O CAIBALION
Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da
Grécia
CAPÍTULO XII – A
CAUSALIDADE
"Toda Causa tem seu Efeito; todo
Efeito tem sua Causa; todas as coisas acontecem de acordo com a Lei; o Acaso é
simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; existem muitos planos de
causalidade, mas nada escapa à Lei."
O Sexto Grande Princípio hermético − o
Princípio de Causa e Efeito − contém a verdade que a Lei domina o Universo,
nada acontece por Acaso, que este é simplesmente um termo para indicar a causa
existente, porém não reconhecida ou percebida; ’que os fenômenos são contínuos,
sem interrupção ou exceção.
O Princípio de Causa e Efeito está oculto
em todas as idéias científicas antigas e modernas, e foi anunciado pelos
Instrutores Herméticos nos primitivos dias. Quando se levantaram muitas e
variadas disputas entre as diversas escolas de pensamento, estas disputas foram
principalmente sobre os detalhes das operações do Princípio, e ainda às mais
das vezes sobre a significação de certas palavras. O Princípio obscuro de Causa
e Efeito foi aceito como exato praticamente por todos os pensadores de nomeada
do mundo inteiro. Pensar de outro modo seria subtrair os fenômenos do universo
do domínio da Lei e da Ordem, e proscrevê−lo ao domínio de uma causa imaginária
que os homens chamaram o Acaso.
Uma pequena consideração mostrará a todos
que em realidade não existe coisa alguma de puro. Acaso. Webster define a
palavra Acaso do modo seguinte: "Um suposto agente ou r,,íodo de atividade
diferente da força, lei ou propósito; a operação de atividade de tal agente; o
suposto eleito deste agente; um acontecimento fortuito, uma causalidade,
etc." Porém, um pequeno exame ’ mostrar−vos−á que não existe um agente
como Acaso, no sentido de uma coisa fora da lei, uma coisa fora de Causa e
Efeito. Como poderia ser uma coisa que agisse no universo fenomenal,
independente das leis, da ordem e da continuidade deste último? Tal coisa seria
inteiramente independente do movimento ordenado do universo, e portanto
superior a este. Não podemos imaginar nada fora do TODO que esteja fora da Lei,
e isto somente porque o ToDo é a própria LEI. Não há lugar no universo para uma
coisa fora e independente da Lei. A existência de tal Coisa tomaria sem efeito
todas as Leis Naturais, e mergulharia o universo em uma desordem e ilegalidade caótica.
Um exame cuidadoso mostrará que aquilo que chamamos Acaso é simplesmente um
modo de exprimir as causas obscuras; as causas que não podemos compreender. A
palavra Acaso derivada de uma palavra que significa cair (como a caída dos
dados) 1 dando a idéia de que a caída dos dados (e de muitos jogos de azar) é
simplesmente um acontecimento que não tem relação com qualquer causa. E é este
o sentido em que geralmente é empregado o termo. Mas quando o assunto é
examinado secretamente, vè−se que não há nenhum acaso na caída dos, dados.i
Todos os dias ’cal uma morte, que desagrada a um certo número de pessoas; ela
obedece a uma lei do infalível como a que governa a revolução dos planetas ao
redor do sol. Atrás da vinda da morte estão as causas, ou cadeias de causas,
movendo−se além do lugar que a mente pode alcançar. A posição da morte no box,
a redução da energia muscular expendida nos golpes, a condição da mesa, etc.,
etc., todas são causas, cujo efeito pode ser visto. Mas atrás destas causas
observadas existem cadeias de causas de procedência não observada, todas as
quais têm uma influência sobre o número da morte predominante.
Se uma morte dura uma grande quantidade de
tempo, isto procederá de que os números manifestados serão quase iguais) isto
é, haverá um número igual de uma mancha, duas manchas, etc., que são
predominantes. Lançai uma moeda ao ar, e ela cairá sobre quaisquer cabeças ou
rabos, mas fazei um bom número de arremessos e as cabeças e rabos cairão logo.
