O CAIBALION
Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da
Grécia
CÁPÍTULO VI - PARADOXO
DIVINO
"Os falsos sábios, reconhecendo a
irrealidade comparativa do Universo, imaginaram que podiam transgredir as suas
Leis: estes tais são vãos e presunçosos loucos; eles se quebram na rocha e são
feitos em pedaços pelos elementos, por causa da sua loucura. O verdadeiro
sábio, conhecendo a natureza do Universo, emprega a Lei contra as leis, o
superior contra o inferior; e pela Arte da Alquimia transmita aquilo que é
desagradável naquilo que é agradável, e deste modo triunfa, O Domínio não
consiste em sonhos anormais, em visões, em vida e imagInações fantásticas, mas
sim no emprego das forças superiores contra . as inferiores, escapando assim
das penas dos pia−nos inferiores pela vibração nos superiores. A Transmutação
não é uma denegação presunçosa, é a arma ofensiva do Mestre."
Este é o Paradoxo do Universo, que resulta
do Princípio de Polaridade que se manifesta quando o TODO começa a Criar. É
necessário prestar atenção, porque isto estabelece a diferença entre a falsa e
a verdadeira sabedoria. Enquanto que para o TODO INFINITO, o Universo, as suas
Leis, as suas Forças, a sua Vida e os seus Fenômenos, são como pensamentos
presentes no estado de Meditação ou Sonho; para tudo o que é Finito, o Universo
deve ser considerado como Real, e a vida, a ação e o pensamento devem ser
baseados nele, de modo a concordar com um preceito da Verdade superior; cada
qual concordando com o seu próprio Plano e suas Leis. Se o TODO imaginasse−que
o Universo era verdadeira Realidade, desgraçado do Universo porque ele não
poderia subir do inferior ao superior que a deificação; então o Universo
ficaria fixo e o progresso seria impossível.
E se o Homem, devido à falsa sabedoria,
considerar as ações, vidas e pensamentos do Universo, como um mero sonho
(semelhante aos seus próprios sonhos finitos), então ele o faz tão conveniente
para si, e, como um dormidor que está passeando, tropeça sempre num círculo
vicioso, sem fazer progresso algum, sendo, por fim, despertado por uma queda
terrível, provenIente das Leis Naturais que ele ignora. Conservai sempre a
vossa mente nas Estrelas, mas deixai os vossos olhos verem os vossos passos
para não cairdes na lama, por causa da vossa contemplação de cima. Lembrai−vos
do Paradoxo Divino, que ao mesmo tempo que o Universo NÃO EXISTE, ELE EXISTE.
Lembraí−vos sempre dos dois Pólos da Verdade: o Absoluto e o Relativo. Tomai
cuidado com as Meias−Verdades.
Aquilo que os Hermetistas conhecem como a
Lei do Paradoxo é um aspecto do Princípio de Polaridade. Os escritos herméticos
estão cheios de referências ao aparecimento de Paradoxos na consideração dos
problemas da Vida e da Existência. Os Instrutores previnem constantemente os
seus discípulos contra o erro de omitir o outro lado de cada questão. E as suas
admoestações se referem particularmente aos problemas do Absoluto e do
Relativo, que deixam perplexos todos os estudantes de filosofia, e que causam
muitas idéias e ações contrárias ao que é geralmente conhecido como senso
comum. Nós prevenimos a todos os estudantis que fiquem certos de compreender o
Paradoxo Divino do Absoluto e do Relativo, para não ficarem atolados na lama da
Meía−Verdade. É para este fim que foi escrita esta lição particular. Aprendei−a
bem!
O primeiro pensamento que o homem pensador
tem, depois que ele compreende bem a verdade que o Universo é uma Criação
Mental do TODO, é que o Universo, e tudo o que ele contém, é mera ilusão,
irrealidade; idéia contra a qual os seus instintos se revoltam. Contudo esta,
como todas as outras grandes verdades, pode ser considerada sob os pontos de
vista Absoluto e Relativo. Sob o ponto de vista Absoluto o Universo comparado
com O TODO em si é de natureza duma ilusão, dum sonho, duma fantasmagoria.
Sempre reconhecemo−lo em nossas vistas ordinárias, porque falamos do mundo como
um espetáculo transitório que vai e vem, nasce e morre, por causa do elemento
de impermanência e mudança, limitação e insubstancialidade; idéia esta que está
em relação com a de um Universo criado, ao passo que contrasta com a idéia do
TODO. Filósofos, metafísicos, cientistas e teólogos, todos são concordes sobre
este ponto, que é fundado em todas as formas de idéias filosóficas e
religiosas, assim como nas teorias das respectivas escolas metafísicas e
teológicas.
