho escravo totalmente dependente dos senhores das fazendas e dos
engenhos, sendo conhecida culturalmente como o período patriarcal. Tudo isso
foi criação do governo metropolitano motivada pela questão das terras roubado
dos índios pelo reino de Portugal, mas diante disso se via a necessidade de
legitimar como terra brasileira como propriedade de justo e por direito da
coroa.
Baseados em teoria nem tanto portuguesa e sim espanhola, se imaginava
que o mundo inteiro seria um grande feudo cujo senhor supremo seria Deus, que
tinha como o seu representante na terra o Papa, então dessa forma se criou uma
relação senhor - vassalo entre o Papa e o rei, dessa forma também o Rei e o
donatário que receberam uma capitania e assim conseqüentemente até chegar ao
senhor dos engenhos e fazenda. A religião novamente foi uma ferramenta
fundamental diante da população, pois os novos senhores de terras foram sendo
conhecidos como nobres numa política de nobilitação e paralelamente junto aos
escravos à política era paternalista e tutelar. Conseqüentemente num jogo de
interesses mútuo, a própria Coroa portuguesa buscou também notibilitar os
bispos do Brasil colonial, sendo convergidos em honras e com os maiores
salários da folha eclesiástica.
O
CATÓLICISMO PATRIARCAL E SUAS CARACTERÍSTICAS
O
catolicismo nesse período colonial tinha como função especifica de sacralizar e
perpetuar o poder do estado, a própria instituição no Brasil se tornou uma
“Religião Estado”, totalmente inserida e disponível ao interesses escravocratas
dos senhores locais e tinha como objetivo impedir o nascimento de uma
consciência de comunidade entre trabalhadores nos engenhos, nas fazendas e
minerações, os mantendo, mas afastado possível, impedindo uma futura rebelião
contra a colônia. A religião buscava orientar e plasmar a religiosidade povo
escravo lhe tirando todo dinamismo transformador. O engenho assim como as
fazendas se tornou sagrado, conseqüentemente seus senhores também se tornando
pessoas iluminadas e sagrada com a benção de Deus para aquela função de
apadrinhamento dos seus que se encontrava em suas fazendas e engenhos, já os
escravos tinham de total submissão e fidelidade ao seu senhor. Enquanto na América espanhola o poder era
predominantemente centralizado na América portuguesa seguia o caminho
totalmente oposto, onde o poder local (engenhos e fazendas) foi praticamente
absoluto e incontestável.
Nos engenhos e fazendas não somente
os escravos eram obedientes ao senhor local, mas os próprios sacerdotes que
tinham a função da desobriga como também catequizar no conformismo como forma
de expiação de seus pecados para um futuro de consolação junto a Deus, sendo
fiel e obediente ao seu senhor e a Igreja. No Brasil só reconheceu um clero
livre e independente através dos jesuítas, mas somente entre aqueles que se
interessava ao trabalho missionário nos aldeamentos já o restante do clero era
ligada aos engenhos e fazendas que se submetiam de bom agrado ao servil do
sistema patriarcal. Apesar de tudo isso dentro dos engenhos e fazendas havia
certa liberdade de suas tradições religiosa velada e absolvida no sincretismo
religioso predominantemente cristão. Dessa forma o catolicismo patriarcal foi
duradouro, transformando um catolicismo monacal, puritano e celibatário num
avesso sendo sensual e até libertino, que suportava poligamia e promovia
namoros nas portas das Igrejas (Festejos de santos casamenteiros), que refletia
a realidade de uma cultura rural, patriarcal e escravocrata.
A DUPLA MORAL DO CATÓLICISMO
PATRIARCAL
A ambigüidade moral é explicitamente
identificável no cotidiano patriarcal e católico na colônia brasileiro do reino
Portugal, pois prega uma moral para os proprietários e outra mora para os
escravos. E essa moral vivenciada pelos senhores se baseia numa sacralização do
assistencialismo junto aos pobres já a outra moral relacionada ao escravo e
pobre se torna possível sua santificação pelo conformismo de sua realidade como
designo de Deus. A colonização portuguesa na terra de Santa Cruz foi vivida
numa contextualização medieval e seus dirigentes como verdadeiros nobres onde o
assistencialismo e o paternalismo são predominantes e considerados virtude. Mas
não bastava se limitar somente em dar esmola, era fundamental se ouvir o clamor
do pobre, e não se refugiar num ato que primeiramente poderia ser bom e nobre,
mas se concretiza como uma fuga, pois os considerados herdeiros vindos do reino
de Portugal eram na realidade, os invasores que se comportavam se comportavam
diante dos nativos (índios) como os legítimos donos da terra.