Esta é a operação da lei proporcional. Mas apesar da proporção e dos simples
arremessos estarem debaixo da Lei de Causa e Efeito, se fôssemos capazes de
examinar nas precedentes causas, seria claramente observado que era
simplesmente impossível para a morte vir de outro modo, nas mesmas circunstâncias
e no mesmo tempo. Dadas as mesmas causas, os mesmos resultados advírão. Sempre
há uma causa e um porquê para todos os acontecimentos. Nada acontece sem uma
causa, ou uma cadeia de causas. Muita confusão houve nas mentes de pessoas que
consideraram este Princípio, porque não eram capazes de explicar como uma coisa
poderia causar outra coisa, isto é, ser a criadora da segunda coisa. Com
efeito, como matéria, nenhuma coisa pode causar ou criar outra coisa. A Causa e
o Efeito são distribuídos simplesmente como eventualidades. Uma eventualidade é
aquilo que acontece ou advém, como um resultado ou uma conseqüêncía de diversos
eventos procedentes. Nenhum evento cria outro evento, mas é simplesmente um elo
precedente na grande cadeia ordenada de eventos procedentes da energia criativa
do TODO. Há.uma continuidade entre todos os acontecimentos precedentes,
conseqüentes e subseqüentes. Há uma relação entre tudo o que veio antes, e tudo
o que vem agora. Uma pedra é deslocada de um lugar montanhoso e quebra o teto de
uma cabana lá embaixo no vale. A princípio consideramos isto como um
acontecimento casual, mas quando examinamos o assunto encontramos uma grande
cadeia de causas. Em primeiro lugar está a chuva que amoleceu a terra que
suportava a pedra e que a deixou cair; em segundo lugar atrás desta está a
influência do sol, de outras chuvas, etc., que gradualmente desintegraram o
pedaço de rocha de um pedaço maior, estão as causas que motivaram a formação da
montanha e o seu levantamento pelas convulsões da natureza, e assim até o
infinito.
Então poderíamos procurar as causas atrás
da causa da chuva, etc. Poderíamos considerar a existência do teto. Enfim, logo
nos envolveríamos em uma rede de acontecimentos, causas e efeitos, de cujas
malhas intrincadas não nos poderíamos desembaraçar. Do mesmo modo que um homem
tem dois pais, quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós, e assim por
diante até que em quarenta gerações calcula−se o número dos avós remontarem a
muitos milhares. Assim é com o número de causas que se ocultam sob o mais
trivial acontecimento ou fenômeno, tal como a passagem de uma delgada fuligem
pelos vossos olhos. Não é coisa agradável descrever o pedaço de fuligem desde o
período primitivo da história do mundo desde quando ele formava uma parte de um
tronco maciço de árvore, que foi primeiramente transformado em carvão e depois
até que passou agora pelos vossos olhos no seu caminho para outras aventuras. E
uma grande cadeia de acontecimentos, causas e efeitos, trouxe−o à sua condição
presente, e a última é simplesmente uma cadeia dos acontecimentos que poderão
produzir outros eventos centenas de anos depois deste momento. Uma série de
acontecimentos procedentes do delgado pedaço de fuligem foi a escrita destas
linhas que fez otipógrafo−mestre reformar certa palavra, o revisor fazer a
mesma coisa, e que produzirá certos pensamentos na vossa mente, e de outros,
que por sua vez afetarão outras e assim por diante conforme a habilidade do
homem para raciocinar: e tudo isto da passagem de um delgado pedaço de fuligem,
o que mostra a relatividade e associação das coisas, e o fato anterior que
"não há coisa grande, não, bá coisa pequena, na mente que causa
tudo".
Detende−vos a pensar um momento. Se certo
moço não tivesse encontrado uma certa moça, no obscuro período da Idade da
Pedra, vós, que agora estais lendo estas linhas, não existiríeis agora. E,
talvez, se o mesmo casal não se encontrasse, nós que escrevemos estas linhas,
não existiríamos também agora. E o verdadeiro ato de escrever, da nossa parte,
e o ato de ler, da vossa, poderá não só afetar as respectivas vidas nossas e
vossas, mas também poderá ter uma influência direta ou indireta sobre muitas
outras pessoas que agora vivem e que viverão nas idades futuras. Toda idéia que
pensamos, todo ato que fazemos, tem o seu resultado direto ou indireto que se
adapta à grande cadeia de Causa e Efeito.