Assim, as doutrinas herméticas não ensinam
a insubstancialidade do Universo com palavras mais altíssonas do que as que vos
são familiares, mas, apesar disso, o seu modo de encarar o assunto parecerá uma
coisa mais assustadora. Uma coisa que tem um princípio e um fim pode ser
considerada, em certo sentido, como irreal e não verdadeira; e, conforme todas
as escolas de.− pensamento, o Universo está sob esta lei. No ponto Absoluto de
vista, nada há real a não ser o TODO, que não pode ser realmente explicado. Ou
o Universo é criado da Matéria, ou é uma criação mental na Mente do TODO: ele é
insubstancial, não−duradouro, uma coisa de tempo, espaço e mobilidade. É
necessário compreenderdes cabalmente isto, antes de, passardes a examinar as
concepções herméticas sobre a natureza mental do Universo. Examinai cada uma
das outras concepções e vereis que elas não são verdadeiras.
Mas o ponto de vista Absoluto mostra um só
lado do Panorama; o outro lado é o Relativo. A Verdade Absoluta foi definida
como sendo as Coisas como a mente de Deus as conhece, ao passo que a verdade
Relativa são as Coisas como a mais elevada razão do Homem as compreende. Assim,
ao passo que para o Todo o Universo é irreal e ilusório, um simples sonho ou
resultado de meditação; para as mentes finitas que fazem parte deste mesmo
Universo e o observam através das suas faculdades, ele é verdadeiramente real e
assim deve ser considerado. Ao reconhecer o ponto de vista absoluto, não
devemos cometer o erro de negar ou ignorar os fatos e fenômenos do Universo do
modo como estes se apresentam às nossas faculdades: lembremos que não somos o
TODO.
Para dar um exemplo familiar, todos reconhecemos
que a Matéria existe para os nossos sentidos, e estaríamos errados a mente
finita se o não reconhecêssemos. Mas, sempre a nossa mente finita compreende a
afirmação científica que, falando cientificamente, não há nada mais que a
Matéria; aquilo que chamamos Matéria é considerado como sendo simplesmente uma
agregação de átomos, os quais são um grupo de unidades de forças chamadas
elétrons ou íons, que estão em constante vibração e movimento circular. Batemos
numa pedra e sentimos o baque; parece ser uma coisa real, mas é simplesmente o
que dissemos acima. Mas lembramo−nos que o nosso pé, que sente o baque, também
é Matéria, e portanto é constituído de elétrons, porque esta matéria também é
nosso cérebro. E, para melhor dizer, se não fosse por causa da nossa Mente,
absolutamente não poderíamos reconhecer o pé ou a pedra.
Assim, o ideal do artista ou escultor, que
ele tanto esforça para reproduzir na tela ou no mármore, parece verdadeiramente
real para ele. Assim se produzem os caracteres na mente do autor ou dramaturgo,
o qual procura expressá−los de modo que os outros os possam reconhecer. E se
isto é verdade no caso da nossa mente fínita, qual não será o grau de Realidade
nas imagens Mentais criadas na Mente do Infinito? õ amigos, para os mortais
este Universo de Mentalidade é verdadeiramente real; é o único que sempre
podemos conhecer, ainda que subamos de planos a Planos cada vez mais elevados.
Para conhecê−lo de outro modo, pela experiência atual, teríamos de ser o TODO
mesmo. É verdade que quanto mais alto nos elevamos na escada − alcançamos as
proximidades da mente do Pai − as coisas mais visíveis tomam a natureza
ilusória das coisas finitas, Mas antes que o TODO nos retire em si a visão
atual não desaparece.
Assim, não devemos viver acima das formas da
ilusão. Desde que reconhecemos a natureza real do Universo, procuremos
compreender as suas leis mentais e nos esforcemos em empregá−las para obtermos
melhor resultado no nosso progresso através da vida, ao caminharmos de um plano
a outro plano de existência. As Leis do Universo não são as pequenas Leis
Férreas, por causa da sua natureza mental. Tudo, exceto o TODO, é limitado por
elas. Aquilo que está NA MENTE . INFINITA DO TODO é REAL em grau relativo a
esta mesma Realidade que é revestida na natureza do TODO. Não fiquemos, pois,
incertos e atemorizados: somos todos FIRMEMENTE CONTIDOS NA MENTE INFINITA DO
TODO e nada nos pode prejudicar e nos intimidar. Não há força fora do TODO para
agir sobre nós. Podemos, pois, ficar calmos e tranqüilos. Há um mundo de
conforto e tranqüilidade nesta realização depois de atingida. Então
"calmos e tranqüilos repousaremos, embalados no Berço do Abismo";
ficando sem perigo no seio dc. Oceano da Mente Infinita, que é o TODO. NO TODO,
move,remos, viveremos e teremos nossa existência.
Continua...
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