Os proprietários
têm consciência que estão errados, mas conseguem reprimir isso dentro de si, e
a esmola se torna uma maneira (ou fuga/desculpa) para se criar uma consciência
tranqüila velada deturpadamente nas exigências do evangelho. Os que defendiam ou pelo menos se importavam
com os pobres seria os jesuítas principalmente junto aos índios, já junto aos
escravos africanos era tão desesperador de que única forma de se amenizar as
dores dos negros escravos seria na comparação com as dores de Cristo em sua
paixão ao levar a cruz, que se conforma com todas as dores e humilhação por
amor ao Pai e a humanidade para remissão dos pecados e a salvação de todos. O
negro assim como o Cristo Jesus na sua dolorosa obediência era convidado a
amenizar suas dores, tudo suportando em sua vida tão dura e difícil, no
martírio da vossa imitação (Cristo), numa esperança que não se faz presente
aqui, mas nos Céus.
O CATOLICISMO MINEIRO
O catolicismo mineiro foi predominante em toda América
desde o início, tanto por espanhóis como por portugueses, só que os hermanos
espanhóis encontraram ouro e prata bem antes, já na época do descobrimento do
novo continente. Na colônia portuguesa, Foi através das entradas e bandeiras
pelo interior brasileiro que encontraram ouro no Brasil, como também prata e
cobre e pedras preciosas como diamantes e esmeraldas. O objetivo dos reinos de
Portugal e Espanha não era outro se não explorar as riquezas das terras virgem
do novo mundo principalmente o ouro e a prata, pois eram fundamentais para o
comercio intercontinental, desde a descoberta do novo mundo até pouco antes do
século 19, onde o ouro que alimentou a Europa veio principalmente da América
Latina.
Diante dessa grande realidade econômica cooperou na formação de um tipo
de religião que estava a serviço da exportação do ouro. Duas classes estavam
profundamente interessadas em manter o catolicismo mineiro como ferramenta de
seus interesses, que são os funcionários do governo e os comerciantes de ouro,
esses homens exercem nas minas o mesmo papel religioso e paternal que os
senhores dos engenhos e fazendas fazem em suas localidades, contribuindo para
as construções e o sustento de magníficas igrejas, como também para os brilhos
de festas e de procissões, sempre mantendo as pregações moralizantes junto aos
produtores de minérios, proprietários e escravos.
Grande parte do ouro (pois havia os extravios) ia para o Reino de Portugal, mas precisamente durante reinado de Dom João V que sofria de “Mania devota”, grande parte foram gasto em construção e reconstrução de igrejas e conventos em Portugal, como também numerosas indulgência à Santa Sé assim como diversas bênçãos papais. Era tanto ouro que deu impressão de que já não sabia mais o que fazer com tanta riqueza vinda do Brasil, se mostrando incapaz de trazer prosperidade para o seu povo que ficou pobre como antes. Isso refletia aqui também no Brasil a total mediocridade dos Vice-reis, governadores, capitães e donos terras mostrando sua incapacidade nos gasto com as riquezas em mãos, que só servia para ostentação e gastavam em construções religiosas e compra de títulos honoríficos.
Enquanto uma minoria esbanjava as riquezas
provindas dos minérios brasileiros, uma grande parte da parcela dos habitantes
vivia em total miséria, vivendo sobre a mão de ferro do império que mantinha
total vigilância contra as tentativas de contrabando de ouro e dos riscos de
contestação por parte de religiosos, seguindo a cartilha da igreja secularizada
a serviço do reino de Portugal que a mantinha e financiava, mas é na própria
igreja onde também se encontrava refugio de esperança e o lazer provindo das
festas santas. Enquanto as minas brasileiras fazem crescer a circulação de ouro
na Europa, paralelamente a isso no Brasil não circulava dinheiro e
conseqüentemente surgem às dívidas externa e já não se pode dizer que Portugal
é dono do País, pois a metrópole se tornar dependente do reino britânico.
Paz
e Bem!
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