Não queremos entrar em consideração sobre o
Livre−Arbítrio ou o determinismo, nesta obra, por várias razões. Entre as
diversas razões, a principal é que nenhum lado da controvérsia é inteiramente
verdadeiro; com efeito, ambos os lados são parcialmente verdadeiros, de acordo
com os Preceitos herméticos. O Princípio de Polaridade mostra que ambos são
Meias−Verdades: pólos opostos da Verdade. Os Preceitos são que o homem pode ser
Livre e ao mesmo tempo limitado pela Necessidade, dependendo isto da
significação dos termos e elevação da Verdade cuja significação é examinada. Os
escritores antigos expressam este assunto, assim: "A criação que está mais
distante do Centro é a mais limitada; quanto mais próximo chega do Centro,
tanto mais Livre é." A maioria das pessoas são mais ou menos escravas da
hereditariedade, dos que as rodeiam, etc., e manifestam muito pouca Liberdade.
São guiadas pelas opiniões, os costumes e as idéias dc, mundo exterior, e
também pelas suas emoções, sensações e condições, etc. Não manifestam domínio
algum, digno de nome. Indignamente repudiam esta asserção, dizendo: ,pois eu
certamente sou livre para agir e fazer como me apraz; faço justamente o que quero
fazer", mas deviam explicar melhor o quero e o como me, apraz. Que os faz
querer fazer uma coisa de preferência a outra; que lhes faz aprazer fazer isto
e não aquilo? Não existe por que para a seu prazer e desejo? O Mestre pode
mudar estes prazeres e vontades em Outros no lado Oposto do Pólo mental. Ele é
capaz de Querer por querer, sem querer por causa das condições, emoções meio,
sem tendência ou desejo. , sensações ou sugestões do A maioria das pessoas são
arrastadas como a pedra que cai, obediente ao meio, às influências exteriores e
às condições e desejos internos, não falando dos desejos e das vontades de
outros mais fortes que elas, da hereditariedade, da sugestão, que as levam sem
resistência da sua parte, sem exercício da Vontade. Movidas, como os peões no
jogo de xadrez da vida, elas tomam parte neste e são abandonadas depois que o,
jogo terminou. Mas os Mestres, conhecendo a regra do jogo, elevam−se acima do
plano da vida material, e colocando− se em relação com as mais elevadas forças
da sua natureza dominam as suas próprias condições, os caracteres, as
qualidades e a polaridade, assim como o meio em que vivem, e deste modo
tornam−se Motores em vez de Peões: Causas em vez de Efeitos. Os Mestres não
escapam da Causalidade dos planos mais elevados, mas concordam com as leis
superiores, e assim dominam as circunstâncias no plano inferior. Eles formam
parte consciente da Lei, sem serem simples instrumentos. Enquanto servem nos
Planos Superiores, governam no Plano Material.
Porém, tanto nos superiores como nos
inferiores, a Lei está sempre em ação. Não há c oisa do Acaso. As deusas cegas
foram abolidas pela Razão. Agora podemos ver com olhos esclarecidos pelo
conhecimento que tudo é governado pela Lei Universal − o infinito número de
leis é simplesmente uma manifestação da única Grande Lei − a LEI que é O TODO.
É verdade, contudo, que nem mesmo um pardal fica descuidado à Mente do TODO,
assim como os cabelos da nossa cabeça são contados, como disseram as
escrituras. Nada há fora da Lei; nada do que acontece é contrário a ela.
Contudo, não cometais o erro de supor que, por causa disso, o Homem é
simplesmente um cego autômato. Os Preceitos Herméticos ensinam que o Homem pode
usar a Lei contra as leis, e que a vontade superior prevalece contra a
inferior, até que por fim procure refúgio na própria LEI, e olhe com desprezo
as leis inferiores. Sois capaz de compreender a mais íntima significação disto?
Continua...
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